Investir num gostar de mão única é arriscar ver o tempo escorrer pelo ralo e depois aceitar o preço dos arrependimentos que não vão servir de coisa alguma, mas é preferível arrepender-se do que já fizemos que daquilo que deixamos de fazer.
“Deixa para lá” o que não tem mais jeito é o melhor remédio, mas... Ninguém tem culpa de sentir medo, principalmente aquele de perder alguém muito próximo , muito querido em quem investimos o melhor dos nossos dias, dos nossos momentos.
A culpa maior reside no fato de que procuramos sempre aqueles desafios maiores que a nossa coragem. Falando assim, percebo que, aqui e ali, nos enchemos de pressuposta sabedoria e arriscamos a dar lições ao mundo. Ora, mesmo os sábios, quando invadidos pelas dificuldades dos problemas comuns ou tomados por uma agonia, como simples mortais que também são, desesperam-se do mesmo jeito que nós. E sofrem. E choram. E se arrependem.
Outras vezes, de comodismo de aparentes momentos de tranquilidade ou serenidade passageira, ousamos dar conselhos: “Que é isso? Levanta a cabeça, seja superior, dê a volta por cima. A vida é assim mesmo, cheia de altos e baixos...” - essas bossas. É fácil dizer que uma dor é pouca quando não está doendo na gente e é por isso que conselhos assim custam pouco ou quase nada para quem os dá.
No dia em que fui invadido pela angústia de uma perda querida e me enchi de saudade sem jeito, essa história de dar a volta por cima não teria o mínimo valor, a mínima importância, não teria nenhuma serventia. Passei muitos anos mantendo, aqui, bem fundo no peito, uma respeitosa e sagrada lembrança da mulher que vestia apenas Trussardi para mim, que me chamava de “vida” e me fazia acreditar nela, na sua simplicidade.
Faz bem pouco, joguei no lixo uma fotografia em Courchevel e outra que fizemos para brindar nosso encontro longe daqui. Todos os bilhetes que me mandou e os restos das loucuras que fizemos, nos anos de amantes irresponsáveis. Dei um fim a essa história. Enterrei a saudade que não tinha razão de ser, o respeito que ainda tinha por ela. Deletei na minha memória o carinho e quebrei o vidro de perfume vazio, que ainda guardava como lembrança.
“Vida” nunca fez sentido. Fui apenas uma passagem no oportunismo de uma empolgação. Conselhos não me faltaram, mas não fui suficientemente sábio para “deixar para lá”. Senti medo de precisar esquecer tudo, por acreditar numa dessas voltas que o mundo dá. Criei coragem e descobri que lá fora existe muita vida para se viver... Ainda.
A. CAPIBARIBE NETO