Ponto de Cultura

Projeto capacita artesãos em Iparana

O fazer artesanal está sendo vivenciado, diariamente, por adolescentes e adultos da localidade de Imbuaça, na Praia de Iparana, neste Município. O grupo, formado por 40 jovens, faz parte do Ponto de Cultura Artesanato e Tradição, iniciado em 2009. Marcada pela história de mobilização pelos direitos, a comunidade viu no artesanato a possibilidade de romper com a exclusão social.

Esta é a segunda turma do Ponto de Cultura. Cada uma delas participa de um ano de atividades, conhecendo e praticando cinco modalidades artesanais: tecelagem, bordado, filé, cerâmica e xilogravura. Além das atividades artesanais, os alunos participam de ações sociais, de educação ambiental e passeios culturais. "Damos uma formação cultural e artística para os participantes", afirmou o coordenador pedagógico do projeto, Alysson Maciel.

A coordenação do projeto foi buscar nos melhores profissionais das áreas trabalhadas a experiência necessária para se desenvolver produtos de qualidade. Aliado à isto, estão agregando o saber comunitário na prática de tecer tapetes. "A nossa experiência é em tecelagem. O Ponto de Cultura veio potencializar este fazer e também outros novos. Aqui o fazer artesanal é muito forte na nossa tradição", afirmou o coordenador do Ponto de Cultura, Gilberto Brito. Ao final, a coordenação espera montar um Museu Comunitário dos Saberes e Ofícios do Artesanato Cearense, em Iparana.

Para o coordenador Gilberto Brito, a localidade de Iparana é estratégica para este novo empreendimento cultural. "Nós não temos nenhum Museu de Tradições. Se você mexe com esses saberes todos, está em uma rota turística e em uma área em desenvolvimento, como estamos, tem tudo para dar certo", afirmou.

Nesse processo de incubação do museu, os jovens da comunidade estão se preparando para este novo desafio. A estudante Daniele Costa Leite, de 17 anos, já faz artesanato com chinelos de borracha. Viu o curso como oportunidade de agregar novos saberes à sua prática. "Eu bordo chinelos, decoro-os. Vim aprender mais coisas", afirmou.

Já a adolescente Andressa Batista Dias, de 14 anos, conta que o primeiro tapete produzido durante as aulas foi motivo de espanto para família. "A primeira peça levei para mostrar lá em casa. Gostaram muito e nem acreditam que foi eu que fiz", relatou. Ela diz, também, que os conhecimentos aprendidos no Ponto de Cultura, pretende levar para outras pessoas.

"Eu incentivo. Gosto de vir aprender coisas novas e repassar para outras pessoas. Não deixar o nosso artesanato desaparecer", afirmou. "Eu amo o bordado, mas estou ansiosa em prender a cerâmica", afirma ela. Juliana Rodrigues Barros, de 17 anos, trouxe a experiência de casa para compor suas aulas. "Minha mãe faz crochê. Eu sei mais ou menos. Ela e minha irmã já faziam o curso e eu decidi participar", disse.

As atividades do Ponto de Cultura Artesanato e Tradição acontecem no Centro de Artesanato de Imbuaça, local fundado em 1990 e que abriga também a Fundação Irmã Zilpha Augusta Bezerra. Lá estão reunidos os movimentos sociais da localidade, conforme conta o coordenador pedagógico Alysson Maciel Pinto. "Aqui estão reunidos vários movimentos. Apesar da pouca estrutura é aqui que a comunidade se reúne", disse.

Resultados

Para Gilberto Brito, um dos principais resultados alcançados pelo Ponto de Cultura "foi gerar o interesse dos adolescentes para o artesanato. Eles vêm aqui, participam. O aprender artesanal tem esse envolvimento", complementando, "sabemos que onde vamos colocar as sementes, vai brotar". Como fruto do trabalho, a turma de 2010 está desenvolvendo modelos de bordados para oferecer à compradores. "Estão procurando o produto. Estamos desenvolvendo os protótipos para oferecermos um produto profissional", disse.

Além disso, dez teares estão sendo confeccionados pelos próprios estudantes. Com início previsto para daqui a três meses, o objetivo é que os alunos produzam tapetes em suas próprias residências. O projeto, denominado Tear no Lar, deverá ser o pontapé inicial para o Museu Comunitário. "Acreditamos no futuro dessa comunidade. Aqui é bonito e as pessoas vivem aqui", finalizou o coordenador pedagógico, Alysson Maciel.

Resultados

"O Ponto de Cultura veio potencializar o fazer artesanal de Iparana e outros novos"

Gilberto Brito
Coordenador do Ponto de Cultura

"O contato das pessoas com a cultura é um dos resultados que alcançamos"

Alysson Maciel
Coordenador pedagógico do projeto

MAIS INFORMAÇÕES

Ponto de Cultura Artesanato e Tradição - Centro de Artesanato de Imbuaça - Iparana - Caucaia (CE)
Telefone: (85) 3318.9339

EMPREENDIMENTO SOCIAL

Museu Comunitário à vista

Caucaia. Uma indústria artesanal doméstica. Partindo deste princípio é que a coordenação do Ponto de Cultura Artesanato e Tradição, na Praia de Iparana, pretende viabilizar o Museu Comunitário. "Estamos nos constituindo como museu dos saberes e dos ofícios artesanais cearenses", afirmou o coordenador do projeto, Gilberto Brito. Para isso, além de repassar os saberes e fazeres do bordado, cerâmica, xilogravura, tapete e filé para jovens e adultos, o projeto tem articulado uma rede produtiva.

Atualmente, os alunos capacitados no Ponto de Cultura estão produzindo 10 teares para a confecção de tapetes. "Os tapetes serão os alavancadores do museu", afirmou. Afora a criação e potencialização dos produtos artesanais já existentes na comunidade, os saberes também serão repassados. "Nós queremos vender a demonstração e não só produto", completou Brito.

Estes são os pilares de um Museu Comunitário: revitalizar, pesquisar, demonstrar, vender, conviver. Surgidos no final do século XX, os museus comunitários relacionam a história da comunidade, suas raízes, produções culturais, à perpetuação do fazer artístico e suas significações. A relação socioeconômica também tem importância neste processo. "Queremos receber escolas, universidades e turistas que queiram vivenciar e aprender o artesanato de Iparana, mas de uma forma profissional", afirmou Gilberto Brito.

Para isso, o projeto espera conseguir parcerias. "Não podemos esperar somente dos editais. Atualmente só recebemos apoio do Ponto de Cultura. Mas vamos bater na porta das empresas que estão aqui, que já sinalizaram apoio", disse Brito.

EMANUELLE LOBO
REPÓRTER

A Presidente Responde

Carlos Serrão, 49 anos, autônomo de Belém (PA)
Por que o financiamento do programa Minha Casa Minha Vida não é facilitado para quem possui terreno próprio todo documentado?

Presidente Dilma 
Carlos, no programa Minha Casa Minha Vida já existe uma linha de crédito específica para atender famílias que são proprietárias de terrenos regularizados e que pretendem construir neles sua casa própria. Neste caso, desde que o proprietário do terreno atenda às condições estabelecidas, poderá procurar uma agência da Caixa e pleitear o financiamento. Na ocasião, os funcionários prestarão esclarecimentos quanto à documentação necessária e os procedimentos que precisam ser adotados. O financiamento é liberado em parcelas mensais, de acordo com o andamento da execução das obras. Dentro do programa Minha Casa Minha Vida, do total de 1.005.028 unidades financiadas até dezembro de 2010, foram concedidos 79.501 financiamentos para construção de imóveis diretamente às famílias que eram proprietárias de terrenos. Ou seja, aproximadamente 8% do total foi direcionado para este segmento. Cumprindo os requisitos, é simples adquirir o financiamento. Para mais informações, basta procurar uma agência da Caixa, acessar o site www.caixa.gov.br ou ligar para 0800-7260101.

Nova CPMF

...Bom debate

Os governadores recebem diretamente a pressão popular por mais e melhores serviços na saúde. E pressionam por uma solução política para o financiamento do setor. É legítimo.

O governo federal tem número para aprovar qualquer coisa no Congresso, inclusive aumento de impostos. O problema virá depois, quando apesar do incremento financeiro a saúde não exibir o avanço correspondente.

Será bom, também, saber as garantias de que o dinheiro a mais irá mesmo para a saúde. Vai haver vinculação constitucional? Mas como, se a legislação proposta é infraconstitucional?

Vai ser um belo debate.

O Poder desestabilizado

...A encruzilada dos States

Não consigo entender a razão que me impede de ser um grande admirador dos Estados Unidos da América do Norte. E olhe que já tentei: comprei um chapeuzinho do Mickey na Disneylândia, fantasiei-me de Homem Aranha no Carnaval, compadeci-me com os assassinatos de John Kennedy e Martin Luther King, tenho uma nota de um dólar guardada como talismã, mas não tem jeito, não consigo engolir o tal ‘american way of life’.
Devo confessar, inclusive, que tenho grande admiração pela produção cultural norte americana, sua literatura, seu teatro dramático e musical, o blues e o soul na música, muitos de seus filmes, poetas como Whitman e Auden, dramaturgos como Albee, Miller e Tennessee Williams, escritores do talento de Faulkner e Baldwin… E a lista aqui seria extensa.

Mas quanto à sua decantada democracia e o seu papel de polícia do mundo, não. Aí, não… Aí o assunto se reveste de inquestionável transcendência.  O mundo já está cansado da intromissão direta de siglas como CIA, DEA, FBI, MARINES ou indireta como FMI, ONU, OEA, OTAN (onde prevalece a ‘visão norte americana’ e corporativa do mundo capitalista) e outras menos conhecidas pelo grande público, mas não menos importantes ou perniciosas.

por Marcos Coimbra

Serra aposta no fracasso de todos

Não há partidos ou movimentos políticos exclusivamente bons ou unicamente ruins, se os considerarmos em seu tempo e lugar. Na vida real das sociedades, eles são uma mistura de coisas boas e más, de acertos e erros (salvo, é claro, exceções como o nazismo).

Tudo é uma questão de proporção, do peso que o lado ruim tem em relação ao bom. São bons os movimentos políticos e os partidos (bem como as tendências que existem no interior de alguns), cuja atuação tende a ser mais positiva para o País, seus cidadãos e instituições. São os opostos aqueles que fazem o inverso, que agem, na maior parte das vezes, de maneira negativa.

Tome-se o serrismo, um fenômeno pequeno, do ponto de vista de sua inserção popular, mas relevante no plano político. Afinal, não se pode subestimar uma tendência tucana que conseguiu aprisionar o conjunto de seus correligionários, mesmo aqueles que não concordavam com ela (e que eram maioria), e os levou a uma aventura tão fadada ao insucesso quanto a recente candidatura presidencial do ex-governador José Serra. E que tem, além disso, tamanha super-representação na mídia, com simpatizantes espalhados nas redações de nossos maiores veículos.

Por menor que seja sua base social e inexpressiva sua bancada parlamentar, o serrismo existe. E atrapalha. Muito mais atrapalha que ajuda.

Neste começo de governo Dilma, recém-completada sua primeira quinzena, o serrismo já mostra o que é e como se comportará nos próximos anos. Os sinais são de que será um problema para todos, seja no governo, seja na própria oposição.

Vem da grande imprensa paulista (uma insuspeita fonte na matéria), a informação de que seus integrantes estão revoltados com a trégua que outras correntes do PSDB estariam dispostas a oferecer à presidenta. Em vez da “colaboração federativa” buscada pelos governadores tucanos e as bancadas afinadas com eles, os serristas querem “partir para o pau”.

O senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), expoente máximo da tropa de elite serrista, dá o mote, ao afirmar que o PSDB deveria ser duro contra Dilma desde já, de forma a ser uma referência oposicionista no futuro. O pano de fundo do que propõe, percebe-se com facilidade, é posicionar o serrismo (de novo!) para a sucessão de Dilma.

Segundo as informações disponíveis, a primeira meta do grupo de José Serra (cujo tamanho, diga-se de passagem, é ignorado) é aproveitar-se da tragédia das chuvas na região serrana do Rio para golpear a presidenta, responsabilizando-a pela ocupação caótica de encostas e outras áreas de risco nas cidades atingidas. Para esses personagens, seria a incompetência de Dilma, à frente do PAC, a causa de tantas mortes e sofrimento. Ou seja, vão tentar vender a versão de que, se ela fosse melhor gerente, nada teria acontecido.

Em nossa permissiva cultura política, não há surpresa no oportunismo da proposta. Ninguém se espanta que alguém faça um jogo como esse, que queira tirar dividendos de uma catástrofe e que, para isso, torça fatos e procure­ enganar os incautos. Todos nos acostumamos com essa falta de seriedade.
Mas até os mais céticos ficam perplexos com o contraste entre o que dizem agora os serristas e o que foi a campanha que fizeram na eleição de 2010.

Ou será que ninguém ouviu José Serra se apresentar como “verdadeiro continuador” de Lula? Que não viu Serra evitar qualquer crítica ao ex-presidente, dizendo que concordava com ele e que nada mudaria em seu governo (a não ser aumentar o salário mínimo para 600 reais e conceder uma 13ª parcela do Bolsa Família aos beneficiários)?

Derrotado, o serrismo virou oposição intransigente, e quer levar os grupos vitoriosos de seu partido com ele. Enquanto esteve à frente do governo de São Paulo, buscou a boa convivência e a colaboração com o Planalto, avaliando que, ao agir dessa maneira, aumentava suas­ chances na sucessão de Lula. Agora que não tem escolha, se exime de qualquer compromisso e parte para o pau.

É pouco provável, no entanto, que consiga arrastar o restante do PSDB e os demais partidos de oposição para a radicalização anti-Dilma. No fundo, o serrismo apenas tenta preservar algum espaço em um cenário cada vez mais desfavorável para seus propósitos.

É só se tudo der errado, seja para a presidenta, seja para as novas forças oposicionistas, que o serrismo tem sobrevida. Sua aposta é o fracasso de todos.

Governo deve conviver com críticas

  ÍNTEGRA DO DISCURSO DE DILMA ROUSSEFF

Eu queria desejar boa noite a todos os presentes.

Cumprimentar o sr. Michel Temer, vice-presidente da República, o nosso governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin, e a senhora Lu Alckmin. Queria cumprimentar o senador José Sarney, presidente do Senado. Queria cumprimentar também o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Cumprimentar o presidente da Câmara dos Deputados, deputado Marco Maia. O ministro Cezar Peluso, presidente do Supremo Tribunal Federal, por meio de quem cumprimento os demais ministros do Supremo presentes a esta cerimônia.

Queria cumprimentar a família Frias, o Luiz, o Otavio, a Maria Cristina, e queria cumprimentar também o senhor José Serra, ex-governador do Estado.

Dirijo um cumprimento especial também aos governadores aqui presentes e também aos ministros de Estado que me acompanham nesta cerimônia. Cumprimento o senhor Barros Munhoz, presidente da Assembleia Legislativa do Estado.

Queria cumprimentar também todos os senadores, deputados e senadoras, deputados e deputadas federais, deputados e deputadas estaduais. Queria cumprimentar o senhor Paulo Skaf, presidente da Fiesp. Dirigir um cumprimento especial aos representantes das diferentes religiões que estiveram neste palco.

Dirigir também um cumprimento a todos os funcionários do Grupo Folha. Queria cumprimentar os senhores e as senhoras jornalistas. E a todos aqueles que contribuem para que a Folha seja diariamente levada até nós.

Eu estou aqui representando a Presidência da República, estou aqui como presidente da República. E tenho certeza que cada um de nós percebe, hoje, que o Brasil é um país em desenvolvimento econômico acelerado. Que aspira ser, ao mesmo tempo, um país justo, uma nação justa, sem pobreza, e com cada vez menos desigualdade. Para todos nós isso não é concebível sem democracia. Uma democracia viva, construída com esforço de cada um de nós, e construída ao longo destes anos por todos aqui presentes. Que cresce e se consolida a cada dia. É uma democracia ainda jovem, mas nem por isso mais valorosa e valiosa.

A nossa democracia se fortalece por meio de práticas diárias, como os diferentes processos eleitorais. As discussões que a sociedade trava e que leva até as suas representações políticas. E, sobretudo, pela atividade da liberdade de opinião e de expressão. E, obviamente, uma liberdade que se alicerça, também, na liberdade de crítica, no direito de se expressar e se manifestar de acordo com suas convicções.

Nós, quando saímos da ditadura em 1988, consagramos a liberdade de imprensa e rompemos com aquele passado que vedava manifestações e que tornou a censura o pilar de uma atividade que afetou profundamente a imprensa brasileira.

A multiplicidade de pontos de vista, a abordagem investigativa e sem preconceitos dos grandes temas de interesse nacional constituem requisitos indispensáveis para o pleno usufruto da democracia, mesmo quando são irritantes, mesmo quando nos afetam, mesmo quando nos atingem.

E o amadurecimento da consciência cívica da nossa sociedade faz com que nós tenhamos a obrigação de conviver de forma civilizada com as diferenças de opinião, de crença e de propostas.

Ao comemorar o aniversário de 90 anos da Folha de S.Paulo, este grande jornal brasileiro, o que estamos celebrando também é a existência da liberdade de imprensa no Brasil.

Sabemos que nem sempre foi assim. A censura obrigou o primeiro jornal brasileiro a ser impresso em Londres, a partir de 1808. Nesses 188 anos de independência, é necessário reconhecer que na maior parte do tempo a imprensa brasileira viveu sob algum tipo de censura. De Líbero Badaró a Vladimir Herzog, ser um jornalista no Brasil tem sido um ato de coragem. É esta coragem que aplaudo hoje no aniversário da Folha.

Uma imprensa livre, plural e investigativa, ela é imprescindível para a democracia num país como o nosso, que além de ser um país continental, é um país que congrega diferenças culturais apesar da nossa unidade. Um governo deve saber conviver com as críticas dos jornais para ter um compromisso real com a democracia. Porque a democracia exige sobretudo este contraditório, e repito mais uma vez: o convívio civilizado, com a multiplicidade de opiniões, crenças, aspirações.

Este evento é também uma homenagem à obra e ao legado de um grande empresário. Um homem que é referência para toda a imprensa brasileira. Octavio Frias de Oliveira foi um exemplo de jornalismo dinâmico e inovador. Trabalhador desde os 14 anos de idade, Octavio Frias transformou a Folha de S.Paulo em um dos jornais mais importantes do nosso país. E foi responsável por revolucionar a forma de se fazer jornalismo no nosso Brasil.

Soube, por exemplo, levar o seu jornal a ocupar espaços decisivos em momentos marcantes da nossa história, como foi o caso da campanha das Diretas-Já. Soube também promover uma série de inovações tecnológicas, tanto nas versões impressas dos seus jornais, como nas novas fronteiras digitais da internet.

Reafirmo nessa homenagem aos 90 anos da Folha de S.Paulo meu compromisso inabalável com a garantia plena das liberdades democráticas, entre elas a liberdade de imprensa e de opinião.

Sei que o jornalismo impresso atravessa um momento especial na sua história. A revolução tecnológica proporcionada pela internet modificou para sempre os hábitos dos leitores e, principalmente, a relação desses leitores com seus jornais. Como oferecer um produto que acompanhe a velocidade tecnológica e não perca a sua profundidade? Como aceitar as críticas dos leitores e torná-las um ativo do jornal?

Sei que as senhoras e os senhores conhecem a dimensão do desafio que enfrentam, e que, com a mesma dedicação com que enfrentaram a censura, irão encontrar a resposta para esse novo desafio. E desejo a vocês o que nesse caminho sintetiza melhor o sucesso: que dentro de 90 anos a Folha continue sendo tão importante como agora para se entender o Brasil.

É nesse espírito que parabenizo a Folha pelos seus 90 anos. Parabenizo cada um daqueles que contribuem, e daquelas que contribuem, para que ela chegue à luz. A todos esses profissionais que lhe dedicam diariamente o melhor do seu talento e do seu trabalho.

Por fim, reitero sempre, que no Brasil de hoje, nesse Brasil com uma democracia tão nova, todos nós devemos preferir um milhão de vezes os sons das vozes críticas de uma imprensa livre ao silêncio das ditaduras.

Muito obrigada.



Imprensa quer pena de banimento eterno

Na campanha que a imprensa intensifica contra os arrolados na Ação Penal 470 (AP-470) em tramitação no Supremo Tribunal Federal (STF) - leiam o Destaque no alto e o post De novo a história de uma briga com Palocci - a VEJA desta semana chega a colocar em minha boca uma frase que evidentemente eu não disse: a de que o recém-nomeado ministro do STF, Luis Fux, estaria “alinhado com minha posição.”

Não disse esta frase, nunca diria nem nada parecido e, inclusive, enviarei uma carta-desmentido para a revista. No recrudescimento desta campanha midiática, até mesmo a posição e luta do PT pela reforma política, voto em lista, fidelidade partidária e financiamento público de campanhas eleitorais é apresentada por O Globo do domingo (ontem) como uma espécie de reforço a nossa defesa no Supremo. Pode?

Também, tanto o convite ao ex-deputado José Genoino (PT-SP), feito pelo ministro Nelson Jobim para assessorá-lo no Ministério da Defesa, quanto a eleição do deputado João Paulo Cunha (PT-SP) como presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara (CCJ) são apresentados como pressão ou uma forma de legitimação que atenuaria a situação deles no Supremo.

Imprensa quer nos impor pena de banimento eterno


Mas, como, se eles estão em pleno gozo de seus direitos políticos e nada os impede de exercer esses cargos? Mas, mesmo aí a mídia encontra uma justificativa para sua posição: eles estão condenados, pelos menos moral e eticamente. Logo, para ela, a pena tem que ser o banimento da vida política e social do país.

Imprensa e mídia, em geral, agem e cobram como se fosse uma pena eterna e bastasse o julgamento moral feito por elas. São verdadeiros tribunais de exceção para condenar qualquer cidadão. Qualquer semelhança com a Inquisição está correta.

Nossos direitos de defesa e de presunção da inocência são sagrados. O ônus da prova cabe à acusação e quem decide é a Justiça. É só isso que quero, nada mais. Deixem a Justiça decidir. Não aceito e não aceitei nesses longos seis anos nenhum banimento como tenta impor a mídia.

Qualquer semelhança com a Inquisição está correta


Já fui banido pela ditadura militar quando perdi minha nacionalidade, fui cassado e tive os meus direitos políticos suspensos por 10 anos. Em 2005, a Câmara dos Deputados me cassou de novo, sem provas, num fato inédito na história do país.

Agora, só me resta o STF em quem confio e que julgará, tenho certeza, com base nos autos e nas provas, na Constituição e na lei. Não será a mídia. Só espero da Justiça e de meu país - ao qual dediquei minha vida - isto: o tratamento de acordo com os princípios do direito universal, das nossas leis e Constituição, segundo os quais todos são iguais perante a lei.