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por Luis Fernando Verissimo

[...] aprendendo a praquejar

Na peça “A tempestade” de Shakespeare, Caliban é uma representação do que o selvagem significava para a imaginação europeia, quando se alastravam a exploração dos novos mundos e os encontros, ou choques, com seus habitantes primitivos. Metade gente e metade bicho, Caliban é uma curiosidade, uma ameaça, um estorvo e um desafio à classificação.
Muitos anos depois de Shakespeare, em pleno século dezenove, ainda se discutia na Europa se os selvagens eram humanos e tinham alma. Na peça ele é um servo rebelde e uma manifestação do Mal — quando não é um divertimento para Próspero e os outros. E era assim que ele existia no pensamento europeu: como um estranho, um possível escravo, uma possível fera e um eventual espetáculo. Mas Caliban tinha uma coisa que nenhum outro da sua raça — fosse ela qual fosse — tinha: suas falas eram escritas por Shakespeare.
É do seu autor a frase em que Caliban diz a Próspero que este lhe ensinou a falar como um homem, e que seu lucro nisso foi que aprendeu a praguejar. Substitua-se “praguejar” por protestar, denunciar, reivindicar e temos em Caliban o primeiro contestador de impérios coloniais, o primeiro nativo a falar de igual para igual com o senhor branco, o primeiro a rogar pragas contra a sua situação e a pedir justiça. E a usar o vocabulário do dominador contra ele próprio.
A Europa hoje enfrenta imigrantes que chegam aos borbotões na busca do seu direito a sobreviver, fugindo de ex-colônias deflagradas onde não há futuro. A falta de cadência shakespeariana às suas razões é suprida pela linguagem do desespero, mas o que os move é o mesmo vocabulário que Caliban tomou de Próspero para rejeitar um destino que o condenava a ser sub-humano.
Os “selvagens” aprenderam a praguejar, o que agora significa contrariar a fatalidade de terem nascido no lugar errado, e na forma errada. Se fossem dinheiro, emigrariam para onde quisessem, para onde houvesse oportunidades, em impulsos eletrônicos. Como são gente...

por Luis Fernando Verissimo

Silogismos sujos

 Silogismo, nos diz o dicionário, é uma dedução pela qual duas premissas levam a uma terceira, ou a uma conclusão lógica. Por exemplo: todo homem é mortal, eu sou homem, logo tchau.

O dicionário enumera vários tipos de silogismos, mas não inclui o que se pode chamar de silogismo aético — ou a dedução lógica que leva a uma conclusão imoral, ou pervertida. Exemplo: se não fosse a influência da cultura negra a civilização ocidental seria muito mais sem graça — para não falar em sem ritmo e sem colorido — do que é, logo foi bom existirem a escravatura e a diáspora forçada de negros da África.
Outro exemplo, ainda pior: é inimaginável a cultura americana sem a contribuição de intelectuais e artistas judeus expulsos da Europa pelo fascismo, foram os nazistas que os expulsaram, logo o fascismo não foi tão ruim assim.
(Ninguém faz esse tipo de dedução a sério mas há algo de silogismo sujo na defesa que se ouve de governos fortes, ou da ordem como a principal virtude de uma sociedade, mesmo com o sacrifício de direitos e liberdades. Há um silogismo sujo à espreita sempre que se procura justificar os excessos de um regime repressivo com supostas realizações do regime, em repetidas tentativas de reescrever ou absolver o passado. Como no Brasil.)
A diáspora africana nos deu o samba, o jazz e todos os ritmos caribenhos, certo. O fascismo, o comunismo e outros ismos persecutórios mandaram grandes cabeças e talentos para as Américas. Basta lembrar o caso dos Estados Unidos, onde gente como Saul Steinberg, Billy Wilder e Vladimir Nabokov, para citar poucos, não teria tido a experiência do exílio e da realização artística no desterro se não tivesse que fugir de Hitler, de Mussolini e dos bolcheviques.
Mas, em vez da racionalização amoral de um silogismo sujo para conter esse paradoxo, deve-se pensar nele como efeito colateral da grande desarrumação da História. A História é explosiva, as explosões acabam com qualquer ideia de lógica ou simetria, logo vá entender.

por Luis Fernando Verissimo

Diálogo urbano, no meio de um engarrafamento. Carro a carro.
- É nisso que deu, 8 anos de governo Lula. Este caos. Todo o mundo com carro, e todos os carros na rua ao mesmo tempo. Não tem mais hora de pique, agora é pique o dia inteiro. Foram criar a tal nova classe média e o resultado está aí: ninguém consegue mais se mexer. E não é só o trânsito. As lojas estão cheias. Há filas para comprar em toda parte. E vá tentar viajar de avião. Até para o exterior - tudo lotado. Um inferno. Será que não previram isto? Será que ninguém se deu conta dos efeitos que uma distribuição de renda irresponsável teria sobre a população e a economia? Que botar dinheiro na mão das pessoas só criaria esta confusão? Razão tinha quem dizia que um governo do PT seria um desastre, que era melhor emigrar. Quem pode viver em meio a uma euforia assim? E o pior: a nova classe média não sabe consumir. Não está acostumada a comprar certas coisas. Já vi gente apertando secador de cabelo e lepitopi como e fosse manga na feira. É constrangedor. E as ruas estão cheias de motoristas novatos com seu primeiro carro, com acesso ao seu primeiro acelerador e ao seu primeiro delírio de velocidade. O perigo só não é maior porque o trânsito não anda. É por isso que eu sou contra o Lula, contra o que ele e o PT fizeram com este país. Viver no Brasil ficou insuportável.
- A nova classe média nos descaracterizou?
- Exatamente. Nós não éramos assim. Nós nunca fomos assim. Lula acabou com o que tínhamos de mais nosso, que era a pirâmide social. Uma coisa antiga, sólida, estruturada...
- Buuu para o Lula, então?
- Buuu para o Lula!
- E buuu para o Fernando Henrique?
- Buuu para o... Como, "buuu para o Fernando Henrique"?!
- Não é o que estão dizendo? Que tudo que está aí começou com o Fernando Henrique? Que só o que o Lula fez foi continuar o que já tinha sido começado? Que o governo Lula foi irrelevante?
- Sim. Não. Quer dizer...
- Se você concorda que o governo Lula foi apenas o governo Fernando Henrique de barba, está dizendo que o verdadeiro culpado do caos é o Fernando Henrique.
- Claro que não. Se o responsável fosse o Fernando Henrique eu não chamaria de caos, nem seria contra.
- Por quê?
- Porque um é um e o outro é outro, e eu prefiro o outro.
- Então você não acha que Lula foi irrelevante e só continuou o que o Fernando Henrique começou, como dizem os que defendem o Fernando Henrique?
- Acho, mas...
Nesse momento o trânsito começou a andar e o diálogo acabou.

Casamento

DESABAFO DE UM BOM MARIDO 

Minha esposa e eu sempre andamos de mãos dadas. Se eu soltar, ela vai às compras. 

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Ela tem um liquidificador elétrico, uma torradeira elétrica, e uma máquina de fazer pão elétrica. 
Então ela disse: 'Nós temos muitos aparelhos, mas não temos lugar pra sentar'. 
Daí comprei pra ela uma cadeira elétrica. 
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Eu me casei com a 'Sra. Certa'. Só não sabia que o primeiro nome dela era 'Sempre'.. 
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Já faz 18 meses que não falo com minha esposa. É que não gosto de interrompê-la. 
Mas tenho que admitir, a nossa última briga foi culpa minha. 
Ela perguntou: 'O que tem na TV?' E eu disse 'Poeira'. 
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No começo Deus criou o mundo e descansou. 
Então, Ele criou o homem e descansou. 
Depois, criou a mulher. Desde então, nem Deus, nem o homem, nem o Mundo tiveram mais descanso. 
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Quando o nosso cortador de grama quebrou, minha mulher ficava sempre me dando a entender que eu deveria consertá-lo. Mas eu sempre acabava tendo outra coisa para cuidar antes, o caminhão, o carro, a pesca, sempre alguma coisa mais importante para mim.. Finalmente ela pensou num jeito esperto de me convencer.. 
Certo dia, ao chegar em casa, encontrei-a sentada na grama alta, ocupada em podá-la com uma tesourinha de costura. Eu olhei em silêncio por um tempo, me emocionei bastante e depois entrei em casa. 
Em alguns minutos eu voltei com uma escova de dente e lhe entreguei.. 
'- Quando você terminar de cortar a grama,' eu disse, 'você pode também varrer a calçada.' 
Depois disso não me lembro de mais nada. Os médicos dizem que eu voltarei a andar, mas mancarei pelo resto da vida'. 
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'O casamento é uma relação entre duas pessoas na qual uma está sempre certa e a outra é o marido...
Luís Fernando Veríssimo

por Luis Fernando Verissimo

Os porteiros

Os porteiros de cinema da minha adolescência foram os últimos exemplos de intransigência moral da nossa história. “Proibido até 18 anos”, sinal de que no filme — invariavelmente francês ou italiano — aparecia um seio nu, com sorte até dois, era proibido até 18 e não tinha conversa. Menores de 18 anos não podiam ver um seio nu na tela, sob pena de se costumarem e saírem a reivindicar seios nus na vida real.

Entre os 13 anos, quando tive minha primeira experiência sexual digna desse nome — com começo, meio, fim e, acima de tudo, parceira —, e os 18, vi exatamente 23 seios nus, contabilizados aí dez pares completos e três avulsos vistos fortuitamente (decote descuidado, etc.) que registrei como brindes.
Eram seios reais, vivos e palpitantes, não impressos, pintados, esculpidos, projetados numa tela ou sonhados. Desses 23 devo ter tocado nuns 14 (preciso consultar minhas anotações). Mas não adiantaria usar esta argumentação com o porteiro do cinema. Sustentar que os seios da Martinne Carol não teriam nada de novo para me dizer, pois não podiam ser tão diferentes assim dos da Ivani, não colaria.
Com menos de 18 anos não entrava e pronto. Pela lei, eu não tinha idade para ver seios. Se tivesse visto algum por minha conta, não era responsabilidade do porteiro.
Já porteiro de baile era mais, por assim dizer, conversável. O truque para convencê-lo a deixar você entrar no salão do clube sem convite era escolher um argumento — por exemplo “preciso entrar e dizer pra minha irmã que nossa mãe foi pro hospital” — e insistir, insistir sempre.
Oferecer propina não adiantava e, mesmo, quem tinha dinheiro?
Uma boa história podia despertar compaixão, ou pelo menos admiração pelo seu valor literário, no porteiro. Ou então o porteiro simplesmente cedia para livrar-se da insistência do postulante. “Entra, vai.”
Existia, no meu tempo de ir a bailes, um conversador de porteiro legendário. Especialista em entrar sem pagar ou sem convite que encarava cada porteiro como um desafio à sua criatividade e poder de persuasão, e que raramente falhava. Mas às vezes encontrava um porteiro que já o conhecia de outras tentativas. Certa vez ocorreu o seguinte diálogo:
— Você de novo?
— Desta vez é sério. Eu preciso entrar.
— Não.
— É uma questão de vida ou morte.
— Não.
— Minha namorada está aí dentro. Meu maior rival, um canalha, está aí dentro. Os dois podem estar dançando juntos neste momento. Tive uma briga com a namorada e preciso dizer pra ela que me arrependo. Que podemos voltar ao que era antes. Que ela não caia na conversa do canalha.
— Fale com ela amanhã.
— Não posso. Estou com uma doença terminal. Talvez não passe desta noite. Me deixa entrar?
— Não.
— Mas eu...
— Não.
— Está bem. Tome.
E tirou do bolso um convite, que deu para o porteiro. Tinha convite, mas entrar em baile sem precisar conversar o porteiro era contra os seus princípios.

Literatura

Êxtase

 Ele falou que sempre que via um pôr de sol bonito como aquele sentia que não era para ele. Não sabia explicar. Era como se o pôr de sol fosse para outros e ele estivesse vendo clandestinamente, sem autorização, espiando o que não lhe dizia respeito. Sentia-se, assim, um penetra no espetáculo dos outros.

Ela não entendeu. Você acha que não merece, é isso? Que é bonito demais para você? Que você não tem direito a um pôr de sol dessa magnitude? Que o sol deveria se pôr com mais discrição para pessoas como você, que cada pôr de sol deveria ter uma versão condensada, menos espetacular, para os imerecedores da Terra, é isso?
Não, não, disse ele. Eu mereço. Não é uma questão de humildade. É uma questão de... E deu outro exemplo. Sorvete de doce de leite. Sempre que comia sorvete de doce de leite tinha a mesma sensação de clandestinidade. Aquela doçura, aquele prazer, não podia estar assim disponível para todos como, como... como um pôr de sol!
Era preciso haver uma hierarquia no direito às coisas magníficas, senão nenhuma escala de valores na vida tinha sentido. Se qualquer um podia comer um sorvete de doce de leite quando quisesse, que sensação sobraria para as grandes epifanias, para o êxtase das grandes revelações?
Comer um sorvete de doce de leite nivelava toda a experiencia humana, diante de um Michelangelo ou de uma chuva de estrelas a sensação seria a mesma. Lera em algum lugar que os fabricantes de sorvete de doce de leite tinham hesitado muito antes de lançar o produto no mercado. A preocupação deles era outra: temiam a corrupção irrecuperável da humanidade. Depois de provar sorvete de doce de leite, as pessoas poderiam se ver fragilizadas, indefesas diante da autoindulgência e da lubricidade, ou perdidas pela culpa. Tinham até pensado em vender o sorvete com um aviso, como os cigarros. "Atenção: pode causar dependência e ruína moral."
Ele não defendia uma aristocracia com acesso exclusivo ao bom e ao bonito. Só achava que ver um pôr de sol fantástico comendo sorvete de doce de leite deveria ser, assim, como se você fosse um dos escolhidos do mundo, com o crachá correspondente. Licença para se extasiar.
E então ele deu outro exemplo: você aqui na minha frente, com as cores do pôr do sol refletidas no seu rosto. Uma exclusividade minha, um privilégio dos meus olhos, uma injustiça para todos os homens do planeta que estão olhando outra coisa. E ela falou: "Não exagera, vai."
Nunca a palavra "perda" para descrever uma morte foi tão apropriada
Com a morte do Reali Jr.o jornalismo brasileiro perdeu uma das suas grandes figuras e a perda para seus muitos amigos é indescritivelmente dolorosa.

por Luis Fernando Verissimo

‘For chayote’

Há tempos o Millôr se divertiu especulando sobre como seria a versão para o inglês de alguns ditos nacionais, como "a vaca foi para o brejo".

Fez até um livro, cujo título era justamente "The cow went to the swamp". Não me lembro se ele incluiu a expressão "pra chuchu" — como em "O Eike tem dinheiro pra chuchu" — na lista. Qual seria a sua tradução? Fui procurar chuchu no meu português-inglês e dei com "chayote". Chayote?!
Pode ser, mas a palavra não existe em dicionários só de inglês, pelo menos nos que eu tenho à mão.
Consultas a pessoas que poderiam me ajudar não ajudaram muito. As respostas iam de "o chuchu só existe no Brasil" a "chuchu é tão sem graça que ninguém mais no mundo se incomodou em lhe dar um nome, só nós, por piedade".
Apareceu "chou-chou" do francês antilhano, mas sem especificar se era o nome do legume ou de alguma safadeza. Na falta de alternativas, portanto: "Eike has money for chayote."
De onde vem a expressão "pra chuchu" significando "muito", afinal?
O significado da vaca atolada no brejo é pelo menos deduzível, se não é perfeitamente claro.
"Pra daná" e "pra burro" também querendo dizer "muito", com um pouco de boa vontade, fazem sentido. Mas "pra chuchu"?
Nem todo o mundo concorda que o chuchu não tem gosto de nada e parece um sólido fazendo força para não se transformar em água, sua verdadeira vocação. Há quem faça o elogio do suflê de chuchu, e rapsódias em defesa do ensopadinho de chuchu com camarão. Mas suflê de qualquer coisas acaba sendo bom e a única virtude discernível do chuchu no ensopado é a caridade, pois ele só está ali para fazer companhia aos camarões.
Curiosamente, se chuchu é um símbolo do insosso e do imprestável, seu diminutivo, "chuchuzinho" — "little chayote" —, é um termo amoroso, para descrever uma mulher apetitosa. Vá entender.
FOBIAS
Por falar em curiosidade. Quando o deputado Jair Bolsonaro, tempos atrás, lamentou publicamente que a ditadura não tivesse matado o então presidente Fernando Henrique Cardoso quando teve a oportunidade, a reação não foi a metade da causada pelas suas recentes declarações racistas e homofóbicas.
Fobias por fobias, a FHCfobia extrema pareceu só um destempero enquanto as manifestadas agora chocaram todo o mundo. Mas o Bolsonaro é o mesmo, com o mesmo cargo. Talvez, antes, só não se tivesse prestado atenção 

por Luis Fernando Verissimo

Aquela aurora

Em São Paulo acabam de fundar um partido que se declara nem de esquerda, nem de direita nem de centro. Um partido de nada, a favor de tudo, ou exclusivamente a favor de si mesmo.

Tudo bem. "Esquerda" e "direita" são termos obsoletos e "centro" hoje é sinônimo de PMDB, ou de uma nevoa ideológica.
O novo partido paulista não vem preencher um vácuo, vem institucionalizar o vácuo. Seu nome evoca o passado, quando o Getúlio, para não dizerem que o Brasil não era uma democracia, inventou dois partidos opostos, o PTB e o PSD. Justiça seja feita: o novo partido surge representando nada, mas com saudade de um tempo em que as siglas, mesmo falsas, significavam alguma coisa.
Bom mesmo era o século 19, quando tudo isso começou. Como no texto do Paulo Mendes Campos que fala das primeiras do Gênese, com "o mundo ainda úmido da criação", se poderia descrever com o mesmo encanto aquele outro inicio. Quando a História, por assim dizer, entrou na história e tudo recebia seus nomes verdadeiros. Uma segunda Criação. Hegel ainda quente, Marx lançando suas ideias explosivas como granadas, o passado e o futuro sendo redefinidos com rigor científico e a modernidade tecnológica e a modernidade social (ou, simplificando, a máquina a vapor e a nova consciência proletária) prestes a se fundir para transformar o mundo. "Bliss it was in that dawn to be alive", êxtase era estar vivo naquela aurora, escreveu o poeta Wordsworth sobre a Revolução Francesa.
A esquerda poderia dizer o mesmo do século 19. Naquela aurora não havia dúvida sobre a inevitabilidade histórica do socialismo.
Mas êxtase também espera a direita numa volta idílica ao século 19. Foi o século de reação à Revolução, da restauração conservadora na Europa depois do terremoto republicano e do nascente capitalismo industrial sem remorso. Os que hoje propõem a "flexibilização" dos direitos dos trabalhadores conquistados em anos de luta (como os que os ingleses defendiam nas ruas de Londres, há dias) babariam com o que veriam no velho século: homens, mulheres e crianças trabalhando 15 horas por dia, sem qualquer amparo, e sem qualquer encargo legal ou moral, fora os magros salários, para seus empregadores. A perfeição. Antes que a pregação socialista a estragasse.
Século 19, terra de sonhos. Tanto para a esquerda quanto para a direita, antes que tudo virasse um mingau só. 

por Luis Fernando Verissimo

A última

Um lugar ao sol" é um filme dirigido por George Stevens, baseado num romance de Theodore Dreiser chamado "Uma tragédia americana".

Jovem pobre (Montgomery Clift) recebe proposta de tio rico para trabalhar na sua empresa, começando por baixo. No trabalho ele conhece moça pobre (Shelley Winters) e os dois iniciam um namoro.
Convidado para uma festa na casa do tio rico o moço se sente deslocado entre os grã-finos, sem ter com quem falar. Até que atrai a atenção de outra convidada na festa, que se aproxima dele. E então a Elizabeth Taylor entra na sua vida.
O filme de Stevens, lançado em 1951, é em preto e branco. Não destaca os pontos mais comentados da beleza da atriz, então com seus 20 anos se não me falha a matemática: os faiscantes olhos violetas. Mas não há outro caso — com exceção, talvez, da primeira visão de Rita Hayworth em "Gilda" — de uma entrada em cena como a dela, na história do cinema.
No momento em que a vê, o pobre moço está perdido. Literalmente, pois a história deles começará como romance — e raramente o cinema foi tão romântico como na descrição do amor dos dois, que incluirá um longo beijo filmado por Stevens como uma espécie de suma da paixão arrebatadora, e isso que beijo de língua era desconhecido na época — e terminará em tragédia, com a execução do personagem de Clift, por assassinato.
Pois quando tudo parece encaminhá-lo para um mundo perfeito, o casamento com uma menina rica que, além de tudo, é a Elizabeth Taylor, a Shelley Winters lhe diz que está grávida e que ele precisa casar com ela. E ele a mata. No livro de Dreiser, mata mesmo. No filme fica a dúvida: talvez tenha sido um acidente. Mas ele é executado.
Outra diferença entre o livro e o filme é que este atenua a critica social do livro.
Dreiser escreveu sobre a desigualdade e a angústia da ascensão social como causas da tragédia americana. No filme, sensatamente, a ameaça de perder uma mulher como Elizabeth Taylor basta como motivação para o crime. Pois de Elizabeth Taylor se pode dizer que foi a ultima beleza de Hollywood que justificaria qualquer coisa. 

por Luis Fernando Verissimo

O ubíquo Mr. Summers

Ubíquo. Adj. Que está em toda parte.” Exemplo: Lawrence Summers. Mr. Summers conseguiu até ser personagem de dois dos filmes que concorreram ao Oscar, este ano. Num, “Rede social”, ele aparecia como presidente da Universidade de Harvard, interpretado por um ator. Ou era ele mesmo? Não duvido. No outro, “Trabalho interno”, ele era um membro da gangue responsável pela desregulamentação do sistema financeiro e pelos favores a Wall Street que deram nos escândalos dos derivativos e das hipotecas podres, e na crise das finanças internacionais. Neste, era certamente ele mesmo. Acho que não há outro caso na história dos Oscars de uma coincidência parecida de vilões.

No filme “Rede social”, se me lembro bem, Summers dá alguns conselhos cínicos aos estudantes que se queixam da apropriação de suas ideias por outros alunos, dizendo que o roubo de ideias é apenas uma prova do espírito empreen$cultivado em Harvard. No documentário “Trabalho interno” ele é um dos principais exemplos da culpa de economistas e conselheiros econômicos na meleca toda.
Quando era secretário do Tesouro do governo Clinton, Summers escreveu um memorando que ficou famoso, recomendando que indústrias poluidoras fossem transferidas para países subdesenvolvidos, onde os trabalhadores eram pobres e portanto o custo social seria menor. Citava a África como uma área sub-habitada e, na opinião dele, subpoluída. Summers depois disse que o memorando era uma brincadeira. Também alegou ter sido mal entendido quando num discurso, já como presidente da Harvard, atribuiu a falta de nomes femininos de destaque nas pesquisas científicas a uma inferioridade mental da mulher. Foi uma das razões para correrem com ele da universidade.
Apesar dos maus conselhos e das gafes, Summers não perdeu seu prestígio. E, depois de ser um símbolo da política econômica comprometida com os vigaristas de Wall Street, tornou-se um símbolo, mais triste, de desilusão com o Barack Obama, que durante a campanha tinha prometido acabar com a farra dos bancos desregulados e a submissão dos políticos aos interesses dos “gatos gordos” do sistema financeiro, e quando tomou posse convidou para liderar a sua equipe econômica — Larry Summers!
Summers não está mais com o Obama. Mas depois da decepção inicial o Baraca não recuperou as esperanças despertadas com sua retórica eleitoral e hoje é atacado pela esquerda, como um enganador, tanto quanto pela direita, que o chama de demônio socialista e coisa pior. As esperanças da esquerda — que incluíam a retirada imediata do Iraque e do Afeganistão, além de um plano de saúde social revolucionário e ferro em Wall Street — eram irrealistas. Obama é apenas humano. Mas o convite ao ubíquo Mr. Summers, depois de tudo que se sabia dele, foi um pouco demais. 

por Luis Fernando Verissimo

Tétrico trio

Você imaginaria que uma nação traumatizada por dois ataques atômicos que mataram e mutilaram milhares dos seus cidadãos seria a última a recorrer a usinas nucleares para sua energia. Mas o Japão é um dos países (outro é a França) que aderiram com mais entusiasmo à tecnologia nuclear, desmentindo a velha máxima do gato escaldado e da água fria.

Agora Fukushima, onde ainda não sabem se haverá uma grande tragédia ou apenas um grande susto, poderá se juntar a Hiroshima e Nagasaki num tétrico trio de lugares destruídos, com a diferença que em Hiroshima e Nagasaki a destruição veio do alto e no caso de Fukushima viria do chão e do mar, com o movimento das placas tectônicas substituindo os bombardeiros americanos e a fúria da Natureza substituindo a fúria da guerra.
Os japoneses alegam que o país não tem alternativas viáveis para produzir a energia de que necessita e que suas centrais nucleares são construídas para resistir aos previsíveis terremotos, mas também já surgiram denúncias de falsificações de relatórios de segurança e outras falcatruas na administração das usinas, inclusive a de Fukushima. O que só prova que a estupidez humana é a mesma, seja pilotando um B-29 ou maquiando a ameaça do envenenamento por acidente de uma população.
O NOME
Ajudaria a compreender melhor os acontecimentos no Oriente Médio se pelo menos a imprensa brasileira chegasse a um acordo sobre a grafia correta do nome do homem oscilante, mas ainda forte, da Líbia. Afinal, é Kadafi, Kadaffi, Kaddafi, Gadafi, Gadaffi, Gaddafi, Qaddafi, Qadaffi, Qadafi ou o quê?
Quanto ao seu primeiro nome, Muammar, parece não haver duvida, se bem que haveria uma corrente propensa a eliminar um dos "emes" para não complicar a coisa, ou complicá-la ainda mais.
Mas e o sobrenome? O da carteirinha do clube, o do CPF? Algum repórter mais empreendedor poderia tentar acessar a certidão de nascimento do, do, enfim, do cara, ou, se conseguisse se aproximar dele, perguntar como ele se chama e pedir "Soletra!". Fora isso, proponho uma reunião dos jornais para padronizar o uso do nome do ditador, sob pena de a situação ficar insustentável, levando à discórdia entre editores e revisores e à perplexidade entre leitores.
Se não se chegar a uma grafia comum do nome se poderia adotar outro, de comum acordo. Como, por exemplo, sei lá. Souza.
A ROSA
(Da série "Poesia numa hora destas?!")
Pétalas cobrindo pétalas
corredores secretos
circundando um vão...
A rosa não é uma flor,
a rosa é uma conspiração! 

por Fernando Verissimo

Risando

Minha neta já está com um vocabulário de tribuno, mas às vezes precisa improvisar. No outro dia me contou que tinha visto uma coisa engraçada na rua e disse:
— Eu risei!

Não deixava de haver lógica no erro. Quem dá risada, risa.
Você pode até argumentar — se for um avô de fé — que rir e risar não são a mesma coisa. Nossa lexicografa precoce pode muito bem ter inaugurado um novo verbo, de grande utilidade na distinção entre dois tipos de reação. Pois não se ri e se risa das mesmas coisas.

Há o que é para rir e há o que é para risar. Rir pode ser um reflexo nervoso causado por alguém (o Kaddafi) ou a alguma coisa (a política brasileira), risar pode ser pura expressão de prazer.
Você ri com ironia, ri com desdém ou ri para não chorar, mas risa com gosto, risa do que lhe diverte ou agrada. As razões para rir se multiplicam, as razões para risar escasseiam. Mas espero que minha neta só encontre razões para risar na sua vida.

Motivos para rir de nervoso não faltam no Norte da Africa e no Oriente Médio, onde se está agora em compasso de espera, um termo militar (ou carnavalesco?) que significa “E agora?”.  Marchar para que lado, depois que os ditadores foram derrubados ou estremecidos?

A melhor hipótese é que a revolta tenha sido mesmo modernizadora e não caia nas mãos do radicalismo islâmico. A pior hipótese é que tudo se radicalize, desde o uso do petróleo como arma política até o endurecimento contra Israel, com a contra radicalização de Israel. O que houve por lá foi uma revolução que ainda não se entendeu bem. Enquanto isto, segue o compasso de espera.

Entre os já derrubados e os estremecidos, Kadaffi é o que mais se aproxima da imagem clássica do déspota levantino criada pelo imaginário imperialista, metade sinistro e metade bufão. Sua vaidade e suas poses sintetizam, como caricatura, o tipo — mas no evidente prazer com que veste seus trajes militares e cerimoniais Kadaffi evoca outra figura estranha, o pseudo-árabe inglês T. E. Lawrence, que também gostava de se ver no espelho.

E Lawrence evoca todo aquele período em que o imperialismo europeu desenhava o mapa da região, inventava países e criava reis, e pensava ter estabelecido a paz para sempre.

Adeus 2010

 PERSONALIDADE DO ANO — Paul, o polvo alemão que previu todos os resultados da Copa.

TROFÉU "VAMOS VER NO QUE VAI DAR" DO ANO — Empate: Dilma Rousseff e Tiririca.

LÁZAROS DO ANO (OU "EU TAMBÉM ESTOU LOUCA DE SAUDADE, QUERIDO, MAS ANTES VÁ TIRAR ESSA ROUPA E TOMAR UM BANHO") — Os mineiros soterrados do Chile.

TROFÉU "OVO NO FIOFÓ DA GALINHA" DO ANO — A discussão sobre o que fazer com os royalties do pré-sal antes que uma gota do petróleo tenha sido extraída.

ANTICLÍMACES DO ANO — A revelação de que o que diplomatas dizem e fazem em segredo não se parece nada com o que eles dizem e fazem em público e a revelação de que o Ricky Martin é gay.

FILME DO ANO — A tomada do Complexo do Alemão.

ARGENTINOS DO ANO — Messi, Conca e Cristina Kirchner, que também concorreu ao prêmio de Melhor Viúva.

MARADONA DO ANO — Maradona.

MELHOR JOGO QUE NÃO HOUVE DO ANO — Inter de Porto Alegre x Inter de Milão.

"OLÉ" DO ANO — Espanha campeã do mundo.
 
 "O QUÊ?!" DO ANO — O Papa admite o uso de camisinha em ocasiões especiais.
 
FIGURA EMBLEMÁTICA DO ANO, TALVEZ DO SÉCULO — Lady Gaga.

E QUANDO VOCÊ PENSAVA QUE O ANO TERMINARIA SEM QUE A JUSTIÇA BRASILEIRA FIZESSE MAIS UMA DAS SUAS... — Ficha limpa para o Maluf.

INÊS
(Da série "Poesia numa hora destas?!")
Ela tinha as unhas do pé
pintadas de dourado
— eu deveria ter me flagrado.
Ela tinha uma flor de Lys tatuada
nas costas apontando para o rego
— pra onde iria meu sossego?
Ela gostava da Camille Paglia
e de esportes radicais
— como eu não vi os sinais?
Agora é tarde, Inês está aí
e eu é que morri.
L3R ? 3NT40 CL1K4 N0 4NÚNC10 QU3 T3 1NT3R3SS4 ! 4GR4D3Ç0 !

Categoria

O marido chega em casa as 18:00h e diz a mulher que teria uma reunião às 22:00hs, mas que ele não iria pois considerava isto um absurdo. Mas a mulher, preocupada com o marido, o convence que o trabalho é importante. 


O maridão esperto então vai tomar um banho para se preparar e pensa:
"Foi mais fácil do que eu pensava!" 

Como toda mulher, quando o homem entra no banho ela revista o bolso do seu paletó e encontra um bilhete onde estava escrito: 
"Amor,estou esperando por você para comermos um pato ao molho branco. Beijão, Sheila". 
Quando o marido sai do banho encontra sua mulher com uma camisolinha transparente, sem calcinha, toda fogosa deitada de bruços. 


O marido, ao ver aquela bundinha sob a transparência não resiste e cai matando. A 

mulher lhe dá um trato completo e ele, exausto, vira pro lado e adormece. 
Quando vai chegando a hora, a mulher acorda o marido, que não quer mais ir a reunião, mas novamente ela o convence da importância do trabalho. 
Ao chegar na casa da amante, o cara está arrasado. 


Cansado diz a ela que hoje trabalhou muito e que só iria tomar um banho e descansar um pouco. 

Como toda mulher, ao entrar no banho ela revista o bolso de seu paletó, e encontra um bilhete onde estava escrito: 
"Querida Sheila, o pato foi, mas o molho branco ficou todo aqui. Beijão, a Esposa." 
Luis Fernando Verissimo
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Leis e Normas


 A tal lei que proíbe avacalhar candidatos em época de eleição e que provocou uma manifestação de humoristas no domingo passado no Rio existe desde 1997. Quer dizer, é um exemplo daquelas leis brasileiras que, como vacina ou mudinha, pegam ou não pegam. Esta não pegou, tanto que não me lembro de vê-la discutida assim em outras eleições.
Isto não significa que ela não deva ser execrada e o seu autor sofrer um ataque de cócegas sempre que aparecer em público, para aprender. Significa que a punição por avacalhar candidatos não deve preocupar muito, nem humoristas nem ninguém. Inclusive porque será difícil caracterizar o crime.
— Pô, cara. A gozação que fizeram com você na TV, ontem, passou dos limites. Apareceu um imitador com a sua cara, dizendo uma porção de bobagens... Eu, se fosse você, processava.
— Não era imitação, era eu!
— Desculpe.
Uma questão maior é a dos limites da opinião, avacalhadora ou não, de quem tem o privilégio de um espaço na imprensa. Limites que independem da lei pegar ou não pegar porque fazem parte das nossas normas, e das nossas hipocrisias, jornalísticas.
Na Europa e nos Estados Unidos é comum colunistas abrirem o seu voto e os próprios jornais declararem suas preferências eleitorais. No começo de cada campanha presidencial americana, por exemplo, o "New York Times" anuncia para quem vai torcer — o que não é um anúncio de que vai destorcer a favor do escolhido.
Aqui a norma é da objetividade, mesmo fingida. Sempre achei estranho que um cronista de jornal, que é pago para ser subjetivo ao máximo, se veja obrigado a sonegar seu gosto político, que deveria ser tão naturalmente exposto quanto seu gosto em filmes, livros, mulheres e pastéis. Já outros sustentam que o voto aberto do cronista é um abuso do poder da imprensa. É uma discussão antiga, essa com a dona norma.
"Avacalhar", se não me falha o etimológico, vem de vaca mesmo. Reduzir alguém a vaca — pobre vaca, esse símbolo de resignação fatalista, sem falha de caráter conhecida — é desmoralizá-lo.
O mais triste é que não funciona. Historicamente, nem os mais avacalhados dos nossos políticos sofreram, politicamente, com a avacalhação. Temos uma cultura política à prova do ridículo. O que, claro, só torna a tal lei ainda mais ridícula.
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Um gosto pela ironia

 História é uma velha senhora com um gosto às vezes cruel pela ironia.Por exemplo.O populismo de direita cresce na Europa Central, ou nos antigos satélites da União Soviética, em parte porque lá não houve nada parecido com a revolução cultural que sacudiu o conservadorismo político e social dos anos 50 na Europa Ocidental. E não houve nada parecido com 1968 na Europa Central porque os tanques soviéticos não deixaram.

O resultado da intervenção soviética, principalmente na Hungria e na Tchecoslováquia, foi que o modelo dominante de revolta para os jovens ficou sendo o nacionalismo à antiga, pré-Segunda Guerra Mundial, e não o modelo libertário do pós-guerra na França e em outros países. Portanto, nas origens do fascismo que volta na Europa Central com todos os seus maus costumes — antissemitismo, perseguição a ciganos e outras minorias etc. —, está o mesmo exército que resistiu heroicamente à máquina de guerra nazista e ajudou a derrotá-la.
Os milhões de russos mortos na luta contra o fascismo não estão achando muita graça.
Outra da História: a reforma agrária no Japão, que desmantelou uma estrutura feudal de séculos e serviu de exemplo para outras reformas parecidas, não foi obra de nenhuma esquerda, mas do general americano que mais se assemelhava a um senhor feudal, Douglas McArthur, imperador de fato do Japão durante a ocupação depois da Segunda Guerra.
Outra: se o capitalismo praticado na Alemanha atual e seus arredores econômicos — leia-se a União Europeia — é mais democrático do que o americano, com maior participação de empregados no controle de empresas, isto também se deve à derrota do fascismo e a questões geopolíticas decorrentes da Segundona.
Ainda vivemos todos num post-scriptum de 1945. Assim como McArthur quis acabar com o poder de uma aristocracia que instigava os sonhos imperiais do Japão, os americanos encorajaram os alemães a desenvolver um mercado socialmente responsável, distributivista, se é que existe a palavra, completamente diferente do seu próprio complexo industrial-militar, para descentralizar a economia e impedir a volta do poder a grandes industrialistas como os que tinham apoiado Hitler.
Aquela frase sobre escrever direito por linhas tortas, ou escrever torto por linhas bem intencionadas, diz respeito a Deus, mas também se aplica à História. No fim, são dois gaiatos.
Luis Fernando Verissimo
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