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Marina vai à luta, Serra joga a toalha

Animada com a subida nas pesquisas nesta reta final da campanha, a candidata verde Marina Silva foi à luta no debate de domingo à noite na TV Record para tirar do tucano José Serra a segunda vaga de um possível segundo turno, cada vez mais improvável, a apenas seis dias da eleição.

Do outro lado do ringue, Serra parecia desanimado, sem vontade de entrar na briga, como se estivesse torcendo para a eleição acabar logo no primeiro turno. Jogou a toalha. Até seu vice, aquele Indio da Costa, se achou no direito de criticar a atuação do candidato, como nos mostrou o noticiário do iG.

Dilma Rousseff acabou sendo atacada por sua ex-colega de governo Marina Silva, que levantou as denúncias de corrupção na Casa Civil, e pelo franco-atirador Plínio Arruda Sampaio, outro ex-petista, que está achando muita graça em poder participar dos debates presidenciais e fazendo o possível para divertir a platéia. Marina sabe que não basta Serra cair; ela precisa tirar votos também de Dilma.

Mais uma vez, porém, a candidata do PT saiu ilesa do debate, sem marcar nenhum belo gol, mas também sem levar, jogando apenas pelo empate, que lhe interessava a esta altura do campeonato.

Faltam agora apenas dois programas de televisão e o debate final de quinta-feira na TV Globo. O que mais poderá acontecer para alterar o cenário na última semana de campanha?

Como escrevi aqui na sexta-feira, os ânimos parecem ter se acalmado nos últimos dias. O presidente Lula até começou a fazer elogios e falar da importância dos bravos rapazes da imprensa, que por sua vez parecem ter esgotado seus paióis de munição. Não escrevo aqui nada muito diferente de meus colegas jornalistas - repito: jornalistas, não panfleteiros. Apenas conto com a sorte de publicar meus comentários, dizendo quase as mesmas coisas, geralmente um ou dois dias antes. Tenho boas fontes.

Ninguém fala mais no tal "Manifesto em Defesa da Democracia", o minúsculo ato contra o governo produzido na semana passada por algumas almas ressentidas, ex-qualquer-coisa, que fizeram meu bom amigo D. Paulo entrar de gaiato na história. Também baixaram as armas os combatentes do "golpismo midiático". Não há novas manifestações previstas de um lado nem de outro. Melhor assim.

Diante deste quadro serenado, a única novidade - novidade??? - foi o centenário jornal O Estado de S. Paulo ter comunicado ao mundo, em editorial publicado no domingo, que agora apoia oficialmente o candidato José Serra. Foi, sem dúvida, um ato de coragem e despojamento, quem sabe anunciado um pouco tardiamente, pois não chegou a espantar ninguém. Talvez tenha sido esta a tão falada "bala de prata" guardada no tambor.
Vida que segue.
Ricardo Kotscho

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Ibop - Cid seria reeleito no primeiro turno

Se a eleição fosse hoje, o governador do Ceará, Cid Gomes seria reeleito no primeiro turno. 
Pesquisa do Ibop - instituto briguilino de opinião pessoal - divulgou pesquisa realizada nos dias 24/25 e 26. Os números são:
Cid Gomes [PSB] 60%
Lúcio Alcântara [PR] 26%
Marcos Cals [PSDB] 12%
Marcelo Silva [PV] 1%
Soraya Tupinambá [PSOL] 1%


O Ibop divulgará a margem de erro da pesquisa apenas na boca-de-urna.
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Serra o Gladiador

Ontem no debate da Record José "jenio" Serra mostrou definitivamente que quem nasceu para tucademopiganalha nunca será um Carlos corvo Lacerda.


O jenio é mais preparado.
O jenio se expressa melhor.
O jenio tem biografia.
O jenio fez os genéricos, acabou com AIDS, inventou a penicilina, fez o mutirão da próstata, acabou com a peste negra, é engenheiro, economista, editorialista da Folha, especialista em cálculo de porcentagem, o mais consistente, construiu a torre Eiffel, professor da Unicamp, instalou o bondinho do Pão de Açúcar, autor dos livros do David Ricardo, social-democrata, salvou as APAES, desalagou o Jardim Romano – o jenio é um gênio.
Como em 2002, ele ia para o debate da Record, o decisivo, para destroçar a Dilma.
Ia ser impiedoso, fulminante, contundente, feroz, incontrastável  – um Russel Crowe do “Gladiador” combinado com Winston Churchill.
Aí, começou o debate.
Primeiro, a fotografia.
Como diz o Zé Simão, mais importante que a entrevista é a foto.
E o jenio está um caco.
Exausto.
As olheiras se aproximam das gengivas.
Está mais cansado que professor de escola pública de São Paulo.
Este ordinário blogueiro desconfia que ele começa a ter um problema de audição.
No dia 4, ele deveria dar um pulo num Otorrino.
Ele parece o Nixon daquele debate com o Kennedy.
Deus lhe beijou na testa, e concedeu a oportunidade de abrir o debate com a primeira pergunta.
Pelos cálculos (sempre falhos) deste ordinário blogueiro, àquela altura o IBOPE deveria estar na casa dos 15 pontos.
Pau a pau com o Fantástico.
O Serra ia falar para uma audiência gigantesca.
Um público capaz de levá-lo, com sua precisão de raio laser, ao primeiro lugar no Datafalha.
Era bater o pênalti aos 45 minutos do segundo tempo, com o goleiro adversário manco, prostrado ao chão num canto da trave.
Era só correr para o abraço.
A jenialidade se encontrava com a Fortuna.
Aí, o jenio começa.
“Plinio” – ele, jenial, ia interpelar o não-candidato.
Ia fazer escada nas costas do Plínio e subir a rampa do Planalto de costas, tal a oportunidade que se abria à sua frente.
Deus é paulista !
Aí, veio a pergunta jenial: sobre o Irã.
Lá em Marechal, onde este ordinário blogueiro estudou as primeiras letras, o Irã, careca, de pernas tortas, joga um bolão no time dos “casados”.
O Irã.
Agora a Dilma não valia um fósforo queimado.
O Irã que ameaça a Mooca, com uma bomba atômica muti-fásica, pluri-letal. 
Quem mandou ousar competir com o jenio ?
O Irã !
Como a Dilma não tinha pensado nisso ?
E o Irã, Plínio ?
Aí, o Plínio virou o Russel Crowe.
Deixa de ser hipócrita, Serra.
Quer dizer que o Irã não pode ter bomba atômica, mas os Estados Unidos e Israel podem.
Te manca, Serra.
E o Serra foi reduzido à condição de …
O Serra virou … o Serra.
Isso foi aos 5’ do primeiro tempo.
Daí em diante, as olheiras desabavam, a cada bloco.
O jenio perdeu o caminho de casa.
Não dizia mais coisa com coisa.
Até a Bláblárina Silva ousou desmoralizá-lo.
Quando chove, cai uma tempestade, dizem os americanos.
A tempestade foi uma posição que o jenio adotava e fazia com que a iluminação aplicasse uns traços verticais escuros, abaixo das olheiras.
A fotografia é tudo …
No ponto mais alto da audiência, quando o jenio ia destruir a Dilma, ele confirmou o que o grande amigo Fernando Henrique Cardoso preferiu dizer em inglês: 
bye-bye Serra forever.
Paulo Henrique Amorim



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Debates - Insossos, amorfos e inodoros debates


No passado foi sinal de prestígio para as redes de televisão promover debates entre os candidatos presidenciais. Positivamente, hoje não é mais. Pudessem ser realizadas e divulgadas pesquisas amplas, em todo o território nacional, a respeito dos índices de audiência desses debates, e os partidos se surpreenderiam pelo baixo nível de atenção do  cidadão comum diante da repetição das mensagens de cada candidato. Verificariam o esgotamento do formato já ultrapassado de um perguntar para o outro, com tempo restrito para réplicas e tréplicas onde apenas chavões e pegadinhas vão ao ar.

A turma do faturamento das emissoras através da publicidade não anda nada satisfeita. Até   os barões-proprietários começam a duvidar da eficácia de sua presença na portaria e nos corredores  das emissoras,  recebendo os participantes, como forma de mais tarde serem recebidos por um deles, o vencedor, quando chegar ao palácio do  Planalto.
É preciso repensar essa monótona tentativa de angariar votos, por parte de uns, e de programar influência, pelos outros. Um único debate realizado em pool ainda passaria, pela  curiosidade do  eleitor. Cinco, seis e mais encontros dos mesmos, falando as mesmas coisas, só faz despertar sono no telespectador. Mais evidências do desinteresse popular  tivemos ontem, no debate da Record, e teremos quinta-feira, na Globo, como aconteceu antes  na Bandeirantes, na Rede-TV, na Rede Vida e outras. Bem agiu o SBT em não pleitear o seu debate,  limitando-se a abrir espaço para entrevistas isoladas de cada candidato.
Repetir no futuro as mesmas insossas, amorfas e inodoras apresentações equivalerá a desestimular eleitores e candidatos.

por Carlos Chagas



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Marina chega à reta final mais ‘aprumada’ que Serra

Realizou-se na noite passada, na TV Record, o penúltimo debate presidencial antes do primeiro turno da eleição. Os contendores voltaram aos holofotes num instante em que a platéia se pergunta: Haverá segundo turno?

A julgar pelas últimas pesquisas, a resposta é “não”. Mas José Serra e, sobretudo, Marina Silva tentam modificar a cena. Marina chega à reta final com o discurso mais aprumado que o de Serra, eis o que ficou evidenciado no debate.

Serra é, hoje, um candidato na defensiva. Gasta mais tempo se explicando do que vendendo seu peixe. Curiosamente, dirigiu a maioria das perguntas que lhe coube formular não a Dilma, como seria lógico, mas ao lanterninha Plínio de Arruda Sampaio.

Só questionou Dilma quando as regras do debate o impediram de se desviar da rival. Dilma fez o mesmo. Inquiriu ora Marina ora Plínio. Em confrontos anteriores, Serra esfregara no nariz de Dilma o ‘Fiscogate’ e o ‘Erenicegate’. Na Record, absteve-se de repetir a tática. O caso da violação fiscal nem foi mencionado. O escândalo da Casa Civil foi cobrado, mas não por Serra. 

Deu-se o seguinte: Serra e Dilma fizeram de Marina e Plínio escadas para explorar os temas que mais lhes convinham. Lançavam as perguntas e, ao replicar, desfiavam um lero-lero ensaiado. Não funcionou. Convertida em escada, Marina escalou sobre ambos.

Antes, Marina era ignorada. Serra e Dilma chegavam mesmo a poupá-la. Agora, até Plínio alveja Marina. Pingou dos lábios de Dilma o ataque mais incisivo. Em verdade, um contraataque. Evocando o mensalão, Marina recordou que o caso Erenice é uma reincidência. Fustigou: Que providências tomou para evitar?

Levada ao corner, Dilma subiu o tom: “As mesmas providências que você tomou”. Lembrou que, como ela, Marina é ex-ministra. E disse que, sob a ex-titular do Meio Ambiente, servidores de chefia foram pilhados vendendo madeira.

Mais incisivo, Plínio disse a Dilma que a nomeação de Erenice o conduzia a duas conclusões: ou a petista foi “conivente” ou mostrou-se “incompetente”. E ela: “Nem uma coisa nem outra". Disse que encrenca está sendo investigada, como convém.

Numa tentativa de espantar a tese de que a gestão Lula virou ninho de corrupção, Dilma disse que, valorizada, a PF trabalha a mais não poder. A Controladoria adotou um grau de transparência que não se vê em São Paulo. Sumiu a figura do “engavetador-geral”, como ficou conhecido Geraldo Brindeiro, o procurador-geral da República da era FHC.

Plínio não se deu por achado. Se a PF trabalha tanto é porque a corrupção viceja, disse. Noutro trecho do debate, Marina questionou o “promessômetro” de Serra. Aparentemente munida de dados, disse que, como governador de São Paulo, Serra gastara mais em publicidade do que em programas sociais.

Nas cordas, Serra disse que o “social” não se limita ao assistencial. Inclui saúde e educação. Religou o “promessômetro”: salário mínimo de R$ 600, mais Bolsa Família e aumento das aposentadorias. “As propostas não estão encontrando respaldo na realidade”, Marina replicou.

Serra costuma se jactar de sua passagem pela pasta da Saúde. Marina cuidou de iluminar a (in)ação de Serra noutro ministério. Disse que, no Meio Ambiente, defrontara-se com o flagelo da terceirização de mão-de-obra. Como ministro do Planejamento de FHC, como permitiu que o fenômeno se disseminasse?

Ao responder, Serra disse que nada tem a ver com a terceirização. Sua escala no Planejamento foi breve, alegou. Depois, numa das ocasiões em que as regras o compeliram a questionar Dilma, Serra mirou no “aparelhamento” das agências reguladoras e na acomodação de companheiros em 21 mil cargos de confiança.

Dilma respondeu que a gestão FHC criara as agências, mas não as dotara de estrutura. E pegou carona na pergunta de Marina. Ao chegar no Ministério de Minas e Energia, encontrei um engenheiro e mais de 20 motoristas, declarou.

Mais: no governo de São Paulo, Serra contratara professores que haviam sido reprovados em concurso. O tucano aconselhou a rival a checar os dados. A petista respondeu que se servia de informações públicas. E a coisa ficou por isso mesmo.

Num bloco em que coube a jornalistas formular perguntas, Serra foi empurrado, de novo, para a defensiva. Questionaram-no sobre: 1) O fato de ter levado Lula à TV e escondido FHC. 2) A reiteração da tática do medo, que usara contra Lula em 2002, servindo-se de depoimento dramático de Regina Duarte.

Serra disse que exibiu Lula por 30 segundos, em situação específica. Quanto a FHC, alegou que, ao propalar sua passagem pela Esplanada não está senão prestigiando o amigo, que sempre lhe deu apoio. Convidada a comentar a resposta, Dilma foi à jugular:

"Considero muito estranho que o Serra use a imagem do Lula à noite e de dia faça críticas ao governo”. Ao replicar, Serra disse que sua candidatura não tem patrocinador. E chamou Dilma de “ingrata”.

Recordou que o “medo” evocado na peça de 2002 só não se materializou porque o governo Lula manteve os avanços de FHC. Avanços que renegara -o Real e a Lei de Responsabilidade Fiscal, por exemplo- foram depois reconhecidos por Antonio Palocci, lembrou.

Ao final, José ‘28%’ Serra e Marina ‘13%’ Silva convidaram o eleitor a levá-los a um segundo round contra Dilma ‘49%’ Rousseff. As pesquisas da semana trarão a resposta. Para azar de Marina, a briga inclui um terceiro adversário: o relógio.


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Ibop - Setembro

Resultado da penúltima (1) pesquisa do Ibop - Instituto Briguilino de Opinião Pessoal - para a eleição presidencial deste ano.  
A pesquisa foi realizada nos dias 17/18 a 19 de setembro.
O IBOP divulgará a margem de erro apenas na última pesquisa que fará - a da boca de urna -.
Os números divulgados são referentes apenas aos votos válidos.
São os seguintes:

Dilma Rousseff (PT) 59%
José Serra (PSDB)    30%
Marina Silva (PV)      10%
Nanicos                      1%

Um modelo partidário trazido do atraso


Maria Inês Nassif – Valor

A “mexicanização” do quadro partidário brasileiro é um debate a ser colocado em devidos termos. A ameaça de que o PT, depois das eleições de outubro, se transforme num Partido Revolucionário Institucional (PRI), que governou o México de 1929 a 2000, é apresentada como “denúncia”. Isso é, no mínimo, um equívoco. A questão merece ser tratada criticamente por todos os atores do cenário político, sob pena de a eleição consolidar, de fato, e por um bom tempo, um único partido com condições de acesso ao poder pelo voto.
Essa perspectiva está colocada não porque o PT trapaceou, mas porque a oposição acreditou demais no seu poder de influenciar massas via convencimento das elites. É uma estratégia medíocre de ação política, num mundo onde o acesso à informação tem aumentado e ao mesmo tempo saído da órbita exclusiva da influência dos grandes grupos, e num Brasil onde um grande número de cidadãos-eleitores deixou a pobreza absoluta, outro tanto ascendeu à classe média, a escolaridade aumentou, o acesso à internet é maior e a influência das elites sobre os mais pobres tornou-se muito, muito relativa.
Dos partidos na oposição, apenas o P-SOL, em passado recente, e o PPS, quando remotamente era PCB, conseguiram pelo menos formular idealmente um conceito de partido de massas. O P-SOL fracassou porque foi criado na contramão de um crescimento espantoso do PT, partido do qual se originou, e do recuo de setores que, durante o mensalão, ensaiaram abandonar o partido de Lula. Amedrontados com a retórica pré-64 da oposição, esses setores acabaram lentamente retornando à órbita do petismo. O PCB conseguiu a façanha de ser um partido de massas apenas quando tinha um líder carismático, Luiz Carlos Prestes. Como viveu boa parte de sua existência na clandestinidade, é difícil saber se teria vocação para sair da política de vanguarda e ganhar substância em setores mais amplos. O PPS, que o sucedeu, certamente não mostra essa capacidade.
O PT continua a exceção no quadro partidário. A estrutura montada pelo partido nacionalmente, quando começava a se perder na burocratização da máquina, foi salva pelo lado popular do governo Lula e pela ofensiva oposicionista. O partido não é mais o que era quando foi fundado, mas é certo que tem uma representação social.
As demais legendas, em especial as de oposição, não conseguiram sair da camisa de força dos partidos de quadros. O PSDB, que catalisou a oposição a Lula, e o DEM, com o qual é mais identificado, terceirizaram a ação partidária para uma mídia excessivamente simpática a um projeto que, mais do que de classes, é antipetista. Todo trabalho de organização partidária, de formulação ideológica e de articulação orgânica foi substituído por uma única estratégia de cooptação, a propaganda política assumida pelos meios de comunicação tradicionais. A vanguarda oposicionista tem sido a mídia. Esta, espelhando-se na velha estrutura social do país, tem praticado uma conversa exclusiva com os seus: assumiu um discurso para agradar a elite, que por sua vez perdeu quase totalmente seu poder de influência sobre os menos ricos e escolarizados. Os partidos de oposição e a mídia falam um para o outro. Pouco têm agregado em apoio popular, que significaria voto na urna e, portanto, vitória eleitoral.
A ideia de propaganda política via mídia, que para a esquerda pré-Muro de Berlim era uma parte da estratégia de tomada do poder, e para os social-democratas a estratégia de conquista do poder pelo voto, tornou-se a única ação efetiva da oposição brasileira, exercida, porém, de fora dos partidos. Teoricamente, a mídia tradicional brasileira não é partidária. Na prática, exerce essa função no hiato deixado pela deficiente organização dos partidos que hoje estão na oposição ao presidente Lula. E o produto final não é exatamente a agregação de adeptos, mas uma conversa entre iguais, que se autoalimenta de um discurso trazido do udenismo, pouco propenso a conduzir um debate propriamente ideológico.
Esse não é um fenômeno pós-Lula simplesmente, embora os dois governos do presidente petista tenham dado grande contribuição a esse descolamento entre a “opinião pública” e a “opinião dos pobres”. Logo no início da redemocratização, foi instituído o voto do analfabeto. Ao longo dos dois últimos governos – portanto, nos últimos 15 anos – ocorreram ganhos de cidadania via aumento de escolaridade e renda que, por si só, incentivam a autonomia do voto. Nos últimos sete anos, os programas de transferência de renda reforçaram essa tendência.
Esse contingente de novos eleitores ganhou autonomia de voto e se descolou da mídia tradicional. Nesse universo, os formadores de opinião pública – por sua vez formados pela mídia – não têm o mesmo acesso que tinham antigamente. O ingresso dos antigos desletrados na era da informação tem se dado pela televisão – e aí o horário eleitoral gratuito é neutralizador – e um pouco pela internet, mas a decisão política ocorre por ganhos de cidadania. Como a mídia tradicional é a única a operar como “propagandista” dos partidos de centro e de direita que nunca acharam necessário incorporar militância, formar quadros ou mesmo publicizar ideário, é de se supor que a capacidade de formação de consensos da mídia tradicional seja pouco significativa numa parcela do eleitorado que ascendeu recentemente ao mercado consumidor.
O bloco oposicionista, que inclui não apenas os partidos, mas a mídia tradicional, não entendeu as mudanças que ocorreram no país. O modelo partidário que trazem na cabeça é um que pressupõe alinhamento automático de parcelas da população com líderes distantes ou donos de votos locais, ou a submissão da “ignorância” popular à opinião formada por iluminados. O novo Brasil não comporta mais isso. Esse modelo de política é elitista, porque não parte do princípio que as pessoas são iguais inclusive no direito de formar uma opinião própria.

Para onde vai a oposição a partir de 2011?

Todos os observadores da política nacional concordam em considerar que a oposição deverá se reinventar após às eleições.
A reflexão sobre o futuro da oposição faz sentido, na medida em que ninguém considera factível ela sair vitoriosa após o pleito de outubro.
A maioria dos analistas, porém, focam mais nas prováveis lideranças que emergirão da oposição e poucos atentam para às bases políticas dessa reestruturação.
Bolívar Lamounier, um dos “pensadores” ligados aos tucanos, afirma hoje que o centro político sumiu e acusa o PT de ter instalado o confronto (entrevista no Estadão). Se essa visão dos fatos prevalecer no balanço que a oposição fará de sua provável derrota, seguramente que ficará longe “o entendimento da política como uma arena de diálogo, debates sobre as diferenças, onde o outro é apenas um adversário que pensa diferente, não um inimigo a liquidar”.
Esse desejo, expressado por Lamounier, é a cortina de fumaça com a qual José Serra se proclamou candidato. Ele faz parte do discurso oficial da oposição, mas encobre uma prática radicalmente contrária.
A campanha eleitoral serviu para por a nu essa contradição. A escolha do candidato pela oposição, já embutia o mesmo método expresso nessa contradição.
Como já diz alguém, na prática, a teoria é outra.
O que os eleitores se aprestam a sancionar abrumadoramente é a duplicidade da oposição. O candidato é a encarnação dessa duplicidade e sua campanha eleitoral foi a apoteose dessa dupla linguagem.
Sejamos claros, a vitória da candidata do governo estava inscrita como muito provável, perante os bons resultados do governo percebidos pela nação, quase que unanime. Um presidente com 80% de ótimo e bom e só 4% de ruim ou péssimo, não é produto de marketing e sim de resultados concretos constatados na vida de cada um. Ainda mais quando o país é testemunha da oposição descarada que vários médios de comunicação realizaram contra o governo, sem qualquer restrição a suas pregações.
Mas a oposição transformou o favoritismo da candidata do governo em tsunami em favor de Dilma, tentando incarnar ao mesmo tempo uma coisa e seu contrário. Procurou um estelionato eleitoral e perante o manifesto fracasso da tentativa, partiu para o confronto mostrando seu verdadeiro visagem de ódio e intolerância. Criou ela mesma o pior cenário, onde ficou exposta sua nudez ideológica, programática e ética.
Até seus apoiadores mais contumazes reconheceram de público que a tentativa de travestimento ficou escancarada.
Mino Carta diz que Serra virou bode expiatório. Eu diria que ele foi o demiurgo do fracasso. Ele configurou a oposição a sua imagem e semelhança. Melhor dito, ele foi o escolhido por representar de forma mais concentrada e acabada no que se configurou como o espaço político da oposição. Uma força de direita, fantasiada de centro.
Quem melhor que Serra para encarar essa fantasia, a mesma, diga-se de passagem, que presidiu a vitória de FHC em 1994.
José Serra é a personificação dessa duplicidade. Homem de discurso contraditório e de prática idem. Cultiva a legenda de ser mal amado pelos banqueiros, mas são os sindicatos dos trabalhadores que trata com arrogância de ditador. Em campanha acena para os financistas relembrando que foi ele que ajudou a erguer a mesa onde lucram os poderosos, e se proclama de esquerda recorrendo ao seu papel de líder estudantil da época do golpe militar.
Como diz alguém, a história se repete duas vezes, mas a segunda como farsa.
Serra é a versão farsa de FHC. Só que a repetição irá acabar antes mesmo da estreia. O público já anuncia sua recusa de assistir à peça, os anunciantes já cancelaram suas participações e os atores coadjuvantes já procuram outros cenários, de cara ao futuro. A repetição virou farsa antes de poder repetir o percurso da trama original.
O remake abortou.
Em favor da primeira versão que obteve êxito de público e crítica, tínhamos o fato indiscutível de uma formação política surgida no campo do centro-esquerda, o PSDB. A ilusão, para alguns, que uma socialdemocracia podia existir ao margem do movimento operário e encarnar o progresso, em um país de desigualdade tão marcante. Essa primeira experiência foi até certo ponto conclusiva, o PSDB passando a encarnar a representação da burguesia paulista aliada ao coronelismo político. A experiência ficou marcada pelas privatizações, os escândalos e a estagnação. Um governo de direita, com discurso neo-liberal, afirmando ser a representação do centro político e até certo ponto tendo conseguido ocupar esse espaço.
Estava presente, ao mesmo tempo, um travestimento político provocado pelas relações de forças eleitorais no país. A direita podia estar governando, era com um discurso de centro e até de centro-esquerda que ela se apresentava aos eleitores. Essa ambiguidade era um manto protetor para encobrir a realidade, e quando se está no poder pode funcionar até certo ponto.
Quando se procura representar uma alternativa de oposição, a persistência desse jogo ambíguo só teria êxito se o espaço do centro estiver vazio ou se o governo tivesse fracassado aos olhos da maioria do país.
Ambas às condições inexistem. O governo do PT ocupou o espaço do centro e obteve um grande êxito na implantação de uma política social-democrática, conforme a verdadeira natureza do principal partido no poder, o PT.
A oposição agiu durante os oito anos amparada em um udenismo de fachada, que ocultava a ausência de rumo, de programa e de propostas. O udenismo é sempre um instrumento da direita para acoplar os sentimentos de setores médios, ao mantenimento do status quo da desigualdade e dos privilégios de uma minoria dominante. No caso, servia essencialmente para diferir qualquer definição maior, na espera do fim de uma parentese. Esse parentese não aconteceu.
Ironia do destino, aqueles que pretendiam acabar com a raça do PT, os que queriam dar uma surra no presidente, os que representavam a gestão ética frente aos desmandos, lutam para não serem engolidos pelo buraco negro que age sobre a oposição. São os Bornhausen, Virgílios e Arrudas da vida.
Inconformados com os resultados da própria política, pretendem que seu declínio representaria a vitória da mexicanização e o fim do pluripartidarismo e de toda oposição. Pretensiosos até na derrota, se arrogam para si mesmos o certificado de democracia, do qual excluem ditatorialmente todos os outros.
Mas nem toda a oposição embarcou nessa canoa furada. Não são todos os que hoje representam o amplo leque opositor, que parecem dispostos a sucumbir juntos com José Serra e prosseguir na linha de radicalismo e golpismo. Uma parte da oposição parece estar aguardando a abertura das urnas para proclamar uma especie de aggiornamento. Um setor continuará a se abrigar no guarda-chuvas do udenismo e a tratar o governo e particularmente o PT, como inimigos a serem esmagados e presos.
Essa diferenciação é o ponto de partida sadio de uma recomposição política. Ela parece inscrita nos próximos passos da oposição. A vitória de Dilma será, paradoxalmente, a melhor contribuição para o surgimento de uma oposição responsável, necessária para a construção de um Brasil moderno.
Se Serra conseguir levar para o segundo turno as eleições, na base do “terrorismo” udenista, estaremos ao contrário dando sobrevida ao impasse oposicionista.
A vitória de Dilma no primeiro turno permitirá mas facilmente à oposição fazer a limpeza necessária e renovar seu programa e sua prática política. Um segundo turno adiará uma redefinição necessária.
Uma parte do eleitorado da oposição já indica nas pesquisas que entendeu a necessidade de “sancionar” o rumo de seus lideres, mas ainda guarda confiança na capacidade da oposição para se reinventar. O favoritismo de Dilma em Estados como São Paulo, Minas e até Paraná, mostra isto. Os dirigentes da oposição que expressem esse movimento e o canalizem para uma oposição construtiva estarão preservando o futuro e contribuindo para o aprimoramento da democracia brasileira.
Brasil urgente precisa de uma oposição coerente, tanto quanto de um governo de continuidade e eficiente.
Desse ponto de vista, votar Dilma no primeiro turno é duplamente útil.

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Serra e Dilma travam confronto particular na Rede TV

José Serra e sua missão quase impossível: Mudar completamente o cenário eleitoral. que atualmente é negativo para sua candidatura. Atrás nas pesquisas (50% para a petista Dilma Rousseff contra 27%, segundo o Datafolha), o presidenciável José Serra (PSDB) teve mais uma oportunidade de reverter a situação ontem, no debate Rede TV!/Folha, o qual participaram Dilma, Serra, Marina Silva (PV) e Plínio de Arruda Sampaio (Psol).
Porém, a ocasião não foi tão aproveitada pelo tucano. Ele até fez críticas pontuais à candidata do PT, mas não convenceu pela maneira de se expressar: as palavras foram fortes, mas sem a entonação necessária, sem ser enfático, sem transparecer sua indignação, que talvez faria diferença entre o eleitorado.
Serra enfrentou diretamente Dilma apenas em duas oportunidades - no terceiro e no quinto blocos. O tucano optou por indagar a petista sobre sua política internacional: se é a favor da relação "de carinho e amizade com o Irã", do presidente Mahmoud Ahmadinejad "que enforca jornalistas e apedreja mulheres".
Para Dilma, as questões com outros países "não se resolvem com o fígado". "Trata-se de resolver a paz." Serra atacou a resposta, a qual considerou evasiva. "Não sou caluniador nem evasivo, a minha vida pública é conhecida. No seu caso não dá para dizer (...) Sistematicamente não responde às perguntas. Não precisa tratar com o fígado, mas também não precisa tratar com abraços e beijos." A ex-ministra replicou. "Lamento a tentativa do meu adversário de me desqualificar."
O tucano e a ministra tiveram, cada um, direito de resposta. Dilma porque foi criticada na condução da Casa Civil do governo Luiz Inácio Lula da Silva. "Meu adversário quer ganhar campanha no tapetão porque não consegue convencer o povo brasileiro. O que ele quer é virar a mesa da democracia." Serra porque foi chamado de caluniador. "A Casa Civil parece ser foco de corrupção."
Na segunda chance de enfrentar a principal adversária, Serra escolheu o tema saneamento. "No Brasil, 12 milhões de famílias não têm acesso a redes de água e 32 milhões não têm rede coletora de esgoto", frisou o tucano. "Mudamos o patamar de investimento na área. Saímos de gasto de menos de R$ 300 milhões em 2002 para R$ 10 bilhões quatro anos depois. Claro que há muito o que fazer. Vamos colocar metas para vermos no horizonte o processo de universalização do saneamento", salientou a petista.
Marina Silva (PV), por sua vez, elogiou as benfeitorias e atacou as deficiências brasileiras expostas nos últimos 16 anos, período em que o Palácio do Planalto foi comandado pelo PSDB (oito anos) e PT (outros oito anos). A verde também tentou emplacar o discurso de preservação do meio ambiente e bateu na tecla da corrupção e da violação de dados sigilosos da Receita Federal. O alvo foi sempre a candidata do governo, Dilma Rousseff, que defendeu ampla investigação e punição "doa a quem doer".
Plínio de Arruda Sampaio (Psol) iniciou o debate como franco atirador, mas ao decorrer da atividade foi apagando. Desafiou os concorrentes a investir 10% a mais na Educação, acabar com a Lei de Responsabilidade Fiscal e mudar o Bolsa Família, o qual taxou de "humilhação para quem recebe" e "um auxílio que pode falhar a qualquer momento". O socialista protagonizou os momentos mais descontraídos. Indagado por Dilma sobre os investimentos da Petrobras em navios e equipamentos de outros países, observou: "Falar sobre compra de navios pela Petrobras é pegadinha. Não estou a par."
Beto Silva

Do Diário do Grande ABC

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