Mostrando postagens com marcador Liberdade de Imprensa. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Liberdade de Imprensa. Mostrar todas as postagens

Quem é mais radical?

A História como piada: a telenovela da regulação da mídia deve ganhar lances sensacionais (ou patéticos, depende de quem a observa) quando se examinar com a devida atenção um projeto de lei preparado em segredo há 12 anos pelo homem forte do governo de Fernando Henrique Cardoso, seu amigo e confidente, o então ministro das Comunicações Sergio Motta.
Segredo? Em termos: na edição nº 76, de 5/10/1999, este Observatório da Imprensa comentou a quinta versão da Lei de Comunicação Eletrônica de Massa, produzida por Motta, e também a sexta versão do documento, chancelada por um de seus sucessores no ministério, Pimenta da Veiga. O material fundamentou-se em um vasto arsenal de análises e contestações encabeçado por um estudo pormenorizado de Guilherme Canela de Souza Godoi e contribuições de estudiosos ímpares como o falecido Daniel Herz, o professor Murilo Cesar Ramos, o pesquisador Gustavo Gindre e o senador Pedro Simon. Veja os links abaixo:



** A versão Pimenta da Veiga – G.C.S.G.
** O sonho possível – G.G.
Sergio Motta não conseguiu terminar o seu revolucionário projeto, morreu em 1998, foi sucedido por Luiz Carlos Mendonça de Barros e, em seguida, pelo deputado federal e ex-líder do governo, Pimenta da Veiga, autor de uma nova e desastrosa versão destinada à cesta do lixo. À época, corria que fora redigida pelos consultores da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert).
Sem comoção
A mídia acostumou-se a classificar como radical o jornalista Franklin Martins, atual ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República. Todas as suas iniciativas são imediatamente carimbadas como atentados à liberdade de imprensa e logo rejeitadas.
Nossa mídia tem memória curta ou simplesmente ignora quem foi o Serjão, Sergio Motta, um trator que nada fazia pela metade. A Lei de Comunicação Eletrônica de Massa concebida por ele não era radical, era revolucionária: criava uma agência reguladora, impedia a propriedade cruzada de mídia eletrônica, interferia no vicioso sistema de concessões de radiodifusão, cuidava do conteúdo da programação, criava mecanismos para proteger os assinantes da TV paga, forçava o funcionamento do Conselho de Comunicação Social e facilitava a sobrevivência da TV Pública facultando-lhe o direito de veicular publicidade comercial.
Evidentemente não previu o extraordinário crescimento da internet nem contou com o atual estágio de desenvolvimento da telefonia móvel. Convergência de conteúdos era uma noção desconhecida. O projeto era holístico, como se dizia à época, integral. Ambicioso, audacioso e, sobretudo, estatizante. Tão estatizante que o petista e democrata Daniel Herz chegou a reclamar do excesso de prerrogativas oferecidas ao Executivo.
Esta incursão na história recente carrega evidentemente algumas doses de ironia. O projeto foi recebido com absoluta naturalidade, não causou alvoroço nem comoção, não foi bombardeado pela mídia. Ao contrário, algumas matérias da Folha de S.Pauloforam até simpáticas à iniciativa do governo porque àquela altura – antes da assinatura do Tratado de Tordesilhas entre os grupos Folha e Globo – o jornal dos Frias freqüentemente se atritava com a Vênus Platinada dos Marinho. O que era extremamente salutar em matéria de oxigenação (ver, neste OI, "A chocante parceria Globo-Folha" e "Pacto Globo-folha e o pacto do silêncio")
Viés conservador
Gozação à parte, é imperioso reverter o clima fanático que está comprometendo a discussão sobre regulação da mídia. Esta inclemência e intransigência numa questão que afeta diretamente o bem-estar da população é simplesmente inadmissível. O rancor que se irradia deste debate é extremamente tóxico, e se não for atalhado pode se espalhar.
Este confronto precisa ser urgentemente despolitizado porque coloca no mesmo lado um governo taxado de neoliberal e outro, indevidamente classificado como autoritário.
A sociedade brasileira é conservadora, mas também está cansada de ser abusada pelos mercados. É, às vezes, indisciplinada, mas quer sentir-se segura e por isso gosta de regulamentos, precisa deles. Seus valores são geralmente pequeno-burgueses, mundanos, mas também é sedenta de cultura e seriedade.
Alberto Dines

P4R4 4J6D4R B4ST4 CL1K4R N0 AN6NC10 Q63 T3 4GR4D4R

Quem respeita a liberdade de imprensa?



Image
Artur Henrique
Estou esperando até agora que o Estadão, a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), as associações Brasileira das Empresas de Rádio e TV (ABERT) e Nacional de Jornais (ANJ) se manifestem e defendam a liberdade de imprensa. O Jornal da CUT (edição de setembro) e a última edição da Revista do Brasil (outubro) foram censurados - impedidos de circular - por determinação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a pedido da coligação partidária do candidato da oposição José Serra (PSDB-DEM-PPS).

O relator, ministro Joelson Dias, indeferiu dois outros pedidos da coligação PSDB-DEM-PPS: a suspensão e retirada do ar do “Blog do Artur Henrique”, presidente da CUT; e que todo o processo tramitasse em segredo de Justiça. Quer dizer, o PSDB quer estabelecer censura à internet e à imprensa, mas não quer que ninguém saiba que é ele o censor.

José Serra atravessou a campanha eleitoral inteira como candidato a chefe da censura, empenhado em censurar principalmente a internet e o que chama de blogs sujos - todos os que não o apoiam. Conseguiu, agora, via TSE, censurar o jornal e a revista da CUT com o pretexto de que as publicações, ao trazerem na capa a candidata a presidente Dilma Rousseff (governo-PT-partidos aliados), comprovam seu apoio a ela. 

Ora, o Jornal da CUT e a Revista do Brasil podem sim apoiar quem quiser. Estampar na capa foto de Dilma não os transforma em material de campanha coisa nenhuma. A censura e proibição de sua circulação constituem um escândalo. Então os outros jornais e revistas podem apoiar candidatos e os dos sindicatos e centrais sindicais não? Continua>>>

L3R ? 3NT40 CL1K N0 4NÚNC10 QU3 T3 1NT3R3SS4 ! 4GR4D3Ç0 !

Lula critica promessas de Serra e condena censura a revista da CUT

Lula 18 de out
    O presidente Lula acusou ontem o candidato à Presidência pelo PSDB, José Serra, de fazer um leilão de benefícios à população. E reclamou de que as “irresponsabilidades” representadas pelas promessas do tucano não são alvos de críticas.

    “Quando eu queria dar 2% de reajuste aos aposentados, diziam que eu estava quebrando a Previdência. Agora não vejo as críticas necessárias às irresponsabilidades. Agora eu vejo alguém dizer ‘vou dar tantos porcento e sei como é que faz, porque tem dinheiro´. E ninguém fala nada”.
    Lula condenou também o veto, imposto pela Justiça Eleitoral em atenção a pedido do PSDB, à circulação da revista da CUT que mostra Dilma Rousseff na capa. Ele qualificou o pedido tucano como “hipocrisia”, lembrou que a oposição o acusa de ameaçar a liberdade de imprensa e classificou como um acinte à democracia a publicação, pela revista Veja, da foto do tucano mineiro Aécio Neves na capa da mais recente edição.
    “Eu vi uma revista com uma fotografia na capa que é um acinte à democracia. Todo mundo sabe da hipocrisia que reina nesse país. Nesse país ninguém tem de provar nada, é só acusar. É o acusado, mesmo que inocente, quem tem de provar sua inocência. Nesse país ser sério é uma afronta”, disse.

L3R ? 3NT40 CL1K N0 4NÚNC10 QU3 T3 1NT3R3SS4 ! 4GR4D3Ç0 !

Vice- procuradora quer censurar com o bico

Muito, muito grave mesmo a iniciativa da vice-procuradora-geral eleitoral, Sandra Cureau que classificou reportagem veiculada no último dia 5 pela TV Record sobre os dois candidatos do 2º turno à Presidência da República como tendo concedido "privilégio" a candidata Dilma Rousseff (governo-PT-partidos aliados) e por isso pede à Justiça Eleitoral que ela seja multada.

Sandra argumenta no processo que ao mostrar os resultados da votação em 1º turno nos diferentes bairros da capital paulista, a Rede Record criou "engenhosamente" uma divisão entre regiões nas quais cada candidato foi mais votado, associando Dilma às áreas mais humildes e o tucano José Serra (PSDB-DEM-PPS) às mais ricas da cidade.

A vice-procuradora eleitoral não gostou da reportagem. Mas o que dizem as pesquisas e confirmam os mapas eleitorais do 1º turno? Exatamente o que a reportagem mostrou, José Serra é o candidato preferido dos ricos e Dilma a dos pobres.

Sandra não gostou desta e de outras reportagens que tenham um caráter minimamente antitucano. Inclusive o Ministério Público Eleitoral (MPE) ajuizou representação, também, com pedido de multa, no TSE, contra o jornalista Paulo Henrique Amorim (da PHA Comunicação e Serviços S/C Ltda), e Geórgia Pinheiro por suposta propaganda irregular favorável a Dilma.

Candidata a chefe da censura, vai censurar com o bico
A propaganda teria sido publicada no dia 8, no site de Amorim e de acordo com o MPE, deixa "explícito pedido de votos" para Dilma. No caso do processo contra a Record, a Central de Comunicação da rede divulgou nota em que nega ter havido o favorecimento e afirma que a iniciativa parece tentativa de censura.

Como costuma escrever o colunista Ancelmo Góis em O Globo, "parece e é". Não gostar das reportagens é um direito da vice-procuradora. Mas, abrir processo é outra história, porque aí não passa de uma tentativa de censura à imprensa, inconstitucional pela Carta e leis brasileiras.

Se a moda pega, como ficam os comentaristas da CBN, Globo News, as matérias dos jornais diários, as das revistas semanais e o jornalismo nas emissoras de radio? A vice-procuradora-geral eleitoral Sandra Cureau, pelo visto, está simplesmente se candidatando a chefe da censura. No caso dela, nem precisa de uma tesoura, vai censurar com  o bico.

L3R ? 3NT40 CL1K N0 4NÚNC10 QU3 T3 1NT3R3SS4 ! 4GR4D3Ç0 !

Mídia - regulamentação e hipocrisia



 O ministro Franklin Martins foi à Europa convidar entidades internacionais para que participem de um seminário que será organizado pelo governo federal em novembro, no qual será discutido um projeto de regulamentação da comunicação por meios eletrônicos no Brasil.

A proposta será discutida pelos próximos parlamentares, que têm mandato até 2014, num amplo processo de debates como é da regra do jogo democrático. O mesmo caminho foi trilhado pelos demais países democráticos que aprovaram em seus Parlamentos legislações de regulação da mídia.
A mídia não é um segmento econômico qualquer. Seu produto são os fatos, as opiniões e as ideias, importantes para o debate político, para a fiscalização dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, para a formação da opinião pública. Mas a mídia, como outros segmentos econômicos, precisa ser regulada para que se impeça que meios de comunicação exerçam seu poder significativo de mercado, ou seja, a força de seu monopólio, quando ele ocorre, em detrimento dos direitos do cidadão e das liberdades individuais.
Embora as legislações modernas dos países desenvolvidos contemplem a regulação da mídia como peça importante da garantia dos direitos democráticos, as entidades que representam os maiores jornais e as redes de TV e Rádio já estão em alerta. Especularam, em seus jornais, que o governo do presidente Lula estuda medidas “autoritárias” de “limitação da liberdade de imprensa”.
Esse receio só pode ser fruto de ingenuidade ou má-fé: a viagem do ministro à Europa se dá justamente em um momento em que o Velho Continente, por meio da União Europeia, também está discutindo a regulamentação do setor.
No caso europeu, há necessidade de atualizar as leis vigentes para contemplar as possibilidades mais recentes de comunicação pela Internet. Já no Brasil, a necessidade de revisão é mais ampla, pois a legislação da radiodifusão data de 1962, mais do que ultrapassada. Uma legislação caduca, atropelada pelo advento da Internet e da convergência tecnológica que permite que por meio da mesma rede se transmita múltiplos serviços. Pelo celular, por exemplo, se pode acessar a Internet, ler notícias, mandar e-mails, jogar e assistir aos programas de televisão.
Essa nova realidade de comunicação multimídia por diversos meios, que vão muito além do rádio e da TV, exigem uma nova regulação. Em primeiro lugar, para evitar que a entrada em cena das operadoras de telecomunicações, fortes e poderosas, formem novos monopólios, aumentado ainda mais a concentração de mercado. Em segundo, para impedir que as empresas de mídia atuais ampliem seu poder de mercado, sem mecanismos de controle social. E mais do que isso: é preciso garantir espaço para as produções de conteúdo nacional.
Isso os países europeus já têm. Na França, o Conselho Superior do Audiovisual tem a missão de garantir que os canais de rádio e televisão reflitam a diversidade cultural francesa por meio da democratização das outorgas de transmissão e do controle de origem dos conteúdos: nas rádios, há uma cota de músicas em língua francesa que tem de ser transmitida, e, na TV, 60% do conteúdo tem de ser europeu —e, destes, 40% de origem francesa.
O CSA francês é formado por dez conselheiros, sendo que nove deles são indicados pelo governo (três pelo presidente, três pelo Senado e três pela Câmara dos Deputados). Esse modelo predomina na Europa. No Reino Unido e em Portugal, existem ainda órgãos governamentais aos quais a população pode encaminhar reclamações referentes à qualidade da programação e do conteúdo jornalístico dos canais que desfrutam de outorgas públicas.
No caso português, um dos mais recentes na Europa (foi instituído em 2005), a regulação atinge também os jornais impressos, os blogs e os sites independentes. Mesmo nos Estados Unidos, ainda tido como expoente máximo da democracia pelas empresas de comunicação brasileiras, justamente pela ausência de uma regulamentação unificada e sólida, um órgão forte —o FCC (Comitê Federal de Comunicação, em inglês)— regula o conteúdo das emissoras de televisão para evitar abusos contra os consumidores e cidadãos.
As limitações de propriedade lá são ainda maiores do que aqui no que se refere à comunicação de massas.
Nos países desenvolvidos, falar em regulamentação não causa furor, nem tentativas de rotulagem como aqui no Brasil. A compreensão mais ampla sobre seus direitos e suas responsabilidades, especialmente as socioculturais, permite com que europeus debatam de forma aberta a regulação do setor de comunicações, inclusive com a participação das empresas e profissionais.
É apenas disso que se trata a proposta apoiada pelo PT e que os monopólios brasileiros demonizam, como se temessem mortalmente o escrutínio de sua própria audiência. São medidas de inclusão social e cidadã adotadas em países de tradição democrática forte e consolidada, portanto, em nada se assemelha ao tolhimento da liberdade de expressão ou a autoritarismo.
No Brasil, no entanto, são tratadas como “ditatoriais” pela mídia corporativa, que busca a autorregulação à margem do Estado e da opinião do povo brasileiro. Seria mais produtivo que abandonassem tal hipocrisia e abraçassem o importante papel que têm em mãos: o de contribuir para o desenvolvimento do país nesse setor tão crucial para o nosso futuro.
José Dirceu

L3R ? 3NT40 CL1K N0 4NÚNC10 QU3 T3 1NT3R3SS4 ! 4GR4D3Ç0 !

O caso da psicanalista demitida ou o poder da imprensa brasileira

Os principais jornais brasileiros são anti-Lula e Dilma Rousseff
http://static.publico.clix.pt/files/header/img/publico.png
Por Alexandra Lucas Coelho, no Rio de Janeiro – Público - Portugal

Maria Rita Kehl entra no Teatro Nelson Rodrigues, puxando a sua mala de rodinhas. Vem de São Paulo, onde mora, para falar aqui, no centro do Rio de Janeiro. Todo o Brasil anda a discutir o caso dela, pelo menos o Brasil ligado à Internet. Mas Maria Rita não mudou o que estava planeado: vir falar neste palco, a convite do grupo fundado por Augusto Boal, um mito do teatro brasileiro.
Foi para Boal que Chico Buarque escreveu Meu Caro Amigo (”Aqui na terra tão jogando futebol ?/ Tem muito samba, muito choro e rock”n”roll / Uns dias chove, noutros dias bate sol / Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta”). Era a ditadura no Brasil e Boal estava exilado em Portugal (”um beijo na família, na Cecília e nas crianças”, mandava Chico).
E cá está Cecília, viúva de Boal, a dar agora um beijo de boas-vindas à amiga Maria Rita. Daqui a pouco, quando subir ao palco, Cecília vai contar como Boal escolheu Maria Rita como primeira leitora de todos os seus textos, e como seria o primeiro a homenageá-la hoje, tantos anos depois da ditadura: “Hoje, uma colega nossa foi censurada. Era isso que eu queria dizer em nome do Augusto e meu.”
Cecília é uma das divulgadoras do abaixo-assinado que se solidariza com Maria Rita. O primeiro signatário é Antonio Candido, decano dos ensaístas brasileiros, logo depois vem Francisco Buarque de Hollanda, e à hora de fecho desta edição havia mais 1100 nomes assinando por baixo disto: “Consideramos perigoso e estarrecedor que um órgão de imprensa importante como o “Estadão”, com 135 anos de lutas em prol da liberdade democrática, um jornal avesso à censura por história e tradição, que este mesmo jornal se sinta hoje à vontade para afastar um de seus colaboradores apenas por manifestar opiniões que desagradam à sua direcção.”
Maria Rita Kehl é o caso da psicanalista que foi demitida pelo diário “O Estado de São Paulo”, vulgo “Estadão”, depois de uma crónica que deu brado. “Censura, claramente”, apontam os críticos. “Uma histeria” aproveitada politicamente, diz o jornal.
O caso expõe bem os dois Brasis que nesta segunda volta se continuam a confrontar. De um lado, o Brasil do povo, que vê em Lula sobretudo um líder que tirou 30 milhões da pobreza. Do outro, o Brasil das elites, que vê em Lula sobretudo um populista saloio. Cenas da luta de classes, em 2010. Continua>>>
L3R ? 3NT40 CL1K N0 4NÚNC10 QU3 T3 1NT3R3SS4 ! 4GR4D3Ç0 !

Em defesa de Maria Rita Kehl

A tremenda repercussão que teve esta semana, em toda blogosfera e no Twitter, a notícia de que o Estadão demitiu a escritora e psicanalista Maria Rita Kehl – de quem sou amiga e admiradora de longa data – por defender o governo Lula em artigo (entre aqui para saber mais) vem ao encontro do que temos dito e repetido há meses – anos! – nesta coluna: notícia e opinião midiática viraram mercadoria com valor unicamente de troca, tipo, "você esfrega as minhas costas que eu esfrego as suas e estamos conversados". Algo que se vende em troca de dinheiro, não mais algo que se vincula como informação a ser utilizada (valor de uso) pelo população e pelo cidadão em sua própria defesa.

Porque a imprensa hegemônica – da qual o Estadão é o esteio por excelência – sobretudo após este ter declarado (atualizado?) em editorial ("O mal a ser evitado") sua posição, que é ao lado da oligarquia mais retrógrada do país, constitui o "núcleo duro" da elite truculenta  demotucana paulista. Seguida com fidelidade canina pela emergência de plantão, que, dois pontos, votou no Picolé de Chuchu Diet pela terceira vez – não bastasse ter sido prejudicada por sucessivas gestões tucanas - aquilatando-se aí o grau de alienação e despolitização onde se engolfou boa parte desse segmento da população paulista, que só assiste Adriane Galisteu, Big Brother, tevê a cabo (desde que os filmes sejam dublados) e, por mal dos pecados, ainda assina a Veja, a Folha e o Estadão. Ou seja, os "inocentes" úteis ao sistema e literalmente inúteis à nação: se já não são inocentes é porque se tornaram nocivos (nocentes).

Elite paulista que, agora, apregoa o seguinte, explicitamente: que não só não reparte o bolo, como tampouco concorda que se atire as migalhas aos da base da pirâmide, e para quem o Bolsa-Família não passa dum sórdido assistencialismo, no sentido de que "se os vagabundos já não gostavam de trabalhar, o fazem ainda menos agora, porquanto podem mamar nas tetas do governo." Sem contar que não estão aqui para descobrir as verdades e sim para achar as conveniências.

Maria Rita, no referido artigo, entre outras coisas, afirma:

"O Brasil mudou nesse ponto. Mas ao contrário do que pensam os indignados da internet, mudou para melhor. Se até pouco tempo alguns empregadores costumavam contratar, por menos de um salário mínimo, pessoas sem alternativa de trabalho e sem consciência de seus direitos, hoje não é tão fácil encontrar quem aceite trabalhar nessas condições. Vale mais tentar a vida a partir da Bolsa-Família, que apesar de modesta, reduziu de 12%  para 4,8% a faixa de população em estado de pobreza extrema. Será que o leitor paulistano tem ideia de quanto é preciso (não ter para) ser pobre, para sair dessa faixa por uma diferença de R$ 200? Quando o Estado começa a garantir alguns direitos mínimos à população, esta se politiza e passa a exigir que eles sejam cumpridos.

Um amigo chamou esse efeito de 'acumulação primitiva de democracia'. Agora que os mais pobres conseguiram levantar a cabeça acima da linha da mendicância e da dependência das relações de favor que sempre caracterizaram as políticas locais pelo interior do país, dizem que votar em causa própria não vale. Quando, pela primeira vez, os sem-cidadania conquistam direitos mínimos que desejam preservar pela via democrática, parte dos cidadãos, que se consideram classe A, vem a público desqualificar a seriedade de seus votos".

E o que direis, Maria Rita, de tantos de nós, da classe média pretensamente favorecida? Nós, ao redor dos 50 anos, tentando promover, por meios alternativos, a entrada no mercado de trabalho de filhos recém-diplomados e para os quais não há perspectiva de nenhum emprego à vista (visto terem sido todos consumidos na onda de flexibilização neoliberal)? Ou tentando prover a velhice dos pais com alguma saúde e uma certa paz, digamos, para que finalizem suas vidas com alguma dignidade?

Porque são também esses (nós!), com tantos encargos, de quem ceifam o emprego, a pretexto de "dar lugar aos mais jovens", para os quais, por outro lado, como se sabe, não existe emprego algum. Logo, a coisa se complica, se complexifica, como se diz na Academia. Daí não há mesmo solução, não é, Maria Rita?

Quem nos defende, Maria Rita? Quem defenderia esta silenciada classe média, esmagada por cima e por baixo? Quem, minha amiga?

Pois, como escritora e intelectual pública, estou a serviço da humanidade; como servidora pública que (ainda) sou, sirvo à comunidade. Por quanto tempo ainda, Maria Rita?

Porque, se não houver recursos – emprego, salário, trabalho etc. –, a "cadeia do bem" se rompe aqui, Maria Rita.

Inesquecivelmente,

Márcia Denser

Outros textos do colunista Márcia Denser

*A escritora paulistana Márcia Denser publicou, entre outros, Tango Fantasma (1977), O Animal dos Motéis (1981), Exercícios para o pecado (1984), Diana caçadora (1986), A Ponte das Estrelas (1990), Toda Prosa (2002 - Esgotado), Diana Caçadora/Tango Fantasma (2003,Ateliê Editorial, reedição), Caim (Record, 2006), Toda Prosa II - Obra Escolhida (Record, 2008). É traduzida na Holanda, Bulgária, Hungria, Estados Unidos, Alemanha, Suiça, Argentina e Espanha (catalão e galaico-português). Dois de seus contos - O Vampiro da Alameda Casabranca e Hell's Angel - foram incluídos nos 100 Melhores Contos Brasileiros do Século, sendo que Hell's Angel está também entre os 100 Melhores Contos Eróticos Universais. Mestre em Comunicação e Semiótica pela PUCSP, é pesquisadora de literatura, jornalista e curadora de Literatura da Biblioteca Sérgio Milliet em São Paulo.

Patético Pig


Jornais e revistas ainda não perceberam que os tempos de golpismo acabaram e acreditam manter a velha in fluência do Oiapoque ao Chuí 
Ocorre-me recordar Claudio Marques, que se dizia jornalista como tantos outros dispostos a enganar o público e, eventualmente, a si próprio. Assinava uma coluna no Shopping News, jornal publicitário de circulação gratuita na São Paulo de 1975. Tempo de ditadura e de recrudescimento do Terror de Estado após o discurso dito “da pá de cal”, pronunciado no começo de agosto pelo ditador Ernesto Geisel para avisar aturdidos navegantes que “a distensão lenta, gradual, porém segura” haveria de sofrer uma interrupção. Foi nesta ocasião que Ulysses Guimarães, em pronunciamento na Câmara, comparou Geisel a Idi Amin Dada. 
Pois Claudio Marques, caçador de comunistas agachados atrás de cada esquina, passava seu tempo a denunciar os vermelhos comandados por Vlado Herzog, a cujos cuidados estavam entregues os programas noticiosos da TV Cultura. Marques contava com a aprovação ampla, geral e irrestrita do DOI-Codi, ex-Operação Bandeirantes, e foi enfim premiado com a prisão, ou melhor, o sequestro dos jornalistas alvejados, a começar por Herzog, assassinado pelos torturadores no mesmo dia em que deu entrada no quartel do DOI-Codi. Dia 25 de outubro, um sábado. 
Os tempos mudaram, felizmente. Não há mais torturadores e porões para hospedá-los e aos seus instrumentos, por exemplo. Há, entretanto, herdeiros de Claudio Marques afinados com os dias de hoje e ainda velhacos e daninhos. A semelhança entre o caçador de comunistas a serviço do DOI-Codi e esses jornalistas (jornalistas?) é percebida pela obsessiva preocupação que cultivam desde a primeira eleição de Lula com a quantidade de anúncios governistas nas páginas de CartaCapital. Trata-se, obviamente, de uma ofensa gravíssima ao pretender insinuar, com leveza de britadeira, que vendemos a alma ao Sapo Barbudo. Alguém, no meio da tigrada, proclama: CartaCapital não tem credibilidade. 
Não ouso afirmar que a vice-procuradora da Justiça Eleitoral Sandra Cureau (pronuncie Quirrô) seja sucedâneo do DOI-Codi. Creio, porém, que na sua ação inquisidora desfechada contra esta publicação ela tenha levado em conta as aleivosias assacadas contra nós por sem-número de colegas (colegas?), embora não tenha dúvidas quanto à origem tucana da assoprada final e decisiva: o candidato José Serra gosta de dar telefonemas. Assim como não me abalo a crer que o nosso apoio à candidatura de Dilma Rousseff- seja determinante. Obrigatórios sim, a definição e seus motivos desde o começo da campanha oficial, como se dera em 2002 e 2006 em -relação a Lula. Dever para com os eleitores. 
Registro que o Estadão no domingo 26 decidiu desvendar a evidência. Um humorista diria: surpresa, estão com o Serra, e eu que até ontem não tinha percebido. Melhor o Estadão, de todo modo, do que o resto da tropa de choque, Globo, Folha, Veja, a agirem como partido político, conforme a óbvia constatação do presidente da República. Barack Obama foi além quando disse que não daria entrevista à Fox porque esta não era órgão midiático e sim “partido político”. 
Lula errou, na nossa visão, ao afirmar: “A opinião pública somos nós”. A frase é certamente perigosa. Da mesma forma foi erro incluir tempos atrás no programa de governo a criação de uma entidade destinada a classificar os órgãos da mídia ao sabor dos seus comportamentos em relação aos direitos humanos. Esta não é tarefa governista, e Carta-Capital não usou meias-palavras na ocasião para condenar a iniciativa. Diga-se que o prato indigesto saiu prontamente do cardápio, graças a uma barganha lamentável pela qual se fez a felicidade dos torturadores da ditadura e dos seus mandantes, muitos já no além, ao aceitar a ideia da anistia polivalente. 
CartaCapital reprovou também a criação de uma tevê pública federal por enxergar de saída o seu inescapável destino: servir ao poder contingente, como se dá com a Cultura paulista, em mãos tucanas há 16 anos. Resta ver se o Brasil estaria maduro para uma tevê estatal, nascida do entendimento de que esta há de ser uma instituição permanente a servir à nação em lugar do governo do -momento. -Sinceramente, não aposto nesta maturidade. 
O fenômeno que mais me aflige põe-se, no entanto, a propor por quês. Por que os profissionais da mídia nativa aderem tão compacta e fervorosamente ao pensamento dos patrões? Por que lhe tomam as dores como se eles mesmos pertencessem à categoria? Uma premissa. Em termos econômicos, a situação nas redações é semelhante àquela da população brasileira em geral. Os jornalistas graúdos, assinaturas celebradas, ganham mais que os colegas americanos e europeus, e nem se fale dos salários da nossa televisão. Astronômicos, trafegamos entre nababos. Na zona cinzenta flutuam os remediados. À ralé sobra esperança. A maioria dos recém-formados não tem emprego. Este, ninguém que conseguiu quer perder. 
Pode-se concluir que os graúdos curvam-se diante da generosidade patronal enquanto os miúdos em tempos bicudos contentam-se com as migalhas? Talvez a explicação valha em relação a muitos casos graúdos e miúdos. Mas há que se ressaltar, em relação a outros, o ardor com que assumem os interesses do patrão. Estamos diante de uma identificação visceral, a ponto de justificar, no meu ponto de vista, uma investigação profunda a se valer das lições de Balzac e de Freud. Ambos ficariam muito impressionados, creio eu, ao registrar que os profissionais nativos chamam o patrão de colega, e nisto são únicos no mundo. Quem sabe mais ainda Balzac do que Freud. 
No mais, vale acentuar que esta unicidade, esta exclusividade, invade outros terrenos. Um: o nosso sindicato se dispõe de bom grado a oferecer aos empresários da comunicação carteirinha de jornalista. Dois: sem falar da mediocridade dolorosa, a nossa mídia é única na sua capacidade de se alinhar de um lado só na hora de uma eleição, por exemplo. E não somente nesta. Mundo democrático afora vigora o pluralismo que a Folha de S.Paulo, com inefável hipocrisia, afirma existir em suas páginas. Nos Estados Unidos, no Reino Unido, na França, na Alemanha, só para citar alguns países, tem vez o jornalismo de todas as tendências. Aqui não, só existe uma, a favor da minoria privilegiada. 
O que espanta é a tenacidade com que essa mídia permanece atada ao passado oligárquico. Os editoriais de hoje são absurdamente iguais àqueles de 47 anos atrás, que invocavam o golpe para impedir a cubanização do Brasil. Agora falam em mexicanização e venezuelização, e clamam contra o assalto à democracia e à liberdade de imprensa, perpetrado pelo presidente da República e seu partido e fadado a prosseguir à sombra de Dilma Rousseff. 
Durante o ano de 1963 e nos primeiros meses de 1964 anunciavam a iminente marcha da subversão. Nunca passou. Veio foi a Marcha da Família, com Deus e pela Liberdade, de imponentes efeitos subversivos. E lá se foi a liberdade, com a bênção dos editorialistas. Os quais aí estão agora para prestar seu solerte serviço. Salvo raras exceções, editorialistas, colunistas, articulistas. Diretores, redatores-chefes, editores, repórteres. A turma toda. 
Os colegas do lado de lá, um exército, prestam-se a acusar sem provas, omitir fatos, frequentemente mentir com a expressão do dever cumprido. Encantou-me, na Folha de S.Paulo de segunda 27 a entrevista da vice-procuradora Sandra Cureau, aquela que atendeu a uma entrevista anônima para cometer uma inominável prepotência contra Carta-Capital, esta sim, verdadeiro atentado à liberdade de imprensa. Mas a entrevistadora ali estava para agradar à doutora, a ponto de mencionar seus cabelos loiros e olhos azuis. Nem foi capaz, está claro, de uma única, escassa pergunta a respeito da ação movida contra nós. 
Recordo que na semana passada manifestamos a certeza de que não contaríamos com a solidariedade dos barões da mídia e dos seus sabujos, bem como das chamadas entidades de classe. Aqueles são mestres em mau jornalismo. Mas será mesmo jornalismo? Quanto a estas, confirmam apenas a sua patética inutilidade. Para não dizer do viés tendencioso, ou francamente alinhado. 
Patética é também um bom qualificativo para a atuação da mídia nativa ao longo deste ano, iniciado com a previsão de uma retumbante vitória tucana. E quando se viu que o ardil de Lula funcionava e que Dilma crescia graças inclusive ao seu próprio desempenho, começou a sarabanda. 
Não se diga que os velhos morteiros deixaram de funcionar. É inegável, porém, que munição foi oferecida de graça pelo próprio PT, mais uma vez, do seu lado a dar tiros no pé. Está claro que o fogo aberto para denunciar ameaças à democracia e à liberdade de imprensa não passa de tentativa frustrada de invocar fantasmas do passado. Pesou, isto sim, o caso Erenice, no qual se mesclam dois fenômenos tão antigos quanto os fantasmas, contudo resistentes, dois vícios gravíssimos da tradição verde-amarela, dois pecados impredoáveis: nepotismo e clientelismo. 
É espantoso: a rapaziada ainda não percebeu que o País mudou em latitude e longitude em relação à época do golpe. Certo é que a mídia detinha amplo poder há 50 anos, quadra favorável à influência dos ditos formadores de opinião. Bastava alcançar os senhores da minoria e seus aspirantes para alcançar os fins buscados. 
Desta vez com o segundo turno, a mídia poderá enxergar no resultado um prêmio de consolação. Vale sublinhar, entretanto, que o PT concedeu espaço exagerado aos seus aloprados, como já houve em outras ocasiões, e mostrou, assim, lacunas sérias na organização e na união. Cabe ao presidente da República anotar  que muitos dos problemas surgidos para seu governo tiveram sua origem nas fileiras petistas. 
Os coronéis ainda mandavam em largas áreas e na hora da eleição lotavam a caçamba do caminhão depois de colocar a cédula preenchida nas mãos dos seus peões. Chamava-se voto de cabresto, e dava certo. Esse gênero de penosas tradições foi tragado pela transformação de um país então de 70 milhões de habitantes e hoje de 200. E com os documentos em dia para chegar logo à maioridade, à contemporaneidade do mundo. 
Os senhores não apreciam a perspectiva e torcem contra. Deixa como está para ver como fica. O primeiro ato da debacle foi encenado na eleição de Fernando Henrique Cardoso e no seu segundo mandato. Cabe a ele o papel de primeiro motor da mudança, a ser concretizada no governo Lula. 
FHC em 2002 lança sobre seu candidato José Serra uma sombra espessa e maligna. Com baixo índice de aprovação e pífia atuação, de sorte a deixar ao sucessor burras à míngua, o príncipe dos sociólogos torna-se cabo eleitoral de Lula. A maioria tira do governo FHC lições evidentes e parte para a votação inédita, a favor do ex-metalúrgico em vez do costumeiro bacharel engravatado. A identificação com o igual cresce naturalmente, não é imediata nas proporções que fermentarão em seguida. 
A maioria não é mais aquela, a pressão dos patrões e dos capatazes não a condiciona e, principalmente, não lê jornal e ao Jornal Nacional prefere a novela e os Faustões da vida. Os editoriais e as manchetes mantêm, contudo, o tom de outrora, na desmiolada convicção de atingir a todos, do Oiapoque ao Chuí. 
De todo modo, não nos  iludimos quanto à possibilidade de uma redenção da mídia, pelo menos a curto prazo. Os caminhos são conhecidos porque experimentados com ótimos resultados em países mais adiantados. Difícil, por ora, percorrê-los. Trata-se de criar leis para limitar o monopólio da comunicação e conter a influência patronal nas redações, ao se cancelar, inclusive, e de vez, a figura do diretor de redação por direito divino. 
Leis nesse sentido estão em vigor em países de democracia mais antiga e protegida. Aqui é dramaticamente visível, como cabo das tormentas em meio ao mar revolto, o obstáculo representado pelo próprio Congresso, que deveria debater e aprovar as novas leis. Inúmeros deputados e senadores são donos de instrumentos midiáticos e não é por aí que rapidamente chegaremos a uma solução aceitável, assim como não seria se o governo pretendesse ditar as regras. 
 Sobram perguntas, angustiantes: o que haverá de ler, ou ouvir, o cidadão consciente quando interessado em saber dos fatos? Em quem confiar no espectro sombrio da mídia nativa? Como distinguir entre a informação honesta e a opinião eventualmente distorcida, corrompida até pelo partidarismo?

L3R ? 3NT40 CL1K N0 4NÚNC10 QU3 T3 1NT3R3SS4 ! 4GR4D3Ç0 !

Dois pesos, e quantas medidas?

Infeliz daquele que prega uma moral que não pratica!

O Restadão diz que está sob censura e critica o judiciário. E de repente, não mais que direpente demite colunista que teve o atrevimento de elogiar Lula e defender o direito dos eleitores pobres votarem em quem quiser. Leiam abaixo a entrevista:
Terra Magazine – Maria Rita, você escreveu um artigo no jornal O Estado de S.Paulo que levou a uma grande polêmica, em especial na internet, nas mídias sociais nos últimos dias. Em resumo, sobre a desqualificação dos votos dos pobres. Ao que se diz, o artigo teria provocado conseqüências para você…
Maria Rita Kehl – E provocou, sim…
- Quais?
- Fui demitida pelo jornal O Estado de S.Paulo pelo que consideraram um “delito” de opinião.
- Quando?
- Fui comunicada ontem (quarta-feira, 6).
- E por qual motivo?
- O argumento é que eles estavam examinando o comportamento, as reações ao que escrevi e escrevia, e que, por causa da repercussão (na internet), a situação se tornou intolerável, insustentável, não me lembro bem que expressão usaram.
- Você chegou a argumentar algo?
- Eu disse que a repercussão mostrava, revelava que, se tinha quem não gostasse do que escrevo, tinha também quem goste. Se tem leitores que são desfavoráveis, tem leitores que são a favor, o que é bom, saudável…
- Que sentimento fica para você?
- É tudo tão absurdo…a imprensa que reclama, que alega ter o governo intenções de censura, de autoritarismo..
- Você concorda com essa tese?
- Não, acho que o presidente Lula e seus ministros cometem um erro estratégico quando criticam, quando se queixam da imprensa, da mídia, um erro porque isso, nesse ambiente eleitoral pode soar autoritário, mas eu não conheço nenhuma medida, nenhuma ação concreta, nunca ouvi falar de nenhuma ação concreta para cercear a imprensa. Não me refiro a debates, frases soltas, falo em ação concreta, concretizada. Não conheço nenhuma, e, por outro lado..
- …Por outro lado…?
- Por outro lado a imprensa que tem seus interesses econômicos, partidários, demite alguém, demite a mim, pelo que considera um “delito” de opinião. Acho absurdo, não concordo, que o dono do Maranhão (Senador José Sarney) consiga impor a medida que impôs ao jornal Estado de S.Paulo, mas como pode esse mesmo jornal demitir alguém apenas porque expos uma opinião? Como é que um jornal que está, que anuncia estar sob censura, pode demitir alguém só porque a opinião da pessoa é diferente da sua?
- Você imagina que isso tenha algo a ver com as eleições?
- Acho que sim. Isso se agravou coma eleição pois, pelo que lês me alegram agora, já havia descontentamento com minhas análises, minas opiniões políticas.
L3R ? 3NT40 CL1K N0 4NÚNC10 QU3 T3 1NT3R3SS4 ! 4GR4D3Ç0 !