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Josias de Souza - Sarney durou tanto que se tornou "inaposentável"

"Inaposentável" é nada para Sarney. Não é que ele morreu durante os desgovernos de FHC e ressuscitou 8 anos depois, em 2002, quando Lula foi eleito?...

Esse jorna-lista é jênial!...

Confiram o milagre abaixo:

Há José Sarney e existe “José Sarney”. Há o personagem e existe tudo o que está implícito quando se diz “Sarney”, como em “Sarney apoiou Lula e apoia Dilma” ou “Sarney não gostou da última reforma ministerial”. Em cena há quase seis décadas, “Sarney” é uma entidade além da biografia. Virou coletivo. Imagina-se majestático. Mas é pejorativo.
Quando Sarney, aos 34 anos, ainda sem aspas, assumiu o governo maranhense, sua posse foi documentada no filme Maranhão 66, de Glauber Rocha e Fernando Duarte. Ele discursou em praça pública, diante de uma multidão que, eufórica, recepcionara-o com um coro glorificador: Sarney!, Sarney!, Sarney!, Sarney!
“O Maranhão não suportava mais nem queria o contraste de suas terras férteis, de seus vales úmidos, de seus babaçuais ondulantes, de suas fabulosas riquezas potenciais com a miséria, com a angústia, com a fome, com o desespero”, enumerou o novo governador.
“O Maranhão não quer a desonestidade no governo, a corrupção nas rapartições… O Maranhão não quer a violência como instrumento de política, para banir direitos os mais sagrados… O Maranhão não quer a miséria, a fome e o analfabetismo, as mais altas taxas de mortalidade infantil.”
Corta para 2014, dia 23 de junho, uma segunda-feira. Aos 84 anos, já adornado pelas aspas, “Sarney” foi com Dilma Rousseff entregar chaves do Minha Casa, Minha Vida a beneficiários do Amapá, Estado que o mantém no Senado há mais de duas décadas. O coro da multidão era outro: Fora Sarney!, fora Sarney!, fora Sarney!, fora Sarney!.
Aquele Sarney que prometia, na alvorada de sua carreira, inaugurar uma nova era a partir do Maranhão, chega ao ocaso de sua existência na pele de outro “Sarney”. Oligarca de mostruário, símbolo do arcaico, convive com o risco de ser derrotado em nova corrida para o Senado.
Ainda sob o impacto das vaias do Amapá, que soaram em cinco momentos da solenidade de entrega de casas, Sarney mandou dizer que não irá mais às urnas. “Entendo que é chegada a hora de parar um pouco com esse ritmo de vida pública que consumiu quase 60 anos de minha vida e afastou-me muito do convívio familiar”, ele declarou, por meio de nota.
A novidade escalou as manchetes na forma de uma aposentadoria. Impossível. Sarney durou tanto que, depois de ter virado “Sarney”,  tornou-se, por assim dizer, um organismo ‘inaposentável’. Ainda que Sarney, o personagem, vista pijamas, “Sarney”, a entidade, continuará surtindo seus efeitos sobre a vida nacional.
Aposentado, Sarney cuidará para que “Sarney” não descuide de sua missão. Que é a de servir de inspiração para todos os políticos que sonham com a transposição do atraso de suas almas regionais para dentro das instituições federais. Iniciado com a chegada das caravelas, esse plano de institucionalizar o atraso está em execução permanente.
Nas últimas décadas, ao mesmo tempo em que Sarney se empenhava para transformar o Brasil num Maranhão hipertrofiado, “Sarney” foi ficando vago. É o apoiador dos generais da ditadura, mas também é a mão estendida para Tancredo Neves. É o indesejável que as bactérias tornaram inevitável ao atacar o organismo do eleito, mas é o primeiro presidente desde Juscelino a cumprir integralmente o mandato, com as instituições e a imprensa funcionando.
Inquilino impensável do Planalto, “Sarney” foi o vice mais versa que a República já conheceu. Produzido pelo acaso, chegou ao final do governo tão execrado que não teve como patrocinar um candidato à sua própria sucessão. Seu aval cairia sobre qualquer candidatura como uma sentença de morte.

O processo de reabilitação de “Sarney” em vida foi deflagrado pelo sucessor, Fernando Collor, que conseguiu a façanha de realizar um governo ainda pior. Mais tarde, Lula forneceria uma biografia nova a “Sarney”. Fez isso ao procurá-lo para pedir apoio, em 2002, depois de tê-lo xingado de “ladrão” durante anos.
Quatro vezes presidente do Senado, “Sarney” protagonizou o escândalo dos atos secretos. Secretamente, deu emprego a uma sobrinha de sua mulher que morava em Campo Grande, forneceu contracheque a uma sobrinha do genro que residia em Barcelona, alçou à folha do Estado um personagem (“Secreta”) que trabalhava como mordomo na casa da filha Roseana Sarney…
Convidado pelos jornalistas a analisar o comportamento do aliado, Lula tratou-o com distinção: “Sarney não pode ser tratado como se fosse uma pessoa comum.” De fato, se há algo de que “Sarney” não pode ser acusado é de ser comum. Difícil saber agora o que os livros dirão de “Sarney” quando puderem falar dele sem os ruídos da conjuntura. Vai à posteridade o “Sarney” incomum ou o Sarney ordinário?
Quando olha para o espelho, “Sarney” enxerga o brasileiro mais extraordinário que Sarney já conheceu. Nos modos, um sujeito cordial. Nas artes, a imortalidade da Academia Brasileira de Letras. Na política, a presidência de um “estadista” que soube completar a transição sem descuidar da “liturgia do cargo”.
Quando olhar para o Maranhão e verificar o sucesso que “Sarney” obteve sendo Sarney a vida inteira —do império estadual de comunicação até as edificações batizadas com os nomes de toda a família— a posteridade haverá de reconhecer: “Sarney” é a personificação de um Brasil em que a vida dos governantes sempre melhora. Mesmo quando piora a vida dos governados.
Ao perder uma eleição para governador da Califórnia, nos Estados Unidos, Richard Nixon convocou a imprensa para informar que deixaria a vida pública. “Vocês não terão mais Richard Nixon para chutar”, disse. O morubixaba do PMDB também se julga injustiçado pela imprensa. Mas não pode ecoar Nixon. Ainda que Sarney se aposente, sempre haverá um “Sarney” para ser chutado. Com muita justiça.

Josias de Souza

Rio de Janeiro: refugado pelo PSB, Miro Teixeira (PROS) tira time de campo

Em política, as coisas que não têm solução já estão solucionadas. Veja o caso do deputado Miro Teixeira. Recém saído do PDT para o Pros, ele pretendia disputar o governo do Rio com o apoio do PSB e da Rede.
Súbito, percebeu: se continuasse vivendo da esperança de que seus parceiros se unissem, morreria muito magro. Submetido à cordialidade do partido do presidenciável Eduardo Campos, Miro passou a considerar que o Oriente Médio é um trecho pacificado do mapa.
“O tempo dedicado a intermináveis e recorrentes conversas e trocas de notas oficiais dos partidos nas últimas semanas foi o prenúncio de uma campanha eleitoral litigiosa entre aliados, o que me parece impróprio”, escreveu Miro na carta que escreveu ao seu partido para informar que desistiu de ser candidato a governador.

Há greves e greves, por Josias de Souza

Há greves e greves. A dos metroviários de São Paulo começou como um legítimo movimento de servidores públicos por melhorias salariais. E virou um desafio à Justiça, à ordem pública e à paciência do contribuinte. Uma esculhambação.
Os metroviários pediam um reajuste salarial cenográfico de 35,47%, logo rebaixado para 12,2%. O governo de São Paulo oferecia 8,7%. Deu-se o desacordo. E a corporação cruzou os braços. Até aí, tudo legítimo.
No domingo, a Justiça do Trabalho tachou a paralisação de abusiva. Por quê? Quando trabalhadores de uma empresa privada fazem greve, prejudicam o patrão e a clientela. Quando a paralisação afeta um serviço público essencial, é preciso garantir um atendimento mínimo à população que paga a conta.
O Tribunal Regional do Trabalho endossou o reajuste oficial de 8,7%, mandou cortar os dias parados, ordenou a volta ao trabalho, suspendeu a estabilidade no emprego e impôs à desobediência uma multa diária de R$ 500 mil.
Em assembleia, os servidores decidiram dar de ombros para a Justiça. Empurraram a greve para o seu quinto dia e organizaram protesto em coligação com o Movimento Catraca Livre e a turma dos sem-teto. Fizeram isso sabendo que levavam à mesa as arcas do sindicato, a legitimidade da greve e os empregos.
Ainda no domingo, o presidente do Sindicato dos Metroviários, Altino Prazeres, riscou o fósforo. Munido de autocritérios, disse que a greve tinha apoio popular. E soprou a labareda:
“Tem uma Copa do Mundo aqui, é o maior evento esportivo do mundo. O governo do Estado tem eleições no fim do ano. Tem que negociar. Temos que enfrentar o governo”, disse, sob a proteção da imunidade sindical.
Ao “enfrentar o governo”, o companheiro Prazeres empurrou o governador Geraldo Alckmin para uma encruzilhada. Ou agia ou desmoralizava-se. Optou passar o ponto na lâmina e mandar ao olho da rua quatro dezenas de grevistas.
“O governador joga gasolina no fogo”, reagiu o sindicalista Prazeres, antes de participar, nesta segunda, de reunião em que os grevistas pediram água. Ensaiaram uma concordância com o reajuste 8,7%, desde que os dias parados fossem pagos e as demissões anuladas.
Consultado por seus prepostos, Alckmin bateu o pé. Mandou dizer que não faria concessões ao aparelho do companheiro Prazeres. Em nova assembleia, os metroviários suspenderam a greve por 48 horas.
Avisaram que, desatendidos, podem retomar a paralisação na quinta-feira, dia do início da Copa. Beleza. De grevistas, passaram a chantagistas. Ninguém é obrigado a reverenciar o bom senso. Entre os privilégios do sindicalismo está o poder de escolher o caminho de suas corporações para o inferno.
Agora, já está entendido que há greves e greves. Servidor que cruza os braços à custa do sossego do público, à margem da lei, com remuneração dos dias parados e sem o risco do desemprego, esse servidor não faz greve. Inscreve-se numa colônia de férias.
Num penúltimo esforço para evitar confusões, o Tribunal Regional do Trabalho determinou, na noite desta segunda-feira, o bloqueio dos bens e das contas bancárias do Sindicato dos Metroviários de São Paulo.
Com essa decisão, o tribunal instalou, por assim dizer, uma catraca nas arcas da casa sindical. Uma maneira de evitar que a multa de R$ 500 mil por dia de desobediência seja levada no beiço. Se tudo continuar assim, os atores vão acabar apelando para a sensatez.
Comentário
Há Jornalistas e jorna-istas. Josias de Souza é um jornalista. Se a greve for num Estado ou Cidade administrada por um petista tudo bem, vale tudo. Se o Estado ou Cidade for administrada por um tucano, aí são outros quinhentos.

Os intocáveis

CPMI da Petrobras não dará em nada, roçou os Corruptores

— Estou com os nomes neste documento. São políticos que receberam dinheiro para suas campanhas. Dinheiro doado pelas empresas que estão envolvidas neste drama da falência da Petrobras. Na próxima sessão, vou dizer os nomes e os números. Tem números exorbitantes.
O senador Mario Couto (PSDB-PA), líder da minoria, dirigia-se ao presidente da CPI mista da Petrobras, o também senador Vital do Rêgo (PMDB-PB). Falava com a estridência que lhe é peculiar. Insinuava que parte da representação governista na CPI está monetariamente comprometida.
— Aqueles que receberam ajuda para suas campanhas não deveriam estar aqui. Espero que Vossa Excelência possa falar com esses políticos, que vêm aqui defender o governo porque foram beneficiados em suas campanhas políticas. Isso não pode ser admitido…
A CPI estava reunida, nesta segunda-feira (2), para tomar conhecimento do plano de trabalho elaborado pelo relator, o deputado Marco Maia (PT-RS). Alheio às insinuações de Mario Couto, o presidente Vital do Rêgo continuou dando vazão à lista de oradores inscritos para comentar a peça do relator. Súbito, foi ao microfone o deputado Sibá Machado (PT-AC), um conhecido membro da infantaria do Planalto.
— Então, nós vamos parar o nosso trabalho para analisar os parlamentares da comissão? Quando um partido nomeia um membro para esta CPI, sabe o que está fazendo. É um erro colocar sob suspeita quem tenha recebido, porque as pessoas podem ter agido como manda a lei eleitoral.
Decidido a pagar à provocação do senador tucano na mesma moeda, Sibá, o marujo governista, também exibiu suas armas. Com uma diferença: deu nomes aos bois:
— Vou dar dois casos aqui: o senador Aloysio Nunes [líder do PSDB no Senado] recebeu R$ 9,084 milhões em recursos de campanha. Tudo devidamente legalizado. Desse total, R$ 1,3 milhão veio de fornecedores da Petrobras. O senador Aécio Neves, que já esteve aqui na CPI, recebeu R$ 11,07 milhões, dos quais R$ 1,090 milhão de fornecedores da Petrobras. Os dois estão proibidos de vir a esta comissão? Acho esse debate equivocado.
Mario Couto voltaria à carga minutos depois:
— Na relação que eu tenho aqui não consta nem o nome de Aécio nem de Aloyzio. Tem senadores que pertencem à CPI e que receberam milhões de reais das empreiteiras que estão envolvidas no caso Petrobras. O que farão esses senadores nesta CPI? Senadores de outros partidos receberam numa faixa de R$ 50 mil, R$ 100 mil. O PT, com seus senadores, recebeu muito mais.
Surpreendido por Sibá, o senador tucano decidiu despejar sobre o microfone os nomes e as cifras que prometera para a “próxima sessão”, a realizar-se na tarde desta terça (3). A certa altura, Mario Couro soou como se cuspisse num prato em que não conseguiu comer:
— A senadora Gleisi Hoffmann [ex-chefe da Casa Civil] recebeu R$ 2,420 milhões de empresas fornecedoras da Petrobas. Ah, o Mario Couto com um dinheiro desses para fazer campanha! Humberto Costa [líder do PT no Senado] recebeu R$ 1,530 milhão. José Pimentel [líder de Dilma no Senado], R$ 1 milhão. Será que esses senadores não vão fazer aqui um esforço até físico para poder retribuir essa gracinha que foi dada a eles?
A arenga verbal dá uma ideia do que virou a CPI mista da Petrobras já na largada. Tomado pelo que omitiu nas 17 folhas de seu plano de trabalho, o relator Marco Maia parecia mais preocupado em definir o que não quer investigar do que em desvendar os meandros do consórcio formado por um ex-diretor da Petrobras e um doleiro, para fraudar contratos na estatal petroleira, engordar as próprias contas bancárias e financiar políticos e partidos por baixo da mesa.
Entre pedidos de inquirições, quebras de sigilos e requisições de documentos, foram protocolados na CPI 606 requerimentos. Marco Maia disse ter aproveitado 227. Absteve-se de exibir a relação. Informou que pretende priorizar a oitiva de trêspersonagens. Dois da Operação Lava Jato —o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Yousseff— e um do caso da refinaria de Pasadena —Nestor Cerveró, outro ex-diretor da Petrobras.
Autor de 202 requerimentos, o deputado paranaense Rubens Bueno, líder do PPS, estranhou o fato de o relator não ter feito menção à quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico das empresas que se relacionaram com Costa e Youssef. Brandindo uma página de jornal, Bueno recordou o conteúdo de uma notícia veiculada no final de semana:
— Tem aqui essa reportagem, dizendo que foi celebrado um acordo entre as bancadas do governo e da oposição para blindar os fornecedores da Pebrobras. Não posso acreditar que seja verdade. Mas já que saiu essa notícia, proponho inverter o processo. Por que não quebrar imediatamente os sigilos das empresas? Com isso, vamos ganhar tempo. Quem sabe sai dessa CPI, rogo por isso, uma reforma política que acabe com a situação que coloca o Parlamento brasileiro toda hora sobre o ringue, no córner. Ou na vala comum dos financiamentos escusos.
Vital do Rêgo, o presidente da CPI, fez ouvidos moucos para as palavras de Bueno. Marco Maia, o relator, tampouco esboçou reação. Ficou entendido que, além de proteger as posições conquistadas no organograma da Petrobras, o centro das preocupações cenográficas do bloco governista na CPI é apagar as luzes que a Polícia Federal e o Ministério Público acenderam sobre algumas logomarcas que são grandes provedoras de arcas eleitorais. Algumas foram mencionadas nos requerimentos de Rubens Bueno e da bancada do PSDB. Por exemplo: Queiroz Galvão, Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, Norberto Odebrecht, Mendes Júnior, Constran…
Arma-se na CPI da Petrobras uma pizzaria equipada com um forno muito parecido com o da CPI do Cachoeira, que foi sufocada pelo manto de proteção mútua que os parlamentares teceram. O tucanato apresentou 179 requerimentos. Vice-líder do PSDB no Senado, Alvaro Dias também estranhou a timidez do relator.
— Parece-me que há no plano de trabalho uma ausência dos requerimentos que dizem respeito à quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico. E a requisição de informações sigilosas importantes. São fundamentais e não constam aqui. Nosso tempo é escasso.
Alvaro foi ecoado pelo líder tucano na Câmara, Antonio Imbassahy:
— Gostaria que fossem priorizados os requerimentos de quebra de sigilo. Sinto falta também da convocação de algumas personalidades, dirigentes de construtoras, prestadoras de serviços da Petrobras. Não vi nenhum nome aqui. E essas empresas já circulam fortemente. Algumas têm a necessidade de esclarecer o que teria acontecido.
Marco Maia não se deu por achado. Além de dar de ombros para as sugestões de quebras de sigilo, ignorou os apelos para que nomeasse subrelatores, descentralizando a pseudoinvestigação. A máxima concessão que o relator parece disposto a fazer é a requisição do papelório colecionado pelos órgãos de controle do governo e pelos investigadores da Operação Lava Jato:
— Requerimentos que têm polêmicas podem ser votados no curso da CPI. Até porque estamos requisitando todas as informações, inclusive as referentes à Lava Jato, que contém um conjunto de informações sigilosas. Estarão à disposiçãoo da CPI. Há ali quebras de sigilos bancários, fiscal e telefônico de pessoas e empresas investigadas. A única preocupação nossa é não ter pressa em aprovar todos os requerimentos ao mesmo tempo.
Pressa, de fato, é tudo o que o Planalto não tem. Com o auxílio do presidente do Senado, Renan Calheiros, Dilma Rousseff empurrou a CPI para as vésperas da Copa. Depois do certame, virá o recesso congressual de julho. Na sequência, os parlamentares mergulharão na campanha eleitoral. Passadas as urnas de outubro, Marco Maia redigirá o seu relatório final. Que deve ter a profundidade de uma dessas poças que qualquer formiga pode atravessar com água pelas canelas.
Resta ao contribuinte torcer para que o ministro Teori Zavascki, que avocou para o STF os oito inquéritos da Lava Jato, autorize a PF, a Procuradoria e o juiz federal Sérgio Moro, do Paraná, a concluir o trabalho que começaram.
por Josias de Souza

Josias de Souza e a alternância do poder, em São Paulo

[...] Seria uma tolice sacrificar o interesse estadual (SP) com uma futilidade democrática como a alternância no poder. Os fantasmas podem alegar que há risco de despotismo. Bobagem. Como chamar de autocrático um governo que começou com Franco Montoro, migrou para Covas, passou para Alckmim, depois para Serra, novamente para Alckmim que, disputa a reeleição?...

Hipocrisia de pena-paga não tem limite!

Essa crítica sobre a "alternância do poder", ele falou em relação a Lula/Dilma/PT sobre os tucanos?...
Nem um pio!

Leiam sobre quem trata o texto original Aqui

Quem muito esperto pensa ser, acaba por se foder

...Já dizia Vovó Briguilina

Capicce, Josias?

A política é uma sucessão de poses. O político começa a fazer pose defronte do espelho, ao escovar os dentes de manhã. E só para na hora de se enfiar sob os cobertores, à noite. Tome-se o caso do presidente do Congresso. No momento, Renan põe seus melhores ternos, suas mais elegantes gravatas e suas melhores virtudes para demonstrar que não se considera o Calheiros que todos conhecem, mas um reles subordinado das togas do STF.
Renan tem sobre a mesa quatro pedidos de CPI. Duas só do Senado. Duas mistas, incluindo a Câmara. Duas só da Petrobras. Duas mais amplas, misturando a Petrobras com o metrô de São Paulo e o porto pernambucano de Suape, temas que incomodam a oposição. Com poderes para optar por qualquer uma, Renan decidiu não decidir. Pose.
Oposição e governo foram bater na porta do STF. Renan achou ótimo. Pose. Acionada, a Comissão de Constituição e Justiça do Senado passou o trator sobre a minoria, aprovando a CPI ampliada. Renan aplaudiu. Disse que o melhor é investigar tudo. Pose.
Os líderes partidários informaram que preferem a CPI mista em vez da comissão exclusiva do Senado. Renan assentiu gostosamente. Pose. Na semana passada, ele prometera encerrar a novela na noite desta terça-feira. Pose.
Velho crítico da judicialização da política, Renan agora prega a submissão do Congresso Nacional à deliberação do Supremo Tribunal Federal. “O importante, primeiro, é que nós tenhamos a decisão do Supremo sobre o que é que podemos fazer em relação à criação de comissões parlamentares de inquérito quando há vários requerimentos. A prudência recomenda que nós esperemos”, disse Renan. Pose.
Renan atribui o impasse ao ineditismo do enredo. O Congresso jamais lidara com pedidos similares de CPIs, ele alega. Pose. Antes mesmo da deliberação do STF, Renan aventa a hipótese de o Congresso aprovar um projeto capaz de disciplinar os surtos investigatórios dos congressistas. Pose.
A plateia, em sua densa ingenuidade, talvez não imagine como Renan precisa de poses nesse instante. Articulador de patrióticas nomeações na Petrobras, cada movimento, cada frase, cada olhar de Renan é uma pose. Juntas, elas compõem um quadro plástico.
Todo mundo sabe que o Renan dos últimos dias é uma representação do velho Calheiros de sempre. Mas em vez de transformar cada discurso num comício, os incomodados, Aécio Neves à frente, preferem visitar a ministra Rosa Weber, do STF. Rogam-lhe que obrigue o Parlamento a fazer por pressão o que não é capaz de fazer por obrigação. Poses coletivas.
O Congresso virou um teatro. Se Dante fosse deputado ou senador no Brasil de hoje, estaria dispensado de fazer a Divina Comédia. Bastaria que protocolasse no STF um mandado de segurança. E Dante viraria um escritor por liminar. Em Brasília, a comédia já vem pronta. É 100% feita de poses.

Josias de Souza

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.


Josias de Souza (?, 1962) é um jornalista brasileiro. Exerce o jornalismo desde 1984.
Trabalha na Folha de São Paulo desde 1985. Nesse período, ocupou diferentes funções - de repórter a secretário de redação do jornal. Em 2005, era colunista da Folha. A partir de 9 de outubrodeste mesmo ano, passou a manter um blog sobre os bastidores da política no sítio do jornal, hospedado pelo UOL.
Publicou em 1994 o livro A História Real - Trama de uma sucessão (Editora Ática), em co-autoria com Gilberto Dimenstein. O trabalho versa sobre os bastidores da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à presidência da República.
Em 2001 foi o vencedor do Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens Os Papéis Secretos do Exército.
É casado com a jornalista Liliane Cardoso.

Serra, bispo sardinha da era da internet

A corja não perdoa o fracasso.

Enquanto havia esperanças, a pauleira da grande mídia era toda em Dilma. Ela era “o poste”, a autoritária, a indicada autoritariamente por Lula, etc, etc…E Serra, o capaz, o competente, o “pode mais”.
Agora, com a derrocada de Serra, os jornalões já o tratam com uma violência que faz com que nós, seus opositores, pareçamos até diplomáticos.
A gota d’água foi este tragicômico episódio da “escolha” do vice.
Talvez, até, em lugar de gota d’água, pá de cal seja a expressão mais adequada.
O artigo de Josias de Souza na Folha de hoje é absolutamente impiedoso com a falecida candidatura Serra.
“Envolto em atmosfera de volúpia e traição, o presidenciável tucano converteu a escolha de seu vice num striptease autofágico.”
“Súbito, o DEM, aliado de todas as horas, tornou-se, por assim dizer, um corno cibernético. Com a alcova sob holofotes, Serra portou-se com inocência inaudita. Imaginou que o DEM aceitaria o papel de mulher traída que evita um rompimento em nome da integridade da família.”
“Dono de estilo “indiocentrista”, Serra imaginou-se capaz de trafegar pela selva de sua coligação com distanciamento de antropólogo.”
“No Big Brother do tucanato, os morubixabas do DEM levaram Serra não ao paredão, mas ao caldeirão. Obrigaram-no a regurgitar Álvaro Dias e atravessaram-lhe Indio da Costa na traqueia.
De erro em erro, Serra virou uma espécie de bispo Sardinha da era da internet. Em autofagia pública, foi mastigado pelos caetés do DEM à luz do twitter.”
A política, para a direita, é feita de personagens descartáveis. Um a um ela os vai dispensando à medida em que perdem sua utilidade. E mais ainda isso ocorre  quando estes personagens trafegaram da esquerda para o lado do conservadorismo, emprestando-lhes uma máscara que, durante algum tempo, pôde enganar alguns.
Quando se encontram nus e fracos, quando perderam a utilidade, são impiedosamente lançados ao lugar que lhes cabe na História.
Os caetés da mídia vão mastigar o Serra que sobrou depois dos caetés do DEM, ao ponto de fazer também estes parecerem piedosos.

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Na Brasília cinquentona, elefante voa e mídia é cega


A imprensa considera-se como uma instituição de múltiplas utilidades. É a voz de hoje, a guardiã do ontem e a fomentadora do amanhã. No limite, a imprensa se autoproclama a própria história. Afinal, é nas suas páginas que a historiografia vai buscar a maior parte dos seus dados.

Pois bem, na história de Brasília, 50 anos, a imprensa ingressou tarde. Como numa peça shakeasperiana entrou no fim da relação dos papéis. Desceu àquela lista em que são mencionados os figurantes: mendigos, feirantes, prostitutas e etc. No drama de Brasília, a imprensa fez o papel de “etc.”.

Apenas compôs o fundo contra o qual se cumpriu o destino dramático da agora velha nova Capital. Elefantes voaram nos céus de Brasília. Elefantes dançaram o rebolation nas cercanias das arcas brasilienses. E a imprensa, vigilante, não viu.

Fora de suas cidades-sede, os meios de comunicação mantêm em Brasília suas maiores e mais aparelhadas redações. Descobriu-se que só tinham olhos para o Planalto, o Congresso e a Esplanada. Não viram a sede do governo local. Não viram a Câmara Legislativa.

No seu pedaço político, Brasília nunca inspirou confiança. O regime do "separa aí os meus 15%" começou com a chegada das máquinas das grandes empreiteiras.

Sempre se disse que aquela ilha, rodeada por coisa nenhuma, daria errado. Era como se a cidade de Juscelino convidasse ao delito.

A ausência de multidões seria um estímulo à "propinocracia". Não haveria quem gritasse "pega ladrão". A falta de esquinas facilitaria a fuga.

Mas a imprensa concentrou-se apenas nos malfeitores enviados a Brasília pelos eleitores de outros Estados. Súbito, a Capital ganhou autonomia política. E suas urnas passaram a mimetizar os vícios das urnas de alhures.

Sobrevieram rorizes, arrudas e seus durvais... Tudo como em outros quintais. E a imprensa, concentrada nos escândalos federais, frangou os locais.

A imprensa viu Collor. Pressentira nele um reforço do estereótipo de Brasília. Nascera no Rio. Fizera-se em Alagoas. Mas era como que um filho da Capital.

Collor passara a adolescência na cidade. Tivera os olhos vazados por aquele excesso de luz; as narinas invadidas por aquele ar seco. Enlouquecera. Chegara à Presidência com a ilusão de que presidiria. Não conseguiu administrar nem a própria loucura.

A imprensa viu FHC. Notou que, a pretexto de inaugurar o moderno, o tucano chafurdou no arcaico. Cavalheiro de uma nova ordem, FHC desfilou pelos salões de Brasília de mãos dadas com o centrão. Sabia que o parceiro não manejava bem os talheres.

Intuía que, cedo ou tarde, poderia submetê-lo a constrangimentos. Mas portou-se como se imaginasse que nada o atingiria.

O casamento fluiu tão bem que aquilo que parecia estratégia assumiu ares de comunhão de estilos. Vieram os jáderes e outros azares.

A imprensa viu muita coisa. Os desvios da Sudam, a “cota federal” da reeleição, as privatizações trançadas no “limite da irresponsabilidade”, isso e aquilo.

Nesse período, a imprensa também viu, pela primeira vez, José Roberto Arruda. Virou crise ao violar, em parceria com ACM, o painel secreto do Senado.

Arruda era, então, uma crise impossível de não ser vista. A crise ocupava a liderança do governo FHC no Senado. A crise tomava café, almoçava e jantava no Alvorada.

O soberano maquinava com a crise formas de estorvar uma CPI da corrupção que o assombrava no Congresso.

De repente, a crise renunciou ao mandato. E ficou invisível. Os repórteres foram cuidar de escândalos mais urgentes.

Pouco depois, a imprensa viu Lula e o PT. A ousadia do petismo custou ao presidente-operário a perda do apuro, da peseudocastidade.

Ainda no primeiro mandato, acumulou-se ao redor do neosoberano um formidável déficit estético. A rotina brasiliense concentrou-se em escândalo.

Num processo autofágico, o incômodo deu origem ao absurdo, que gerou o impensável, que produziu o inacreditável, que soltou a língua do Jefferson.

De repente, Arruda virou governador. E a imprensa não viu os primeiros passos da dança final. Não viu o crescendo devassidão.

Não viu que, sob as obras de Arruda, vicejava o malfeito. Não viu o sinistro balé de deputados enfiando maços de dinheiro em cuecas, meias e bolsas.

O país só tomou conhecimento do que se passava depois que um auxiliar de Arruda, autoconvertido em Silvério do governador, exibiu a cinemateca dos porões.

No festejo opaco dos 50 anos de Brasília, a imprensa deve desculpas à Capital. Frequenta o escândalo como pregoeira do fato consumado.

No necrológio da autocrítica, a imprensa de Brasília exibe uma nudez humilhante. Morreu muda e cega, envenenada pelas manchetes que não viu e silenciou.