A tecnologia da informação, o computador e a Internet são ferramentas fundamentais. Reduz as distâncias, elimina barreiras geográficas e permitem que um artista plástico, que a rigor poderia estar isolado, numa pequena cidade do sertão cearense, receba encomendas da América do Norte e da Europa.
Nos últimos três anos, a vida profissional do caricaturista e retratista Cláudio Teixeira mudou totalmente. Ele abandonou a velha prancha, cavalete, pincéis e substituiu essas peças por ferramentas modernas, de tecnologia digital. Com este incremento, a clientela mais do que triplicou. Agora, os desenhos não são apenas de personagens locais, mas de gente de terras distantes.
Parece que, cada vez mais, o filósofo e teórico canadense, Marshall McLuhan, estava certo, ao afirmar que o progresso tecnológico iria reduzir o mundo a uma aldeia global. "Tenho clientes em Portugal, Espanha, Estados Unidos e em todo o Brasil", afirma Cláudio Teixeira. "Graças a Deus, as encomendas não param de chegar por e-mail".
Noivos
Cláudio Teixeira especializou-se em caricaturas e retratos. Nos últimos três anos, dedicou-se às caricaturas de noivos. São encomendas para os convites em substituição às tradicionais fotos elegantes. É comum também o uso do desenho em banners que ficam expostos durante a festa e em copos para lembrança dos convidados.
A ideia de produzir caricaturas de noivos veio da esposa, Narcelyanne Teixeira, que viu num site e descobriu que esse tipo de trabalho daria dinheiro. "Não acreditei, mas ela insistiu e deu certo", recorda. "Coloquei a proposta de trabalho na Internet e as encomendas começaram a chegar".
Hoje, Cláudio Teixeira tem contrato com uma empresa especializada em serviços para noivos no Rio de Janeiro e em Recife. Os interessados mandam fotos, um pequeno histórico, além das características pessoais e profissionais. "A partir desses dados surgem as ideias, para contextualizar a caricatura e os trajes", explica. "É um trabalho que tem de agradar os noivos e convidados".
Inicialmente, o artista envia um esboço. Se for aprovado, é feito o pagamento de 50% do orçamento. O restante deverá ser depositado após conclusão do desenho, mas antes de ser enviado pela Internet. Em média, cada trabalho custa R$ 120,00.
Além dos desenhos dos "casais de pombinhos", Cláudio Teixeira recebe encomendas para caricaturas ou retratos de profissionais liberais, empresários e da própria família do caricaturado, geralmente por ocasião de aniversário.
Tecnologia
As caricaturas de Cláudio Teixeira apresentam traços marcantes que definem com perfeição, suavidade e naturalidade características da personalidade. Os clientes encaminham em suas cidades a caricatura digital para uma gráfica que faz a impressão em suporte de papel, vidro ou plástico. O mais comum é o uso em moldura ou portarretrato.
O computador chegou à vida profissional do caricaturista Cláudio Teixeira há 10 anos. Mas, como todo começo, encontrou barreiras e dificuldades. "Fazia o desenho à mão, utilizando pincéis, lápis de cor, óleo e acrílico sobre papel", recorda. "Depois ´escaneava´ o desenho e usava o programa ´photoshop´ para as correções".
O trabalho "escaneado" não permitia grandes ampliações por causa da baixa resolução. Veio a descoberta da mesa digital. A caricatura passou a ser feita com o uso de caneta óptica e o olhar do artista passou a ser direcionado para a tela do computador. Era o fim da folha de papel como suporte linear. "Passei uma semana para me adaptar à tecnologia", contou. "Mas hoje finalizo uma caricatura em quatro horas".
Fique por dentro
Arte da caricatura
"Uma imagem vale mais do que mil palavras". A milenar frase oriental expressa a força da imagem que, às vezes, prevalece sobre a escrita em força emotiva e significação. É o caso da caricatura. Dentre as artes visuais, ela se destaca pela simplicidade e perfeição ao retratar um ângulo, exagerar determinados traços físicos e psicológicos, um aspecto de pura identificação do personagem caricaturado. Caricatura é uma técnica de representação fiel do imaginário coletivo. É a arte de definir um gesto, de perceber um aspecto fisionômico expressivo. A caricatura está recheada de humor, que pode ser sutil ou escrachado. Mas há, sobretudo, no traço do artista, respeito e fidelidade aos acontecimentos. Portanto, caricaturar não é a simples exposição do personagem ao ridículo. É, sobretudo, uma habilidade artística, que consegue evidenciar certas características físicas e até de personalidade. No Brasil, as representações de caricaturas políticas foram iniciadas em 1837. O primeiro nome de referência foi o ítalo-brasileiro Angelo Agostini, um dos mais importantes artistas gráficos do Segundo Reinado. Os homens públicos sempre foram o tema central para os artistas desta técnica, divulgada principalmente em jornais e revistas.
MAIS INFORMAÇÕES
Caricaturista Cláudio Teixeirawww.caricateixeira.blogspot.com
caricateixeira@gmail.com
TALENTO
Quadrinhos são a principal referência do artista
Iguatu. Cláudio Teixeira nasceu em Iguatu, no fim de 1974, um ano de muitas chuvas e cheia do Rio Jaguaribe, que invadiu a cidade. Recebeu o dom, o talento para o desenho e a pintura. "Comecei aos nove anos, fazendo desenhos de super-heróis, que via nas revistas de quadrinhos", relembra. O preferido era o Super Homem, mas outros também ganharam as páginas do caderno escolar.
As folhas de papel ficavam cheias de rabiscos, desenhos que formavam uma sequência, uma historinha sem texto. Dividiam espaço com as anotações didáticas. Mais tarde, veio a inspiração para a caricatura e a charge observando trabalhos de cartunistas como os irmãos Caruso, Glauco (morto recentemente), e de Ique. Lembra que o desenhista ícone de inspiração é o norte-americano Will Eisner criador do "The Spirit".
Tiras de jornais, desenhos em revistas inundaram a mente do menino que não parava de fazer esboços e criar histórias em quadrinhos. Aos poucos, descobriu que levava jeito para o retrato e para a caricatura. Começou retratando o avô, Antônio Teixeira, o contador de histórias, e o pai, o músico Hélio Teixeira.
Cláudio é de uma família de artistas, que tem como principal referência o compositor Humberto Teixeira. "Somos parentes", ri. Ele também herdou o talento do pai para a música, e já tocou cavaquinho, guitarra e violão, em bandas locais. Mas o desenho aos poucos conquistou a preferência do artista.
Um dia recebeu uma proposta para fazer o retrato do então prefeito, Roberto Costa. O trabalho foi aprovado e chamou a atenção das pessoas. Vieram outras encomendas de empresários e políticos locais.
O pai, Hélio Teixeira, fez uma pequena mostra no Café Nice, um barzinho de sua propriedade, que foi fechado. A partir daí, surgiram convites para exposição em colégios por ocasião de semanas culturais, de encontros empresariais e em festivais de humor.
Começava a vida profissional de Cláudio Teixeira. As encomendas de retratos e caricaturas aumentaram. Nessa época, também surgiu a fase de pintura em óleo sobre tela com temáticas variadas, que incluíam imagens sacras, paisagens e natureza morta. "Pintei mais de 100 quadros e vendi todos", recorda. Os quadros ficaram de lado, o músico também deu um tempo, mas permaneceu a sensibilidade, o gosto pela caricatura e pelo retrato.
Honório Barbosa
Repórter