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A Venezuela mudou. E para melhor


Após 12 anos de governo de Hugo Chávez, a Venezuela mudou. E para melhor. De coqueluche dos Estados Unidos, por conta de suas reservas de petróleo, o país se transformou em um dos maiores opositores da política neoliberal do continente, retomou o controle de sua renda petrolífera e destinou-a aos programas sociais devolvendo a cidadania para os venezuelanos. 

Nesta trajetória arrojada e de assumida independência ante as exigências de Washington, o governo Chávez desagradou – e muito – a direita conservadora nacional e internacional, o que já lhe rendeu um golpe de Estado (em 2002) e a oposição ferrenha, dia e sim e no outro também, da mídia. Mas, segundo Maximilien Arvelaiz, embaixador da Venezuela no Brasil, valeu a pena. “Basta caminhar pela Venezuela para ver o quanto o país mudou”, comemora.

Agora, rumo à consolidação de sua independência, a Venezuela de Hugo Chávez retorna, mais uma vez, às urnas. Com data marcada - 7 de outubro – a eleição venezuelana é o retrato da forte polarização da sociedade venezuelana, conta Maximilien, a da esquerda unida a Chávez e a da direita, representada por Henrique Capriles. 

Nesta entrevista, Maximilien não apenas conta como está a campanha, como nos traz um retrato fiel da sociedade venezuelana, suas conquistas e aspirações. 

Membro do governo Chávez desde o início, Maximilien também explica por que o país é tão combatido pela mídia. E avalia as oportunidades – tanto para eles, quanto para nós – abertas com ingresso recente da Venezuela no MERCOSUL. 

Confira a entrevista e compreenda o que está em jogo na América Latina e por que o ex-presidente Lula afirmou recentemente a Chávez “sua vitória, nossa vitória”. Leia a entrevista Aqui

O palácio não é minha casa

ABCD MAIOR- A senhora lembra como foi a última noite antes de Lula ser empossado presidente da República e da última noite antes de deixar a Presidência?

Marisa Letícia- Foi um mix de emoção nessas duas noites. Antes da posse de presidente, foi mais chocante. Não estávamos acreditando. A gente falava, me belisca para ver se é verdade. Na primeira noite no Palácio, não dormi. Era tudo muito grande e era uma euforia. Mas deu tudo certo, era trabalho e trabalho. Por isso, quando fomos passar a faixa para Dilma, foi mais fácil. Diferentemente da posse, na última noite em Brasília conseguimos dormir. Sempre soube que o Palácio não era a minha residência. A minha casa é em São Bernardo. Eu e o Lula saímos de cabeça erguida. Sentimos falta no começo, porque trabalhamos muito, mas logo depois Lula começou a trabalhar no ‘Instituto Lula’ e teve uma agenda lotada.” 

Ciro Gomes: Aécio cometeu um erro primário


Ciro Gomes (PSB) declara-se “decepcionado” com Aécio Neves (PSDB). Responsabiliza-o pelo desembarque do PT do prejeto reeleitoral de Márcio Lacerda (PSB), prefeito de Belo Horizonte.
Tido como aliado eventual de Aécio em 2014, Ciro declara-se desde logo um apoiador de Dilma Rousseff. Sem mencionar o nome de Eduardo Campos (PSB), refuge-lhe as pretensões presidenciais.
Para Ciro, o PSB teve sua chance de disputar o Planalto em 2010, quando ele frequentava o rol de candidatos com o segundo melhor desempenho nas pesquisas. Escanteado por Eduardo, presidente do PSB, Ciro como que dá o troco.
“Temos uma obrigação moral com a presidenta Dilma. Nossa vez de ter lançado candidato próprio era na vez passada”, disse Ciro, numa entrevista ao repórter Lauriberto Braga. Se quiser entrar no jogo agora, ele declarou, o PSB deve entregar imediatamente os cargos que ocupa no governo. Disponível aqui, a entrevista vai reproduzida abaixo:
 A Operação BH pode prejudicar a aliança do PSB com o PT em 2014? Nós compreendemos, guardando aí a história do Brasil, que eleição municipal é episódio que por regra se exaure por si mesmo. Claro que desgastes, mal-entendidos, tristezas e frustrações podem gerar consequências futuras. Mas, em Belo Horizonte, está acontecendo um caso muito específico que é consequência de um erro, na minha opinião primário, que o Aécio Neves cometeu.
 Que erro foi esse? Eu disse a ele, quando fomos conversar, que ele cometeu um erro primário. O Aécio resolveu sair de uma posição que o distinguia, que o elevava, que o punha em alto nível, sendo talvez a única exceção do Brasil a partir de Belo Horizonte, onde a conflagração estéril e miúda entre o PT e PSDB imposta por São Paulo ao Brasil mostrava que era possível fazer diferente. E isso produziu como consequência uma convergência com o PSB e uma administração de melhor avaliação do País. Portanto, não só a qualidade política distinguiu o Aécio nessa aliança, como a consequência desse gesto, vamos dizer generoso, político superior, de alto nível, produz a melhor administração em capitais do Brasil. Isso credenciava o Aécio a ser considerado de forma distinta pelo exemplo, menos pela retórica. E ele, inacreditavelmente, acho que por influência da alienação política que Brasília provoca nas pessoas, resolveu forçar a mão em cima do Marcio Lacerda para provocar o fim da aliança com o PT e precipitar em Belo Horizonte uma disputa completamente extemporânea, descabida, pela Presidência da República.
 A conversa que o senhor teve com Aécio Neves respinga em 2014? Minha afeição, meu apreço, meu respeito, meu carinho pelo Aécio não mudam. Mas eu preciso dizer em alto e bom som que fiquei muito decepcionado com este movimento dele.
 O senhor não apoiaria mais Aécio para presidente do Brasil em 2014? Nós nunca tivemos uma relação fora de Minas Gerais. Se o Aécio fosse candidato à Presidência da República numa certa circunstância, no passado, eu admitiria votar nele, porque acho que ele seria importante para o Brasil nessa circunstância de exemplo de político. Mas esta confrontação estéril, despolitizada, entre o PT e o PSDB de São Paulo tem provocado muita coisa ruim no Brasil. Quando Fernando Henrique Cardoso tomou posse, ele era claramente uma novidade importante para o país. O PT se recusa a apoiar o Fernando Henrique e ele se abraça com o PFL e o PMDB. Não propriamente com os partidos, mas com a escória desses partidos. Em seguida o Lula ganha a Presidência da República. O PSDB então, incrivelmente, se recusa a dialogar com Lula. E Lula se obriga a confraternizar, de novo, com a escória da política brasileira. De maneira que o que muda do PSDB para o PT é só a escória que não sai do poder no Brasil.
 Como será a disputa em 2014? Na minha opinião, nós temos uma obrigação moral com a presidenta Dilma. Nossa vez de ter lançado candidato próprio era na vez passada. Porque não havia uma candidatura natural. O Lula encerrava um ciclo. Eu tinha o segundo lugar nas pesquisas. Como percebemos o movimento contra a minha pessoa e fui da opinião de votar logo no primeiro turno na Dilma, agora participamos do governo da Dilma e eu cultivo a lealdade.
 Só 2018, então? É. Uma vocação natural do partido é disputar. E podemos até disputar em 2014, mas temos que sair publicamente agora do governo e dizer qual o projeto melhor que temos para oferecer ao povo brasileiro. Mas agora estamos apoiando é a Dilma.
 E a eleição em Fortaleza? Nós, liderados pelo governador Cid Gomes, nos esforçamos até a undécima hora para votar num candidato do PT, desde que tivesse autonomia em relação à atual administração e pudesse sinalizar respeitosamente para Fortaleza que o clamor por mudança seria atendido. Infelizmente não conseguimos, pois os companheiros do PT não convenceram a prefeita, que tem o controle da burocracia, e isso nos levou a romper com a obrigação de apoiar o candidato do PT.

Rosane, Collor, Pig e Cia

Diz o ditado popular: por trás de um grande homem, tem sempre uma grande mulher.

Sendo assim é natural que: por trás de um pequeno homem, tem sempre uma mulher menor ainda.

Rosane Collor é uma prova viva.

Aécio Neves decreta fim do ciclo Lula/Dilma/PT

Numa entrevista ao jorna-lista Josias de Souza o minerim candidato a candidato a presidente em 2014 pelo PSDB(?) congelou o governo da presidente Dilma e decretou que ele representa o "um fim de ciclo". Já vi esse filme antes. Em 2005 decretaram o fim do governo e de Lula, o que aconteceu?...

Ele se reelegeu em 2006 e em 2010 elegeu um "poste". Confiram abaixo o que o rapaz experto pensa e diz:

- Avaliação do governo Dilma: O governo parou. Digo uma coisa que nem deveria dizer, mas o governo do Lula era melhor do que o governo da Dilma do ponto de vista dos resultados. As pessoas faziam algumas coisas. Agora, no setor de infraestrutura, que já não andava bem, não acontece absolutamente nada. Na área da saúde, o governo investe 10% a menos do que investia há dez anos. Na hora que começarem a comparar os indicadores, num ambiente econômico que já não será de euforia, mas de extrema preocupação, as pessoas vão perceber que caminhamos para um fim de ciclo.
- Avaliação do desempenho da presidente: A fama de boa gerente da Dilma era um mito. Aquela imagem de administradora capaz é a que vai sair mais machucada desse período de crise. O sentimento generalizado, mesmo na base do governo, maior ainda entre os empresários, é o de que este é um governo paralisado. Isso vai ficando cada vez mais claro. O governo não fez as grandes reformas que deveria ter feito. Faltou ousadia, faltou coragem.
- Imagem do Brasil no exterior: Estive por dois dias em Washington, para a premiação do Fernando Henrique [prêmio John W. Kluge, de US$ 1 milhão, dado pela Biblioteca dos EUA]. Conversei com amerianos importantes, que acompanham a realidade brasileira. Falei com economistas da Europa, que estavam lá. A expectativa em relação ao Brasil é outra, totalmente diferente do que era há seis meses. Há, hoje, uma avaliação mais negativa sobre a capacidade do país de responder à crise. O ambiente econômico piorou e a visão geral é de que vai piorar mais.
- Fim de ciclo: Estamos ingressando numa fase de fim de ciclo. Esse ciclo atual da administração do PT, na minha avaliação, vai se encerrar. Se vamos ser nós que vamos sucedê-los, o tempo é que vai dizer. Mas está claro que o governo perdeu a capacidade de tomar iniciativas. A base política no Congresso está extremamente esgarçada. Nesta semana, o governo não conseguiu nem votar a LDO [Lei de Diretrizes Orçamentárias].
- Tempo perdido: É nos dois primeiros anos de um governo que devem ser feitas as grandes reformas. O governo não fez. E agora está patinando. Acho que ganha força um discurso alternativo pela eficiência. Essa mácula da ineficiência a Dilma vai carregar. O governo dela parou. Não sou do tipo de pessoa que torce contra. Isso quem faz é o PT. Mas é preciso dizer as coisas com clareza. E nós vamos dizer, no momento próprio. Não queremos confundir eleições municipais com o cenário nacional. Não se trata de desconhecer o que eventualmente tenha dado certo. Não faço o discurso da negação. Não se pode dizer que, do Lula pra cá, tudo deu errado. Respeito o que deu certo. Mas estamos chegando ao fim um ciclo. É preciso que se inicie outro.
- O que faria de diferente se fosse presidente? No primeiro dia, apresentaria uma agenda com duas ou três grandes reformas que eliminassem nossos grandes gargalos. As coisas não mudam do dia para a noite. Mas, já no início do governo, eu estaria propondo ao país essas reformas. A começar pela reforma do Estado, com uma grande diminuição do seu peso. É preciso abrir espaço fiscal para que haja, aí sim, o início de uma redução da carga tributária. A carga de tributos é um dos principais fatores que inibem a competividade do Brasil. Não adianta tomar essas medidas paliativas de conceder isenções pontuais para setores específicos, como o automobilístico. Tem que puxar para baixo a carga de tributos de todos os setores.
- Reforma politica: Esse é outro tema ao qual eu me dedicaria desde o primeiro dia. Eu iria para o Congresso fazer o que a Dilma não fez: negociar dois ou três grandes pontos que organizassem minimamente o quadro partidário brasileiro. Tínhamos que ter buscado uma aliança política possível, para termos o inverso do que o STF acaba de fazer. Em vez de aumentar, precisamos enxugar o quadro partidário, adotando a cláusula de desempenho, o voto distrital misto. Essa decisão do Supremo [que reconheceu ao PSD o direito de partilhar do tempo de tevê e das verbas do Fundo Partidário] já está causando um dano enorme ao país. Agora, um deputado tem preço. Elege-se por um partido e leva os votos para outro. Conforme o tempo de tevê da nova legenda, cada deputado vale X. Um partido de 12 deputados vai valer um preço nas coligações nacionais e outro preço nas coligações estaduais. Agora, 12 picaretas podem se juntar para formar um partido, calcular o valor de cada deputado conforme o fundo partidário e, depois, vender o tempo de televisão nas eleições.
- Descentralização administrativa: Essa agenda dos primeiros dias de governo teria de incluir uma política de descentralização corajosa em relação a Estados e municípios. Dá pra fazer. Na área de transportes, por exemplo, hoje não se faz nada. Por que não distribuir para os Estados a administração de rodovias federais, com a transferência dos recursos da Cide e de parte do Orçamento da União? Essa centralização do poder, para ter ganho político, é um dos maiores equívocos que os governos do PT cometem. Concentram em Brasília um poder enorme e não conseguem gerir. Esse processo vem se agravando nos últimos anos. Acentuou-se com a Dilma.
- Fadiga do material: O governo enfrenta o fenômeno da fadiga de material, comum nas administrações longas que perdem a capacidade de se renovar. Acho que eles chegarão cansados [a 2014]. Para botar uma máquina gigantesca como essa para rodar leva tempo. E o governo, até aqui, só perdeu tempo. Qual é o objetivo desse governo? Hoje, o único objetivo é a manutenção do poder a qualquer custo. A capacidade de tomar iniciativas, de fazer do governo uma estrutura pró-ativa, tudo isso desapareceu. Se a economia estivesse muito bem, talvez isso fosse minimizado. Mas o cenário inspira preocupação: a base política está desagregada não se gosta e não se articula; a economia emite sinais negativos, apontando para o aumento do desemprego; oas bras de infraesturura não acontem; os indicadores sociais patinam. Insisto: vivemos um fim de ciclo.
- Movimentação de Eduardo Campos: É absolutamente legítima a movimentação dele. Acho que ajuda. Não gosto dessa dicotomia de PSDB e PT. O aumento do leque de opções [presidenciais] ajuda nas decisões. Convém não esquecer que muitas seções regionais do PSB [partido presidido por Eduardo] são aliadas do PSDB. A começar pelo Paraná e por Minas Gerais. Mesmo em São Paulo, tirando esse apoio ao Fernando Haddad, que o Eduardo determinou, o PSB é aliado do Geraldo [Alckmin, governador tucano]. De baixo pra cima, haverá sempre setores do PSB com identidade maior conosco. Mas temos que respeitar e reconhecer que o Eduardo faz uma movimentação correta. Não contamina o processo. Ao contrário, apresenta um espaço de discussão novo. Tenho com ele as melhores relações. Eu o respeito muito.
- 2014 se imiscuiu em 2012? Não vejo isso com tanta clareza assim. É claro que algumas coincidências levam a essa leitura, sobretudo o que aconteceu em Recife, Fortaleza e Belo Horizonte. Mas, se formos analisar friamente, essas três situações mais emblemáticas, que envolvem o PSB, ocorreram por questões absolutamente locais. Em Fortaleza há um litígio do Cid e do Ciro Gomes [do PSB] com a prefeita Luizianne Lins [do PT]. Se houvesse harmonia entre eles, a ruptura talvez não tivesse acontecido. Em Recife, o Eduardo [Campos, do PSB] tentou construir a candidatura do Maurício Rands [do PT]. Não conseguiu. Veio outro nome [o petista Humberto Costa]. E o Eduardo optou pela candidatura própria [de Geraldo Júlio]. Em Belo Horizonte, depois de integrar a gestão do Márcio Lacerda [do PSB] por quatro anos, o PT arranjou um pretexto para romper. Não fomos nós que nacionalizamos a campanha em Minas, mas o PT, que chegou a um nome a partir de interferências externas.
- Vaivém do PT em Belo Horizonte: O PT dizia que o Márcio [Lacerda] rompeu a aliança. Isso não existe. Tanto é que eles pararam de dizer isso. Na verdade, houve um rompimento do PT com o Márcio. O PT tinha a vice-prefeitura e controlava 70% dos cargos da prefeitura. Esse negócio de coligação proporcional [na chapa de vereadores] foi um pretexto. Nós reivindicamos fazer coligação proporcional, o PT também. O PSB disse o seguinte: vamos sair com uma chapa sozinhos, para poder eleger uma bancada de apoio claro ao prefeito, do partido do prefeito. Nós topamos até isso, mesmo não tendo a vice. E o PT falou: ‘Não, nós queremos os votos do PSB para eleger uma bancada maior do PT. Para quê? Para o Márcio ficar refém deles.
- Intervenção federal em Belo Horizonte: Depois de romper a aliança, o PT lançou a candidatura do Roberto Carvalho. O Gilberto Carvalho [amigo de Lula e ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência sob Dilma] baixou aqui em Belo Horizonte, na terça-feira da semana passada, na base aérea, para convencer o Roberto Carvalho, em nome do Lula e da Dilma, a desistir da candidatura, que já tinha sido inclusive registrada. Ele saiu com a promessa de sabe-se lá quais vantagens. Aí começou a nacionalização da campanha em Minas. Foi iniciada por eles, não por nós. Para ter o PMDB [na coligação do PT], a Dilma entrou pessoalmente no processo, intercedendo junto ao Michel [Temer, vice-presidente da República e presidente licenciado do PMDB]. O Leonardo Quintão [que abdicou da candidatura a prefeito pelo PMDB] está achando que vai ser ministro. No PCdoB, a direção municipal votou pela coligação com o Márcio. Veio um comando de cima, do Renato Rabelo [presidente nacional do PCdoB], dizendo que não podia. E o partido voltou atrás. A pedido da Dilma o [Gilberto] Kassab [prefeito de São Paulo e presidente do PSD federal] interveio em Minas. Vai se dar mal. O PSD vai ficar conosco. O apoio deles ao Márcio foi decidido em convenção. O estatuto do PSD diz o seguinte: qualquer intervenção só pode ser feita pela Executiva do partido. E a executiva não se reuniu. Em Belo Horizonte, o PSD é adversário do PT.
- A entrada do petista Patrus Ananias na briga pela prefeitura: Reconheço que ele tem uma imagem positiva e que o cenário exigirá de nós mais atenção e mais trabalho. Mas acho que ele vai ter dificuldades. Está desatualizado sobre Belo Horizonte, não morava aqui há muito tempo. Esteve em Brasília durante os últimos sete ou oito anos. E o PT terá enorme dificuldade para justificar a mudança de posição. Na manhã do dia 30, na convenção do PSB, estavam todos lá, a começar do [Fernando] Pimentel [ministro do Desenvolvimento de Dilma]. Nessa hora, o Márcio era o melhor prefeito do Brasil. À noite, decidiram romper e o Márcio passou a ser o demônio. Será muito difícil o PT explicar por que deseja agora a interrupção de uma administração municipal muito bem avaliada, da qual participou durante quatro anos.
- Fantasma de 2014? Por que o PT mudou de posição em Belo Horizonte? Prevaleceu o interesse do PT em 2014. Enxergaram o fantasma de 2014 em Minas. Estão me valorizando mais do que eu mereço. Para fazer essa movimentação toda, com todos os riscos que correm, é porque estão vendo 2014. A Dilma não precisava intervir, poderia ter mantido o discurso dela de não envolver a estrutura federal nas eleições municipais. Nós continuaremos voltados para os interesses de Belo Horizonte. Deixaremos a nacionalização para eles, que construíram uma candidatura fora de Minas, no eixo Palácio do Jaburu-Planalto-São Paulo. Em 2010, aconteceu algo parecido na eleição de governador. O Lula [que apoiava Hélio Costa, do PMDB, contra Antonio Anastasia, candidato de Aécio] vinha para Minas raivoso. Eu disse naquela época: o mineiro tem uma tradição de ser povo hospitaleiro, recebe muito bem. Mas na hora de definir os seus destinos, o mineiro sabe fazer suas escolhas sozinho, não precisa de conselhos externos.
- Mas Dilma Rousseff não nasceu em Minas? Ela é uma mineira curiosa, que acomodou oito gaúchos no ministério [risos].

Briguilino: Pig você não pode ganhar sempre

Os blogueiros e jornalicos do PIG - Partido da Imprensa Golpista - devem atravessar o fim de semana eufóricos porque a presidente Dilma Rousseff, concedeu entrevista exclusiva de duas horas à rivistinha [in]Veja - logo quem? O panfleto que mais tentou e continua tentando derrubar o PT, Lula e Dilma.

A finalidade desta entrevista não é mostrar o que pensa a presidente sobre os problemas do Brasil e o que fazer para enfrenta-los. Mas, sim usa-la para não colocar o seu deus, paladino da moral e ética -Demóstenes Torres - na capa, tomando banho de Cachoeira.

Porém que tal saber um pouco do que pensa e faz a presidente? Leia Aqui

Homem mandão

Entrevista do mês: feita por Zé Dirceu com Clara Charf - viúva de Carlos Marighella -

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Quem diria que a linda aeromoça alagoana Clara Charf viria, um dia, a se casar com um dos homens mais procurados por mais de uma ditadura deste país, o guerrilheiro baiano Carlos Marighella, fundador da Ação Libertadora Nacional (ALN), uma das dissidências do Partido Comunista Brasileiro!

Foi o que aconteceu e sua vida nada teve de comum. Companheira de um dos mais emblemáticos líderes da esquerda brasileira, Clara viveu as agruras da clandestinidade, viu o sol nascer por trás das grades e foi obrigada a se exilar. Mas quem a vê, hoje, nos seus 86 anos, não enxerga nesta simpática senhora uma gota de rancor em relação às durezas pelas quais passou. Aliás, se surpreenderá com o bom humor e o brilho nos olhos desta sra., uma testemunha ímpar da história deste país.

Mais do que apenas mulher de Marighella, Clara se provou, ela própria, uma ativa militante. Atuante defensora da causa da mulher, faz sua voz ser ouvida seja  no PT, seja no Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, da Secretaria Especial de Política para as Mulheres da Presidência da República, seja na Associação Mulheres pela Paz ao Redor do Mundo, ou na Comissão de Mortos e Desaparecidos. 

Neste 8 de março em que comemoramos o Dia Internacional da Mulher, entrevistamos Clara. Uma prazerosa tarefa, aliás. E quem ler a entrevista abaixo, notará que, além de dar respostas, ela inverte o jogo, é adepta a perguntas e a questionamentos. Como não respondê-los? Confira, a seguir, uma deliciosa conversa com esta grande companheira.

[José Dirceu] Você diria que o Brasil é um país machista? 

[ Clara Charf ] Não conheço nenhum país que não seja. Agora, isso não quer dizer que todas as pessoas neste ou naquele país sejam machistas. Essa é uma questão de indivíduos. Muitas pessoas nem sabem o que significa ser machista. Quando eu comecei a militar, machista era um adjetivo que eu nunca tinha ouvido. Existia apenas a noção do “homem mandão”, lá no Nordeste, quando comecei a despertar para algumas coisas. 

Lembro que havia uma vizinha nossa, portuguesa, que tinha um marido que era um malandro. Ela ficava o dia todo lavando o terno dele, lavando e passando roupa, cuidando das filhas, fazendo de tudo... Ele saía, belo e formoso, ela só conversava com a minha mãe, por cima do muro. Nunca ia a lugar algum.

Eu ia a pé para o trabalho - era bancária naquela época - e um dia, de repente, olho e lá estava o marido da dona Helena, de terno passado, com chapéu, agarrando uma mulher, em público, ao meio dia. Fiquei possessa! Ao voltar à noite, eu soltei: “Mamãe, eu não vou me casar nunca”.  Continua>>>

Porque a democracia brasileira é uma fraude


Em entrevista à TV Comunitária, reflexões sobre a farsa que modela o sistema político em nosso país 

 
“A democracia brasileira é uma fraude” – afirmações como essa dentro de um contexto que expõe meu pensamento crítico sobre a realidade política brasileira estão numa entrevista de uma hora que concedi a Reinaldo Cunha no seu programa “Maré na TV”, transmitido pela TV Comunitária do Rio de Janeiro.
 
Numa conversa informal, editada praticamente sem cortes, passo em revista algumas das mazelas que tornam caricata e ilusória a democracia em nosso país, cujo exemplo mais patético é a composição de um Poder Legislativo que não reflete o perfil social e nem diversidades de idéias, estas soterradas pelo jogo de interesses escusos que movem as ações de cada parlamentar, em todos os níveis.
 
A entrevista foi concedida sem nenhum agendamento prévio. Fui visitar a ASFUNRIO, atuante associação de funcionários municipais do Rio de Janeiro, presidida com muita garra por Reinaldo Cunha e este, que faz parte da Tv Comunitária e lidera também no Complexo da Maré a AULA – Associação Universitária Latino-Americana – resolveu gravar minhas reflexões, a partir do artigo que escrevi sobre a necessidade da implantação de uma Comissão da Verdade sem constrangimentos. (Veja o artigo em http://www.blogdoporfirio.com/2012/02/antes-que-comissao-da-verdade-comece-em.html).
 
Reproduzida na internet, você poderá ver toda a entrevista clicando em http://www.youtube.com/watch?v=Fcu_NVecLK4 .
 
Gostaria muito de que essas reflexões servissem de base para uma tomada de posição da parte dos indignados que não se acomodaram, não se acovardaram e não perderam os critérios críticos essenciais para a conquista de um sistema realmente democrático num país soberano,justo e próspero.
 
É importante que você conheça detalhes de um processo eleitoral EXCLUDENTE, que favorece claramente quem derrama muito dinheiro em campanhas financiadas sabe Deus como, campanhas tão onerosas que superam em muito tudo o que um político vai perceber a título de subsídios em quatro anos de mandato.
 
Processo eleitoral que inviabiliza candidaturas de quem não pode gastar dinheiro ( ou não pretende fazer de uma campanha um INVESTIMENTO) e se caracteriza pela absoluta falta de transparência – a impressão do voto, que existe em países como a Venezuela e a Bolívia, vem sem postergada, assim como a identificação biométrica do eleitor, que este ano só alcançará um milhão de brasileiros, menos de 1% dos votantes.
 
Estou convencido de que a divulgação dessa entrevista é uma contribuição honesta e consistente para o entendimento de toda essa frustrante e desanimadora crônica das práticas políticas no Brasil.
 
 Permitida a reprodução e repasse desta matéria, desde que preservada sua autoria.
 
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Fernando Haddad: Transporte público é prioridade

A sete meses das eleições municipais o pré-candidato do PT, Fernando Haddad, ainda não fechou acordo com nenhum partido, revela desconhecer os planos do PSB e reconhece que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva faz falta nas negociações.

Mais à vontade quando a conversa migra para suas propostas de governo, diz que o melhor da gestão Gilberto Kassab são alguns de seus projetos de reurbanização de favelas feitos em parceria como PAC federal, que pretende expandir. E o pior, os transportes. Pretende dobrar os investimentos feitos nos últimos oito anos no setor com metas para corredores de ônibus e transferência de recursos para o metrô, desde que o governo estadual se comprometa a dar mais celeridade às obras de expansão da malha metroviária.
Na educação, o ex-ministro da Pasta defende ideias que o aproximam do PSDB e do pré-candidato do PMDB, Gabriel Chalita, como a meritocracia e a bonificação de professores de acordo com o desempenho dos alunos. Evita criticar a progressão continuada, outro ponto que sempre colocou em campos opostos PT e PSDB, e diz que terá metas para o ensino em tempo integral.
Na saúde, o petista se distancia do PSDB e da gestão Kassab, ao defender o modelo federal para hospitais e postos de saúde que construirá, em detrimento da gestão terceirizada a organizações sociais. A seguir, trechos da entrevista concedida ao Valor na tarde da quarta-feira na sede do diretório municipal do PT.
Valor: O senhor começa a campanha num patamar muito baixo de conhecimento e intenção de voto. O PT teve programas de TV cassados. Qual é sua a estratégia para alavancar a campanha?
Haddad: Tivemos percalços. Um deles foi a doença do [ex] presidente Lula, que ninguém esperava. Agora essa falta de tempo de televisão. Vamos ter que nos dedicar ao que estamos nos dedicando: conhecer os problemas da cidade, elaborar o plano de governo e, quando tivermos a chance, apresentá-lo à sociedade.
Valor: Não há uma estratégia delineada de como aumentar a sua exposição?
Haddad: Olha, a estratégia é a que todos vão adotar…
“Fizemos a parte mais difícil que foi o Bilhete Único, enquanto eles não investiram na expansão dos corredores”
Valor: Mas sua candidatura tem um perfil diferente, com taxa de conhecimento muito mais baixa.
Haddad: É muito mais baixa. Mas vou participar dos eventos para os quais eu for convidado. Tenho entrevistas e visitas agendadas, mas numa cidade de 11 milhões de habitantes, imaginar que há alternativas equivalentes à exposição de televisão…
Valor: Então o senhor não vai intensificar a campanha de rua?
Haddad: Não é uma campanha de rua. Não estou indo à periferia, aos bairros, às subprefeituras para encontrar pessoas que não me conhecem ainda. Pelo contrário. Estou me dedicando a falar com quem entende dos assuntos e vive os problemas da cidade para que o diagnóstico esteja o mais perto possível da realidade. São lideranças, gestores públicos, técnicos da prefeitura que me conhecem e que estão me subsidiando para a confecção de um plano de governo.
Valor: A presidente Dilma, que era pouco conhecida quando pré-candidata, teve mais exposição do que o senhor terá. Essa estratégia de apostar muito no horário eleitoral, que tem curta duração, não o prejudica?
Haddad: Temos um projeto para a cidade. Tenho certeza de que vamos apresentar a melhor plataforma. Isso pesa na decisão do voto. Confio nessa estratégia, não em qualquer outra.
Valor: Qual o perfil adequado para o seu vice?
Haddad: Estamos em etapa que antecede essa. Se não soubermos com quem estaremos no primeiro turno – e isso pode demorar semanas – não há como definir o perfil de antemão.
Valor: Como será a composição da coordenação da sua campanha? Marta Suplicy terá papel de destaque?
Haddad: Vamos discutir isso na semana que vem. Essas coisas às vezes se resolvem em maio, junho e estamos resolvendo em março. Não discuti com ela [Marta] os termos de sua participação. Ela vai definir e vou respeitar a decisão que tomar, qualquer que seja o alcance da participação, se será agora ou daqui a três meses.
Valor: O senhor contava com Lula na articulação das alianças e a defecção do PSD fez partidos com que o PT contava já não serem mais tão certos. Na ausência de Lula, como se dará a confecção da aliança?
Haddad: Estabelecemos uma relação de diálogo com esses partidos. Não estamos nos propondo a fazer as barganhas que estão sendo noticiadas. Não vamos proceder dessa maneira.
Valor: Mas a ida do senador Marcelo Crivella para o governo já não foi uma barganha?
Haddad: Absolutamente. Tanto é que não houve consequência nenhuma no cenário local. É uma composição antiga com o PRB, que remonta aos tempos do vice José Alencar.
Valor: O PR e o PDT querem mais ministérios e ao mesmo tempo têm negociado com o PT…
Haddad: O PR e o PDT estão em ministérios. O que às vezes incomoda é o partido não se sentir representado por um filiado, o que é natural. Mas estão na base do governo e representados no ministério. É uma aliança que remonta ao governo Lula, no primeiro mandato.
“Ninguém é contra a meritocracia, minha única recomendação foi de houvesse diálogo com os docentes”
Valor: O PT não corre o risco de ficar isolado?
Haddad: Na cidade o jogo duro com o PT sempre foi a regra, não exceção. A Marta, que concorreu três vezes, nunca teve moleza para compor aliança. A máquina do Estado sempre atuou no sentido de tentar nos isolar.
Valor: Marta teve o apoio do bloquinho e do PR, mas agora até o PCdoB ameaça com candidatura própria. Com quem o PT já conta?
Haddad: Não temos aliança fechada com nenhum desses partidos. Penso que as coisas não devem se desdobrar no curto prazo.
Valor: Com o PSB, o governador Eduardo Campos disse que o apoio não será fechado agora. O PT ainda tem algo a oferecer?
Haddad: Não foi pedido nada para mim. [O PT] vai atrair como Lula atraiu, como a presidente Dilma atraiu, como a Marta em uma eleição atraiu – na outra não conseguiu. Tem um tabuleiro montado no país, muitas variáveis em jogo. Mas a decisão cabe ao PSB.
Valor: Informalmente, Kassab atribuia a culpa de o PSD não ter fechado aliança ao fato de o PT ter demorado a aceitá-lo. Houve essa demora?
Haddad: Ele nunca procurou o PT formalmente. Nunca se sentou com o presidente nacional do partido, nem com o municipal. Sempre deixou claro que se Serra fosse o candidato ele o apoiaria. Fizemos oposição ao governo dele durante oito anos. Ele estava oferecendo apoio sem pedir nada em troca, num primeiro momento. Mas isso foi feito pelos jornais.
Valor: Mas era uma aliança bem vista por Lula e pela direção estadual do PT. O acordo teria evitado o apoio do PSD ao Serra?
Haddad: O [ex] presidente Lula, quando conversou comigo, estava muito animado com a possibilidade de termos na chapa, como vice, o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles. Isso realmente sensibilizou o presidente Lula e foi nesses termos que ele tocou no assunto comigo, na única vez que conversamos sobre o tema, em decorrência da visita que o prefeito Kassab tinha feito a ele. Houve a ideia de que nosso projeto nacional estaria bem representado na cidade se tivéssemos dois representantes de seu governo com perfis complementares.
Valor: PT e PMDB têm acordo de apoio mútuo no segundo turno. O senhor acha que Chalita ajuda mais a sua candidatura saindo como candidato separado agora?
Haddad: Temer me explicou que [o PMDB] está sem representação na cidade, com pouca representação no Estado e que há necessidade de lançar um nome novo. A estratégia do PMDB de se recolocar no Estado me parece mais do que legítima. Temer me disse: nós estaremos juntos no segundo turno.
Valor: Além da oposição a Kassab o que o aproxima de Chalita?
Haddad: O país está vivendo um momento de ouro, somos vitrine no mundo. E São Paulo não figura como cidade inovadora do ponto de vista do poder público. Ao contrário do setor privado que mostra uma pujança incrível, uma vontade de investir, de progredir, o poder público local está muito intimidado. A perspectiva comum que nos anima é essa. A ideia de que podemos colaborar com a cidade.
Valor: No passado o PT teve grandes diferenças com Chalita na bonificação dos professores que teve a oposição do PT. Na gestão Kassab a meritocracia virou regra. Qual será sua posição?
Haddad: Ninguém é contra a meritocracia. Muito pelo contrário. Se tem uma coisa que não há como negar é que quem implementou no país plano de meta em qualidade de educação foi o governo Lula. Ninguém sonhava com isso antes de 2005, quando criamos a Prova Brasil e houve resistência do governo do Estado de São Paulo, que não aplicou a Prova Brasil naquele ano.
Valor: Houve grande resistência do PT também.
Haddad: Sofri resistência de todo mundo. Ninguém queria quebrar esse paradigma. Eu apliquei a primeira Prova Brasil, dei transparência aos dados. Criei o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, o Ideb. Quem inventou esse sistema de metas de qualidade fomos nós. Fixamos diretrizes e metas de qualidade pela primeira vez no Brasil. Todos os governadores e prefeitos aderiram. A única recomendação, no que diz respeito a docentes, é que se tentasse construir em comum acordo com a categoria as medidas de mérito.
Valor: Mas o Ideb ajuda as escolas que estão em uma situação ruim, enquanto a política de meritocracia de São Paulo premia quem vai bem…
Haddad: Criamos isso também. Nós criamos as duas coisas. Para aquelas escolas que cumpriam as metas, o recurso era destinado automaticamente e recebia um recurso adicional. As que não cumpriam metas não eram penalizadas, mas para receber recursos tinham que apresentar um plano de reforma pedagógica. Os Estados aderiram e copiaram o mecanismo, cada um à sua maneira.
Valor: Em relação à progressão continuada, o senhor pretende mantê-la? O PT mostrou-se contrário na eleição estadual de 2010, com Mercadante.
Haddad: O que falta nas políticas públicas, em geral, não é o conceito de progressão continuada. Faltam as aulas de recuperação. Não há preocupação com a recuperação das crianças com defasagem de aprendizado, o que só é possível com a ampliação da jornada para um segundo turno, com atividades diferentes do primeiro, incluindo aula de recuperação específicas. [O PT] é contra a aprovação automática. Eu já assinei resolução do Conselho Nacional de Educação sobre esse assunto, disciplinei esse assunto no país.
Valor: O senhor tem meta de escolas em dois turnos?
Haddad: Vamos fixar no plano de governo metas específicas. Hoje o município não tem nenhuma meta.
Valor: Qual sua avaliação sobre a política de internação compulsória em São Paulo?
Haddad: Internação compulsória sem autorização judicial é uma temeridade. Sou contra. Não vislumbro possibilidade de dispensar o Judiciário para uma discussão que tem a ver com liberdades individuais e que abre perspectivas de uma jornada muito autoritária em relação aos indivíduos. Na forma da lei, com laudos médicos, em casos onde há risco efetivo, com prazos, providência assistencial, é uma coisa que as sociedades civilizadas contemplam.
Valor: A internação compulsória tem apoio de 80% da população, segundo pesquisas. Como o senhor vai trabalhar isso?
Haddad: Penso que a pergunta não foi corretamente feita pela pesquisa. Quero crer que o cidadão não tenha sido devidamente esclarecido sobre os riscos de uma autoridade internar uma pessoa sem critério. Duvido que as pessoas, uma vez esclarecidas, deem apoio para medidas arbitrárias que podem levar a um regime de força e a um quadro de exceção no país.
Valor: A internação compulsória não tem apelo junto a um eleitorado de histórico conservador que o senhor precisa conquistar?
Haddad: Não posso abdicar das minhas convicções por conveniência eleitoral. Qual é o partido que não defende a segurança pública? Alguém contra a internação judicial quer a desordem? Daí não estamos falando de democracia.
Valor: O senhor concorda com a atuação da prefeitura na Cracolândia? Qual sua política para a região?
Haddad: A prefeitura não tem força policial. A ocupação do território ali era importante. A Polícia Militar tem que atuar onde há tráfico e envolvimento de crianças e mulheres grávidas com drogas, mas acompanhada de uma visão assistencial e de saúde pública, para evitar a disseminação de cracolândias pelos bairros, que é uma reclamação de moradores que não estavam sofrendo esse problema e agora estão. Houve um descompasso. Poderia ter sido diferente se houvesse a concorrência do setor da saúde e da assistência.
Valor: Em São Paulo as organizações sociais ganham terreno na administração da saúde. Qual será sua política em relação às OSs?
Haddad: Em primeiro lugar, nesse debate me manifestei contrário à privatização dos leitos do SUS que se tentou fazer no governo do Estado. Os leitos públicos têm que ser 100% SUS. Uma segunda questão é a gestão. Reconheço a excelência de trabalho de algumas OSs, mas tenho preocupação com o relatório do Tribunal de Contas do Município em relação a algumas delas, com irregularidades. As regras de prestação de contas, de controle social precisam ser organizadas. Caso contrário, vai se investir cada vez mais na saúde e não veremos o retorno na qualidade.
Valor: O senhor aprova esse sistema de gestão?
Haddad: Há OSs que têm modelo de excelência. Agora os hospitais que vamos construir eu não pretendo terceirizar. Vamos adotar o modelo federal.
Valor: E os postos de saúde como as AMAs?
Haddad: O que está pactuado nós vamos manter, a não ser no caso de irregularidade comprovada. Há casos em que incidiremos para corrigir distorções. As novas unidades vão seguir o modelo federal, de empresa pública.
Valor: O senhor disse que o que está pactuado será mantido. E os contratos com as empresas de ônibus, que são objeto de tantas reclamações de usuários, o senhor se dispõe a revê-los?
Haddad: Obrigatoriamente, porque o prazo para revisão é 2013. Não há como prorrogar. Não foi feito absolutamente nada no transporte em ônibus de oito anos para cá. Não tem investimento em terminais, em corredores, na operacionalização e racionalização do sistema. Se publicarmos o edital para a renovação das concessões esse edital vai ter que prever regras para repactuar o sistema. Fizemos a parte mais difícil da remodelagem do sistema, que foi o Bilhete Único. De lá para cá, o que era mais fácil – racionalizar, otimizar, expandir os corredores -, não foi feito. Por quê? Abandonaram o sistema multimodal. A velocidade média vai cair ainda mais se essa decisão não for revertida.
Valor: O senhor pretende mudar a política municipal em relação ao metrô? Kassab prometeu investir no metrô, entrou com parte dos recursos prometidos. A prefeitura tem capacidade financeira?
Haddad: Temos condição, sim, de ajudar o metrô. Temos que repactuar essa relação, auxiliar o metrô e exigir um pouquinho mais de ritmo. Com dois quilômetros por ano estamos na lanterna do mundo emergente. O aporte em troco do quê a mais para São Paulo? O aporte em troca do mesmo não me parece muito justo. Os custos estão aumentando e a quilometragem do metrô anda no mesmo passo, de dois quilômetros por ano.
Valor: Qual sua opinião sobre pedágio urbano?
Haddad: A restrição tem que se justificar pela oferta de transporte público e isso está fora de cogitação pelo simples fato de que a cidade não está fazendo o dever de casa. Se tivéssemos 250, 300 km de corredores de ônibus, 100 km de metrô, teríamos condições de até inibir não só com pedágio, mas com outras maneiras como o rodízio.
Valor: Quando fala em restrição, o senhor apoia a medida tomada por Kassab de proibir a circulação de caminhões na Marginal em determinados horários?
Haddad: Vamos pagar caro o fato de termos errado no abandono do modelo de sistema de transporte [em 2005]. Não se abre mão de um modal tão importante, tão capilarizado por um capricho partidário. Tem que reconhecer que foi tomada uma medida errada e é preciso acelerar o passo trazendo o PAC. Temos que investir dobrado depois desses oito anos para recuperar o tempo perdido.
Valor: O prefeito engordou o caixa e chegou neste ano com R$ 6 bilhões para investir. Se esse dinheiro estivesse nas suas mãos, como investiria?
Haddad: Teria ampliado os corredores, investido muito em transporte público, construído centros de educação infantil, creche e pré-escolas, para dar conta do déficit que é enorme. Teria construído hospitais, robustecido o sistema de saúde para responder mais prontamente à demanda por exames; provavelmente [investiria] em profissionais especialistas. Na questão ambiental, a coleta seletiva praticamente estagnou. Não houve investimentos. O mesmo aconteceu com as ciclovias. Temos que pensar a bicicleta como alternativa concreta, não apenas como lazer.
Valor: Qual seria o principal problema da gestão Kassab?
Haddad: É quase unânime que houve um erro estratégico no transporte público e mobilidade urbana. Temos que aproveitar as eleições para admitir esse erro e recuperar o tempo perdido. A parceria com o governo federal é essencial.
Valor: E qual é a melhor política pública da atual gestão?
Haddad: Gosto de parcerias que foram feitas com o governo federal na urbanização de favelas, mas foram muito poucas.
Valor: Como o senhor pretende levar essas propostas de mudança para uma população que resiste ao PT?
Haddad: Não sei se é vício de professor, mas acredito na tese do melhor argumento. Dou aula porque acredito que você pode transmitir conhecimento, quando se aprofunda nos debates em que se envolve. Acredito que vamos apresentar os melhores argumentos para vencer estas eleições. Não posso assegurar que serão suficientes, mas eu acredito que possam ser suficientes. A cidade está aberta, preparada para ouvir.

Cristiane Agostine e Maria Cristina Fernandes