Fábio Campos
UMA MERCADORIA POSTA SOBRE O BALCÃO
Notem que o PSDB, nas declarações públicas do “porta-voz” João Jaime Marinho, o deputado estadual da confiança de Tasso Jereissati, não falou de outra coisa que não fosse a relação da bancada e dos prefeitos tucanos com o Governo. Uma relação que se resolve da forma que se tornou tradicional no Brasil. O comportamento tucano estabelece o balcão e elimina a possibilidade de um debate, digamos, mais nobre. A mercadoria posta sobre o balcão é o apoio do PSDB à reeleição de Cid Gomes. A julgar pelas circunstâncias, um apoio que talvez nem seja determinante. É provável que o mais importante para Cid não seja o apoio tucano nas eleições, mas sim a manutenção do apoio a seu Governo da bancada do PSDB na Assembleia Legislativa. Afinal, bastaria uma rebelião tucana no Legislativo para fazer um respeitável estrago político. Mas, alguém no mercado aposta no rompimento dessa bancada com o Governo? Talvez seja mais fácil a maioria dos deputados do PSDB deixar a sigla do que deixar de apoiar o atual governador.
É DA NATUREZA DOS TUCANOS
A situação dos tucanos não é nada confortável. Possuem um candidato a senador, mas não têm um nome à altura para disputar o Governo do Ceará. Ou seja, no âmbito estadual não possuem o que a crônica política se acostumou a chamar de “expectativa de poder”. Está claro que, se depender das eleições de 2010, não há perspectivas para os tucanos voltarem a se apoderar da caneta do Poder Executivo, essa varinha de condão que faz água do semi-árido se transformar em espumante. Porém, as coisas podem ser menos ruins se o PSDB fizer o sucessor de Lula. Não fazendo, o quadro será ainda mais complicado para os honoráveis tucanos. Sem um presidente da República do partido e sem o governador da sigla, a tendência será diminuir ainda mais de tamanho. Uma aposta: a bancada que o partido eleger em 2010, mesmo que mantenha o tamanho de hoje, será governista e passará bem longe da ideia de ser oposição. Ser governista, como a realidade já comprovou, é um componente da natureza da bancada tucana na Assembleia.
A ARTE DE ENGROSSAR O PESCOÇO
Não custa lembrar. O PSDB não compôs oficialmente a aliança em torno de Cid Gomes nas eleições de 2006. O partido apoiou a reeleição de Lúcio Alcântara mesmo que seu maior líder, Tasso Jereissati, não tenha feito campanha para o então governador. Eleito no primeiro turno, Cid tratou de atrair o PSDB para a sua base. Não foi difícil. Pelo contrário. Para os tucanos, juntou a fome com a vontade de comer. Os deputados estaduais do PSDB concretizaram o desejo de se manter bem perto da caneta. Para Cid, foi uma ótima solução para manter sua tranquilidade política na Assembleia. Tudo muito pragmático. No fim das contas, agregar-se ao Governo permitiu ao PSDB manter, além de sua bancada estadual, a base de prefeitos. Portanto, Cid foi um bom patrono para os tucanos. Agora, o partido faz de conta que pretende engrossar o pescoço. Vamos ver.