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Editorial - Carta Capital

Conspiração policial
á tivemos um exército de ocupação, convocado pela casa-grande em 1964. O gendarme indispensável ao golpe, a favor dos senhores com a bênção, não somente metafórica, de Tio Sam. De mais de uma década para cá, somos forçados a colher fortes indícios de que contamos com uma polícia para cuidar dos interesses da minoria privilegiada.

Aquelas Forças Armadas derrubaram o governo. Esta polícia, ou pelo menos alguns de seus núcleos, conspira contra o governo. O tio do Norte está aparentemente mais distante, mas não desgosta de um satélite em lugar de um país independente.

A postura conservadora da caserna, em momentos diversos francamente reacionária, sempre arcou com um papel poderoso, quando não decisivo, na história do Brasil.

Hoje, graças também a um comando firme e responsável, mantém a atitude correta na moldura democrática, a despeito dos esforços da mídia nativa para oferecer eco a vozes discordantes de reduzido alcance. A defesa do status quo ficou para a Polícia Federal? A PF não foi treinada para a guerra, dispõe, porém, de armas afiadas para conduzir outro gênero de conflito, similar àquele da água mansa que destrói pontes.

Um dos instrumentos usados para atingir seus objetivos com a expressão de quem não quer coisa alguma é o vazamento, a repentina revelação de fatos do seu exclusivo conhecimento, graças ao fornecimento de informações destinadas ao segredo e, no entanto, entregue de mão beijada e por baixo do pano a órgãos midiáticos qualificados para tanto, sem descaso quanto à pronta colaboração do Ministério Público.




Os pecados de Dilma, por Mino Carta



Adhemar de Barros levou para casa as urnas marajoaras do museu. Ernesto Geisel, os vasos chineses presenteados por autoridades estrangeiras em visita oficial. Exemplos daquele patrimonialismo que o ministro Levy parece desconhecer. Mas há formas piores.
O presidente da Petrobras aos tempos da ditadura do acima citado Geisel, Shigeaki Ueki, foi o primeiro grão-mestre da corrupção na empresa criada por Getúlio Vargas. Certo Barusco de quem muito se fala é destacado executivo da Petrobras desde meados dos anos 90, aquele período abençoado pela mídia deliciada, em que reinou Fernando Henrique, quando ainda não havia comprado os votos para conseguir no Congresso o seu segundo mandato, debaixo dos aplausos midiáticos.
A corrupção é endêmica no Brasil porque muitos políticos enxergam o poder alcançado pelo voto como de sua propriedade privada, assim como se dá com servidores do Estado, nomeados, os Barusco, os Duque, os Costa, os Cerveró e companhia. Mas, a bem da sacrossanta verdade, o espírito nacional tende, frequente e naturalmente, à tramoia, ao passa-moleque, à falcatrua, ao comércio do gato por lebre.
É também do conhecimento do mundo mineral que este é o país da impunidade. A quantidade de imponentes corruptos que vivem, ou viveram à larga antes de passar à outra vida, é infinda, além de certa e sabida, assim como acontece que rico não vá para a cadeia. Há mais de duas décadas, paira por trás dos lances mais duvidosos, quando não francamente criminosos, a marcarem a vida do poder à brasileira, a figura, fugidia e ao mesmo tempo de nitidez implacável, do banqueiro Daniel Dantas. Desde a privatização das comunicações, a maior bandalheira da história pátria, até os chamados mensalões e a Operação Satiagraha.
Não falta lenha para a fogueira da corrupção brasileira, cada vez mais abundante e de todas as procedências. Há quem escape, porém, na visão e no uso do poder, ao andamento comum. Em primeiro lugar, neste momento, Dilma Rousseff. O resultado da recente pesquisa Datafolha, pela qual 47% dos brasileiros acreditam que a presidenta está envolvida em corrupção, representa um equívoco clamoroso, adubado pelas ferozes interpretações do jornalismo nativo.
O que não há como pôr em dúvida é a honestidade de Dilma. Pode-se alegar sua ingenuidade diante do engano de que foi vítima, urdido por quem lhe era tão próximo. Pode-se alegar falta de experiência para lida complexa, ou da desejável vigilância. A presidenta, além de cultivar as melhores intenções, não daquelas que pavimentam o caminho do inferno, é moralmente inatacável. Ao contrário de Fernando Henrique, por exemplo.
As falhas de Dilma são de outra natureza e dizem respeito à prática da política. Ela não é mestra na matéria, embora saiba bastante de economia. Infensa à negociação, comunica-se com transparente dificuldade. Daí as relações difíceis com o Congresso e com o empresariado. Grave, deste ponto de vista, o afastamento de Lula, imbatível no trato político, mestre no assunto. Por mais compreensível que seja o propósito de se afirmar por conta própria, a presidenta errou ao se distanciar de quem seria seu melhor conselheiro.
Raros os momentos de aproximação, e sempre por mérito do ex-presidente, preocupado com as dificuldades da sucessora. Se ele estivesse nas imediações, é certo de que a presidenta não se rodearia de colaboradores nota 10 em incompetência, de efeitos deletérios tanto mais em tempos de crise gravíssima. Outros seriam os comportamentos dos parlamentares, enquanto os empresários teriam mantido um resquício de esperança.
As causas da crise têm origens diversas e Dilma não é, certamente, a responsável número 1. Muito antes do que ela e seus erros, surgem as consequências do neoliberalismo globalizado, a debacle do PT, a corrupção desenfreada dentro da maior empresa brasileira no quadro de um mal crônico, emblema da predação como característica inata. E a empáfia tucana, e a costumeira, irreversível prepotência da casa-grande, amparada pela desonestidade orgânica da mídia nativa. Mas Dilma, sinto muito, tem suas culpas em cartório. Nada a compartilhar, está claro, com a culpa alegada por Ives Gandra Martins na sua peça de delírio onírico confeccionada a mando tucano para demonstrar a viabilidade do impeachment. A todos aconselha-se a simples leitura da Constituição.



Editorial, por Mino Carta

Gigollete em Estocolmo

Folha de S.Paulo está de parabéns: na sua edição de quarta 17 provou que o governo federal tem acentuadíssima vocação para mulher de apache, a gigolette que gosta de apanhar do gigolô. Ou se trataria de uma forma aguda da síndrome de Estocolmo? De todo modo, a reportagem desdobrada a partir da manchete da primeira página demonstra, com precisão de teorema pitagórico, que o governo cumula de favores aqueles que o denigrem ferozmente dia após dia.
O trabalho em questão, de página inteira no interior da edição, informa que entre os anos 2000 e 2013 as Organizações Globo ganharam 5,2 bilhões em publicidade das estatais e a Editora Abril mais de 500 milhões. A Folha faz questão de dividir a mídia nativa em dois campos. De um lado, a maioria das empresas, reunidas neste canto sem maiores esclarecimentos. Do outro, as “empresas alinhadas ao governo”, encabeçadas pela Editora Confiança, que publica CartaCapitalCarta na Escola e Carta Fundamental. E nós não passamos de 44,3 milhões.
Dirá o desavisado: alinhados e mal pagos. Vale aqui, antes de mais nada, uma reflexão. Que significa alinhado? No governo de Fernando Henrique, não vimos a cor de um único, escasso anúncio de estatal. E como se deu a nossa sobrevivência nos oito anos tucanos? Teria nos socorrido o ouro de Cuba ou de Moscou?
Apoiamos a candidatura de Lula em 2002 e 2006 e a de Dilma em 2010 e 2014, de acordo com uma prática comum em países democráticos e civilizados. Apoiamos, de início, e confirmamos ao longo do tempo, por razões larga e frequentemente esclarecidas aos leitores. Os governos de Lula e Dilma são pioneiros na realização de uma política de inclusão social muito bem-sucedida e de uma política exterior independente dos interesses do império americano, ambas vitais para o País. Em outros pontos, no decorrer desses 12 anos, fomos críticos severos. Por exemplo, em relação a uma política industrial ineficaz. Ou à rendição aos transgênicos. Ou a toda e qualquer medida econômica embebida em neoliberalismo. Quanto ao PT, de pronto consideramos, e sublinhamos, que no poder porta-se como os demais.
Ao listar os pretensos alinhados e ao não qualificar os demais, a Folha nos atribui o papel de jornalistas de partido e com isso fornece outra prova: como sempre, obedece aos seus naturais pendores e, no caso, manipula a informação e omite a qualidade dos demais, alinhados de um lado só, guiados pelo pensamento único enquanto, hipócritas inveterados, declamam sua isenção, equidistância, pluralidade. Ou seja, inventam e mentem.
Vale entender que na visão de CartaCapital, o problema número 1 é a herança de três séculos e meio de escravidão a manter de pé, até hoje, a casa-grande e a senzala. Eis a primeira razão do atraso do Brasil. Desde a precariedade de Educação e Saúde oferecidas à maioria até a falta total de um Prêmio Nobel. Desde a atuação de juízes dedicados à política em vez de fazer justiça até os oligopólios midiáticos. Desde a Ficha Limpa de Paulo Maluf até o enterro da Satiagraha. E este é um aspecto capital: jornalões, revistões, televisões e quejandos são os porta-vozes da casa-grande. De resto, é do conhecimento do mundo mineral que os patrões da mídia nativa são moradores remidos do edifício colonial, daí a naturalidade dos seus comportamentos. Ideológicos? Pois é, ideológicos. E depois dizem que a ideologia morreu...
Ressalve-se que uma parte conspícua da chamada classe média fica um degrau abaixo do mundo mineral em matéria de conhecimento, mas é claro a olhos mais treinados que deste profundo desequilíbrio social, a contrariar mesmo o capitalismo domesticado, conforme a definição do professor Belluzzo, brotam o instinto de predação, a impunidade dos graúdos, e a vexatória peculiaridade da democracia à brasileira. Pois inovamos Montesquieu, temos aqui Executivo, Legislativo, Judiciário e Forças Armadas, o inesgotável poder militar. Há quem sugira um quinto poder, o Mercado, o qual, no entanto, infesta o planeta todo, cada vez mais imbecilizado.
Até agora não entendi por que o governo convocou uma Comissão da Verdade para esforçar-se à toa em busca da própria e descobrir ao cabo que, desde a saída, estava decidida a confirmação da dita lei da anistia imposta pela ditadura. O resto da humanidade não sabe que crimes cometidos contra o gênero humano prescrevem, como está a ser sacramentado por aqui, e sequer imagina que a democracia possa conviver com um tribunal militar, habilitado a condenar o próprio relatório da comissão convocada pelo governo.
Mas não há trégua para nossos padecimentos. Surge quem proponha julgar a justíssima causa dos resistentes à ditadura. É como sustentar que, terminada a Segunda Guerra Mundial, caberia na Itália esclarecer ao mesmo tempo as responsabilidades de Hitler e Mussolini, em um canto, e dos partigiani da Resistência no outro. Ou na França, de Hitler e de Petain, e dos maquis. Só falta imaginar que, à margem do riacho, o cordeiro merece ser investigado tanto quanto o lobo.
O Brasil vive não somente uma crise moral, mas também a da razão. Talvez prepare o caminho para outra, maior e fatal. Algo é certo: o Brasil não está maduro para o jornalismo honesto.



Editorial: O Brasil diante de suas provas cruciais

A única novidade capaz de sacudir a prostração do país rumo ao matadouro, condensada no sangramento da Petrobras, é o surgimento de uma frente de esquerda capaz de liderar a resposta progressista ao arrastão conservador. Para isso é preciso entender o significado do que dizia Furtado: uma nação justa e soberana só nasce se enfrentar as suas provas cruciais. É a hora. Leia mais>>>

Editorial de Saul Leblon

Dilma, o sonho dos vivos e dos mortos

A emoção da Presidenta Dilma na cerimônia de entrega do Relatório da Comissão da Verdade, nesta 4ª feira, condensa camadas de angústia de quem conheceu de perto o horror de ser mastigada por forças incontroláveis.


O chão tinto de sangue do banheiro onde foi jogada após as sessões de tortura ficou impregnado na memória da jovem ativista de 19 anos.


Presa em 1970, ela foi manuseada por quase três anos na máquina de sadismo que matou 434 pessoas no Brasil, perseguiu milhares de outras, submeteu a sociedade a um regime de arrocho, terror, censura e medo.


As lágrimas incontidas desta 4ª feira, miravam o passado dos que foram supliciados como ela; o eterno presente dos familiares dos desaparecidos, ‘que sofrem como se eles morressem de novo, e sempre, a cada dia’; mas também, é muito provável, carregavam a angústia da chefe da nação diante da encruzilhada brasileira atual.


O sonho dos vivos e dos mortos desafia a mulher madura que hoje se prepara para assumir o segundo mandato presidencial e sabe o quanto é imperativo manter uma nação a salvo de forças incontroláveis.


Sabe, sobretudo, que elas não se manifestam mais apenas na forma do totalitarismo policial.


A supremacia do poder financeiro no século XXI pode sequestrar o destino de uma nação através de fluxos financeiros à paisana.


E impor a sua vontade, interditos históricos, e os mesmos custos sociais de um Estado ditatorial.


O passado, o presente e o futuro se entrecruzam nesse momento a evidenciar que o Brasil vive um divisor nessa história.

Um ciclo de expansão se esgotou, um outro pede para ser construído.


Pendências novas e antigas se misturam em meio a um cenário mundial adverso.


A variável determinante passa pela velocidade imprevista da transição chinesa.


A sensação de que tudo está despencando não é fora de propósito.


É como se o mastro que ancorava a lona da economia global de repente afundasse.


O motor asiático investia, em média, cerca de 45% do PIB e importava outros 10% em matérias-primas para saciar sua fornalha.


O velocímetro do seu crescimento recuou de 11% para perto de 7% ao ano.


O ritmo da freada sugere que poderá recuar ainda mais.


O tranco derruba as cotações das commodities nos cinco continentes.


As agrícolas estão em média 15% abaixo do piso declinante de 2013. O custo barril de petróleo ficou 40% mais barato desde junho.


Caiu mais um pouco nesta 4ª feira.


O freio de arrumação vai desativar poços ineficientes que flutuavam sobre uma demanda a US$ 120/barril.


O canal externo da economia nos países exportadores de óleo, metais e alimentos foi comprimido;


Em muitos deles, estreitou-se a margem de manobra de políticas associadas a um projeto de desenvolvimento com repartição de renda.


A descrição se encaixa nas características do modelo em curso na América Latina, pilotado por um colar de governos progressistas que mudou a geopolítica regional.


Em 2014, pela primeira vez em dez anos, segundo a OCDE, o PIB médio da região terá um crescimento inferior à expansão, já medíocre, prevista para as economias ricas: poderá situar-se abaixo de 1,5%.


O Brasil será atingido pela queda nas cotações e no volume dos embarques de minérios e grãos. Mas também de produtos manufaturados vendidos a parceiros latino-americanos em idêntico apuro.


O raciocínio não vale para o caso da Petrobrás.


Sobretudo, não vale para o pré-sal, que opera com tecnologia de ponta e risco zero em cada poço, sendo viável a partir de um barril em torno de  U$45/50.


A escala gigantesca das reservas é outro diferencial quando cálculos de amortização de custos tem que ser refeitos.


O número mais comedido estima em 45 bilhões de barris o total recuperável das reservas descobertas a seis mil metros da superfície, no fundo do oceano. Estimativas não descabidas falam em algo como o dobro disso.


O fato é que o pré-sal oferece o melhor horizonte de desenvolvimento para a indústria de petróleo no mundo.


A taxa que mede isso mostra que ele garante 88% de óleo recuperável sobre o total existente, contra 75% na Arábia Saudita, 65% na Rússia e 55% nos EUA.


O avanço do xisto norte-americano mexe com a demanda mundial, mas não altera o trunfo das vantagens comparativas, que inclui o domínio brasileiro da tecnologia de ponta em águas profundas.


O conjunto compõe o chão firme sobre o qual se desenvolve o maior projeto de investimento empresarial do planeta na atualidade.


Repita-se: o maior plano de investimento em curso no século XXI, feito por uma única corporação, é o da Petrobras.


Algo em torno de U$ 200 bilhões de dólares serão aplicados pela estatal em exploração e produção, entre 2014 e 2018.


Cerca de US$ 12 bilhões de dólares terão que ser financiados no mercado internacional.


Caso o mergulho das commodities ganhe a parceria de uma elevação nas taxas de juros nos EUA, o custo desse financiamento poderá impor algum freio no ritmo da exploração.


Mas não a ponto de inviabilizar as suas referências estratégicas de longo prazo.


Entre elas inclua-se a insubstituível necessidade de uma oferta estável de petróleo para que a humanidade possa realizar a transição rumo a energias renováveis, sem atropelos de abastecimento ou explosão de custos.


O pré-sal e o seu modelo de regulação soberana, acoplado à exigência de conteúdo nacional, continuam a figurar como o bilhete premiado do desenvolvimento brasileiro.


Mais que isso.


Talvez representem o derradeiro impulso industrializante capaz de rejuvenescer a sua base competitiva, garantindo o excedente necessário à finalidade social do crescimento.


O tesouro não contradiz, antes explica a angústia que talvez tenha contribuído para a demonstração incomum de emotividade da Presidenta da República na cerimônia da Comissão da Verdade.


A exploração conservadora dos casos de corrupção dentro da empresa pode inviabilizar esse trunfo contracíclico no momento em que a China desacelera, a Europa deflaciona e a recuperação norte-americana se faz com elevada desigualdade social.


Fomentar uma crise de confiança no país para atingir o governo Dilma é a estratégia do terceiro turno em marcha.


Desqualificar a Petrobrás, e o projeto de desenvolvimento que ela pilota, é a pedra basilar do mutirão graúdo.


Não se mira a lisura na gestão do dinheiro público.


Fosse isso o clamor da faxina viria associado à defesa da reforma política, do pré-sal e do que ele significa para o crescimento, a educação e a saúde.


O alvo é outro.


Trata-se de usar o pé-de-cabra da corrupção para derrubar um governo, e escancarar portas que permitam ao capital estrangeiro servir-se do pré-sal como um banco de sangue na transfusão requerida pela riqueza papeleira.


A angústia estampada no rosto crispado da Presidenta da República nesta quarta-feira refletia o desfile dos vivos e dos mortos; mas também do sonho brasileiro que os mobilizou.


O risco de vê-lo escapar é real.


A curetagem conservadora pode anular a alma de uma nação se conseguir convencê-la a rastejar por debaixo de suas possibilidades históricas.


A Petrobras sozinha representa mais de 10% de todo o investimento brasileiro em 2014, estimado em insuficientes 18,5% do PIB.


As empreiteiras associadas ao esquema de corrupção da estatal, segundo cálculos rápidos do economista Luiz Gonzaga Belluzzo, estariam ligadas a um conjunto de obras em diferentes setores que somariam quase a metade da taxa de investimento prevista para o ano.


‘É importante o rigor com os envolvidos na corrupção; mas as empresas, a exemplo da Petrobras, e assim como se faz nos EUA, não podem ser inviabilizadas. Há um risco real de paralisar o país’, diz Belluzzo que discorda da orientação ministerial de sua amiga, ex-aluna e Presidenta da República.


Um aperto fiscal e monetário agora, pondera o economista, reforça a ameaçadora dinâmica do estrangulamento recessivo: ‘Tínhamos que reagir com um forte investimento público, mas cedemos ao senso comum’, diz com desacordo: ‘É como se coisas movessem os humanos e não o contrário. A hierarquia só será recomposta quando o desemprego bater nas ruas’.


O conservadorismo opera diuturnamente para reforçar essa coisificação da economia e assim sepultar qualquer disposição para enfrentar dogmas e interditos.


O matadouro é visível até a um bife a Camões.


Trata-se de espremer Dilma e tanger o  PT, obrigando-os a pensar pequeno.


Pensar um futuro menor que o país.


Uma segunda gestão de Dilma menor que as possibilidades e urgências da Nação.


Com um programa menor que a ponte necessária para saltar da prostração ao discernimento de um pacto feito de prazos, salvaguardas, reformas e metas críveis de crescimento.


Se pensar pequeno, o Brasil corre o risco de caber no projeto conservador.


E emergir do outro lado na lista dos desaparecidos da Comissão da Verdade, com um adendo:


‘O sonho da democracia social brasileira’.


Não é impossível que a Presidenta Dilma tenha vislumbrado esse risco na cerimônia de hoje.


A ver.

Editorial

Dilma tem a confiança do povo e dos partidos aliados


O triunfo eleitoral da presidenta Dilma Rousseff conquistando mais um mandato para dirigir os destinos da nação nos próximos quatro anos é um episódio elevado da vida política republicana brasileira, que há poucos dias completou 125 anos. Como temos assinalado, foi a quarta vitória eleitoral sucessiva do povo brasileiro, coroando uma fase de desenvolvimento democrático e social virtuoso inaugurada em 2002, com a primeira eleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.


Editorial - Mino Carta

na Carta Capital
As mãos sujas
Que Deus escute a presidente Dilma Roussef

Admitia um parlamentar do Partido Democrata-Cristão da Itália, envolvido na célebre Operação Mãos Limpas: “Os partidos são máquinas de caça-níqueis”. A frase será certamente muito apreciada por todos aqueles que enxergam nos políticos em geral outros tantos ladrões. Nem por isso vale em todas as circunstâncias, embora em parte não destoasse quando foi pronunciada e tampouco destoe no Brasil de hoje.
Pretende-se semelhança entre a nossa Operação Lava Jato e a Operação Mãos Limpas dos começos dos anos 90. Ambas visam devassar e condenar esquemas corruptos, mas há mais diferenças do que parecenças. Aquelas, de saída. Tanto a Mãos Limpas quanto a Lava Jato resultam de uma investigação inicial a respeito de fato e personagens de porte miúdo. Tampas pequenas para panelões ferventes.
As duas operações apresentam os rostos de figuras centrais, o PM Antonio Di Pietro e o juiz Sergio Moro. Na Itália, o grande inquisidor Di Pietro foi logo secundado por um pool de juízes e a operação levou à cadeia mais de mil cidadãos, atingidos ao cabo por condenações inflexíveis e amiúde longas. Políticos e empresários. Alguns destes mataram-se antes de ser presos. O político que dominara por dez anos, o líder socialista e primeiro-ministro Bettino Craxi, condenado a oito anos de cárcere, fugiu para a Tunísia, a salvo da extradição.
A comparação entre o PT e o PCI exibe outra diferença. Ao contrário daquele, a se revelar igual a todos os demais partidos brasileiros, não houve condições de provar que políticos comunistas de qualquer escalão tivessem embolsado um único, escasso tostão, conquanto não fossem isentados de meticulosas investigações.
O desfecho da Mãos Limpas foi a implosão da Primeira República, nascida no imediato pós-Guerra. Nem sempre este gênero de terremoto produz bons resultados, além do ataque à corrupção, eficaz de saída. No vazio de poder que se seguiu, ao vir à luz a Segunda República, instalou-se um predador clownesco chamado Silvio Berlusconi, enquanto o PCI mudava de nome, chamuscava a sua identidade e se perdia em disputas internas.
Eis aí uma lição que seria oportuno aproveitar: a antipolítica sempre deságua em desastre. Em nome da negação da política, tida como origem de todos os males e de todas as mazelas, as ideologias chamadas a nutrir o debate responsável são abandonadas em proveito do desarme da consciência. Ou, por outra, da promoção da ignorância, do preconceito, do equívoco. No Brasil, um pensamento antipolítico leva ao fortalecimento da casa-grande e incentiva a mídia nativa no seu esforço de despolitização de quantos a leem ou ouvem.
Aonde nos conduz a Operação Lava Jato não é fácil prever. Creio que o juiz Moro queira apenas e tão somente fazer justiça e creio que esta venha a ser aplicada com todo o rigor. Tenho outra certeza: este processo vai confirmar o pecado capital da política à brasileira, cometido desde sempre. Gostaria, portanto, que outros fatos a enodoar o passado da política brasileira viessem à tona, inclusive os ocorridos em tempos recentes, antes da primeira vitória de Lula.


Pois então, em um arroubo de pacata ilusão, proponho: chamemos o tão falante Fernando Henrique Cardoso, erguido no alto de livros que ninguém leu, para que explique como se deu a privatização das Comunicações, a maior bandalheira da história do Brasil. Ou de como foi feliz na compra de votos para conseguir a sua reeleição. Ou de que maneira foram enterrados os casos Sivam e Pasta Rosa. Nesta terra pretensamente abençoada por Deus, uma multidão implora pelo definitivo triunfo da moral, com M grande, e não se incomoda com quem inaugurou a transgressão. A maioria, por viver no limbo, alguns por hipocrisia.
Se a Operação Lava Jato cumprisse o cauteloso vaticínio da presidenta Dilma, ao imaginá-la capaz de provocar uma mudança positiva nos hábitos políticos do País (e eu gostaria se também fossem comportamentais para a sociedade em peso), que bem venha. Até para impedir, daqui para a frente, que somente pobres e petistas sigam para a cadeia.

Festival de hipocrisia que assola o País

EDITORIAL - Gazeta de Alagoas
Nas derradeiras semanas antes do primeiro turno das eleições presidenciais, intensificam-se as pressões e a manipulação de informações por parte dos grupos econômicos mais tradicionais e poderosos do País perfilados, em esmagadora maioria dentre as elites tupiniquins (eles detestam esse termo, que, em verdade, é muito injusto com os selvícolas), contra a candidatura Dilma Rousseff.



"Festival de hipocrisia que assola o Brasil"

EDITORIAL - Gazeta de Alagoas
Nas derradeiras semanas antes do primeiro turno das eleições presidenciais, intensificam-se as pressões e a manipulação de informações por parte dos grupos econômicos mais tradicionais e poderosos do País perfilados, em esmagadora maioria dentre as elites tupiniquins (eles detestam esse termo, que, em verdade, é muito injusto com os selvícolas), contra a candidatura Dilma Rousseff.




Um dos malabarismos vernaculares mais interessantes que têm assaltado os noticiários mais badalados, especialmente nas TVs, está na dualidade do significado do termo “oscilar”. Na divulgação das pesquisas, quando Dilma ganha um ponto que seja, ela “oscila”; mas se Aécio e/ou Marina faturam seu ponto, ele e/ou ela “cresce”. No mesmo rumo do léxico elitista, se Marina/Aécio desce um ponto, ele/ela “oscila”, enquanto a mesma situação, se ocorrer, em relação a Dilma, esta “cai”. Curiosa essa nossa língua portuguesa/eleitoral, não é?

Noutro exemplo dual, se Dilma contesta alguma notícia veiculada contra ela, está praticando a “censura à imprensa”; ao mesmo tempo se Marina e Aécio entram na Justiça para tirar do ar algum site e/ou processam algum jornalista, este gesto passa a ser “legítima defesa” ou outra sandice do tipo. Ou seja, liberdade de imprensa é algo que se manifesta apenas quando se imprensa Dilma, PT e seus aliados; e se o noticiado é calúnia ou difamação, trata-se de detalhe secundário.

Nesse mesmo raciocínio, pode-se insultar Dilma, Lula, PT e seus aliados à vontade, usando termos como “mula”, “anta”, “quadrilha”, “petralha” e preciosidades semelhantes à larga. Mas ninguém pode dirigir uma palavra sequer que possa ser entendida como “ataque” contra Aécio/Marina – aí a comoção se instalada em defesa das pobres vítimas, tadinho e tadinha!




Trombeteia-se denúncias e supostas denúncias contra a Petrobras (apenas no período dos mandatos Lula e Dilma, esquecendo-se de FHC) ao mesmo tempo em que, por exemplo, são abafadas as notícias sobre o caso do transporte de meia tonelada de pasta de cocaína num helicóptero de aliados políticos do presidenciável tucano.

É esse tipo de picaretagem ideológica que se pretende instituir como parâmetro para o cerceamento real da liberdade de expressão, conferindo generosos direitos a uns e draconianos deveres para outros."

Editorial

Deus e o diabo na terra da Globo
Exatamente a sessenta anos atras Getúlio Vargas cometia suicídio, a direita conservadora reedita em farsa a tragédia. Ensaia um simulacro de catarse nacional varguista emprestando à consternação pela morte de Eduardo Campos uma dimensão histórica que ele não tem. Nosso Grande e genial Glauber Rocha que entendia muito de misticismo sempre deixou claro: Deus nos deu a vida. O diabo inventou a cerca e arame farpado. O pig quer nos vender arame farpado como a redenção brasileira. Continua>>>

Mino Carta - Editorial

Porque escolhemos Dilma

Começa oficialmente a campanha eleitoral e CartaCapital define desde já a sua preferência em relação às candidaturas à Presidência da República: escolhemos a presidenta Dilma Rousseff para a reeleição.
Este é o momento certo para as definições, ainda mais porque falta chão a ser percorrido e o comprometimento imediato evita equívocos. Em contrapartida, estamos preparados para o costumeiro desempenho da mídia nativa, a alegar isenção e equidistância enquanto confirma o automatismo da escolha de sempre contra qualquer risco de mudança. Qual seria, antes de mais nada, o começo da obra de demolição da casa-grande e da senzala.
O apoio de CartaCapital à candidatura de Dilma Rousseff decorre exatamente da percepção de que o risco de uns é a esperança de outros. Algo novo se deu em 12 anos de um governo fustigado diária e ferozmente pelos porta-vozes da casa-grande, no combate que desfechou contra o monstruoso desequilíbrio social, a tolher o Brasil da conquista da maioridade.
CartaCapital respeita Aécio Neves e Eduardo Campos, personagens de relevo da política nacional. Permite-se observar, porém, que ambos estão destinados inexoravelmente a representar, mesmo à sua própria revelia, a pior direita, a reação na sua acepção mais trágica. A direita nas nossas latitudes transcende os padrões da contemporaneidade, é medieval. Aécio Neves e Eduardo Campos serão tragados pelo apoio da mídia e de uma pretensa elite, retrógrada e ignorante.
A operação funcionou a contento a bem da desejada imobilidade nas eleições de 1989, 1994 e 1998. A partir de 2002 foi como se o eleitorado tivesse entendido que o desequilíbrio social precipita a polarização cada vez mais nítida e, possivelmente, acirrada. Por este caminho, desde a primeira vitória de Lula, os pleitos ganham importância crescente na perspectiva do futuro.
CartaCapital não poupou críticas aos governos nascidos do contubérnio do PT com o PMDB. No caso do primeiro mandato de Dilma Rousseff, vale acentuar que a presidenta sofreu as consequências de uma crise econômica global, sem falar das injunções, até hoje inescapáveis, da governabilidade à brasileira, a forçar alianças incômodas, quando não daninhas. Feita a ressalva, o governo foi incompetente em termos de comunicação e, por causa de uma concepção às vezes precipitada da função presidencial, ineficaz no relacionamento com o Legislativo.
A equipe ministerial de Dilma, numerosa em excesso, apresenta lacunas mais evidentes do que aquela de Lula. Tirante alguns ministros de inegável valor, como Celso Amorim e Gilberto Carvalho, outros mostraram não merecer seus cargos com atuações desastradas ou nulas. A própria Copa, embora resulte em uma inesperada e extraordinária promoção do Brasil, foi precedida por graves falhas de organização e decisões obscuras e injustificadas (por que, por exemplo, 12 estádios?), de sorte a alimentar o pessimismo mais ou menos generalizado.
Críticas cabem, e tanto mais ao PT, que no poder portou-se como todos os demais partidos. Certo é que o empenho social do governo de Lula não arrefeceu com Dilma, e até avançou. Por isso, a esperança se estabelece é deste lado. Queiram, ou não, Aécio e Eduardo terão o pronto, maciço, às vezes delirante sustentáculo da reação, dos barões midiáticos e dos seus sabujos, e este custa caro.

Editorial de O Globo

Quanta tolice, quanta babaquice, quanta falta do que inventar. O PT governa o país a menos de 12 anos, o PSDB governa o estado de São Paulo a quase 20 e o jornaleco jamais publicou - nem publicará - um editorial acusando os tucanos de buscar a "hegemonia". 

Tem mais, o PT, o PSDB e demais partidos brasileiros que tem filiados ocupando cargos eletivos, no Executivo e Legislativo, foram, são e sempre serão eleitos pela maioria dos eleitores. Se a maioria do paulistas ou de qualquer outro estado da federação decidir que o partido A, B ou C é deve permanecer governando, cabe aos derrotados respeitar a maioria. Isso também se aplica a Presidência da República.
Entendeu, ou preciso desenhar?

O Globo - A busca petista pela hegemonia

Não se pode deixar de reconhecer características do PT como as de organização e de capacidade de mobilizar a militância. A legenda mantém das origens sindicais o vigor nas ações e, desde a fundação, há mais de três décadas, é considerado um partido político de fato, com programa e projeto de poder.
Por trazer no DNA traços de diversas ramificações da esquerda, da católica à stalinista, o partido, não poderia deixar de ser, carrega um ranço de autoritarismo. Mas descobriu, depois da terceira tentativa frustrada de Lula de chegar à Presidência, que deveria abrir-se a alianças à direita. A fórmula havia sido aplicada com êxito pelos tucanos, a partir da análise correta do sociólogo Fernando Henrique Cardoso de que a esquerda sozinha não conseguiria governar o Brasil.
O PT tentou e deu certo a partir das eleições de 2002, quando a Vice-Presidência foi cedida a um empresário, José Alencar, e a presidência do BC, ao ex-CEO de um banco internacional, Henrique Meirelles.


Mas o partido, mesmo que deseje, não pode renunciar às origens. O PT ou qualquer outro. Nesta campanha, tem ficado translúcida a tendência visceral do PT à hegemonia política. Talvez até pelos desgastes inerentes a uma aliança partidária mantida à base do toma lá dá cá do fisiologismo, por opção petista, o partido tem como projeto para 2014 eleger amplas bancadas no Congresso, para depender menos de aliados. No caso, o PMDB, uma frente de caciques regionais, e, por isso mesmo, pouco confiável para o PT.
Porém, como o objetivo do momento para o partido é somar minutos e segundos no programa eleitoral, finge-se internamente que não foi uma derrota política o fato de a aliança com o PT ter sido rejeitada por 41% da convenção nacional do PMDB, mesmo preservada a Vice-Presidência de Michel Temer.
O trabalho do PT para ampliar as bancadas no Congresso esbarra em interesses dos outros partidos aliados, o PMDB o maior deles. Peemedebistas sentem em suas bases efeitos da busca petista pela hegemonia política.
As desavenças no Rio de Janeiro são típicas. O lulopetismo apoia a candidatura do senador petista Lindbergh Farias ao Palácio Guanabara como forma de puxar mais votos para a legenda, e deixa em segundo plano a aliança que fez com o PMDB de Sérgio Cabral, um acerto político que facilitaria a eleição de Luiz Fernando Pezão, vice-governador e candidato à sucessão de Cabral.
Enredos semelhantes se repetem pelo país afora. O grupo que detém o controle do PT parece mesmo decidido a lutar pela hegemonia, e já trabalha para isso desde já. Outro objetivo não tem o Decreto-Lei 8.243, destinado a subordinar o Estado brasileiro a comissões, fóruns e “mesas” tripuladas por companheiros, rotulados de representantes da “sociedade civil”. Se não vai pelo voto, vai pelo decreto.

Editorial do GAFE - Globo, Abril, Folha, Estadão - após julgamento da AP 470


Vive a Nação dias gloriosos. 
Porque souberam unir-se todos os patriotas, independentemente de vinculações políticas, simpatias ou opinião sobre problemas isolados, para salvar o que é essencial: a democracia, a lei e a ordem. 
Graças à decisão e ao heroísmo do STF, que obedientes a seus chefes [GAFE] demonstraram a falta de visão dos que tentavam destruir a hierarquia e a disciplina, o Brasil livrou-se do Dirceu, Delúbio e Genoino, que insistiam em arrastá-lo para rumos contrários à sua vocação e tradições. 
Como dizíamos, no editorial de anteontem, a legalidade não poderia ser a garantia da subversão, a escora dos agitadores, o anteparo da desordem. Em nome da legalidade, não seria legítimo admitir o assassínio das instituições, como se vinha fazendo, diante da Nação horrorizada. 
Agora, a opinião publicada dará o remédio constitucional à situação existente, para que o País continue sua marcha em direção a seu grande destino, sem que os direitos individuais sejam afetados, sem que as liberdades públicas desapareçam, sem que o poder do Estado volte a ser usado em favor da desordem, da indisciplina e de tudo aquilo que nos estava a levar à anarquia e ao lulopetismo. 
Poderemos, desde hoje, encarar o futuro confiantemente, certos, enfim, de que todos os nossos problemas terão soluções, pois os negócios públicos não mais serão geridos com má-fé, demagogia e insensatez. 
Salvos da comunização que celeremente se preparava, os brasileiros devem agradecer aos bravos ministros, que os protegeram de seus inimigos. Devemos felicitar-nos porque a PGR e o STF, fiéis ao dispositivo constitucional que as obriga a defender a Pátria e a garantir os poderes constitucionais, a lei e a ordem, confundiram a sua relevante missão com a servil obediência ao Chefe de apenas um daqueles poderes, o Judiciário. 
No momento em que o Sr. Lula ignorou a hierarquia e desprezou a disciplina de um dos ramos das Forças Ocultas, saiu dos limites da lei, perdendo, conseqüentemente, o direito a ser considerado como um símbolo da legalidade, assim como as condições indispensáveis à Chefia da Nação e ao Comando das corporações midiáticas. Sua presença, suas palavras e a eleição de mais um poste [ Fernando Haddad ] a prefeitura de São Paulo, definitivamente, aos adversários da democracia e da lei. Depois dessa, Lula e o PT podem vencer a disputa eleitoral para governar São Paulo, isso é inadmissível.
Atendendo aos anseios particulares, de paz, tranqüilidade e progresso, impossibilitados, nos últimos tempos, pela ação subversiva orientada pelo Palácio do Planalto, alguns ministros do STF chamaram a si a tarefa de restaurar a Nação na integridade de seus direitos, livrando-os do amargo fim que lhe estava reservado pelos vermelhos que haviam envolvido o Executivo Federal. 
Este não foi um movimento partidário. Dele participaram todos os setores conscientes da vida política brasileira, pois a ninguém escapava o significado das manobras presidenciais. Aliaram-se os sem votos, os agiotas, donos da grande imprensa, com o mesmo intuito redentor que animou os juízes e os promotores. Era a sorte da democracia no Brasil que estava em jogo.
A esses líderes togados devemos, igualmente, externar a gratidão de nosso patrão. Mas, por isto que nacional, na mais ampla acepção da palavra, o movimento vitorioso pertence ao Pig, agiotas nacionais e internacionais. Não é da Pátria, do Povo e do Regime. Foi contra qualquer reivindicação popular, contra qualquer ideia que, enquadrada dentro dos princípios constitucionais, objetive o bem do povo e o progresso do País.
Se os banidos, para intrigarem os brasileiros com seus líderes e com os chefes togados, afirmarem o contrário, estarão mentindo, estarão, como sempre, procurando engodar as massas trabalhadoras, que não lhes devem dar ouvidos. 
Confiamos em que o Congresso votará, rapidamente, as medidas reclamadas para que se inicie no Brasil uma época de justiça e harmonia social. Mais uma vez, o povo brasileiro foi socorrido pela Providência Divina, que lhe permitiu superar a grave crise, sem maiores sofrimentos e luto. Sejamos dignos de tão grande favor.
Atualização do Editorial do Globo de 02/04/1964
+Joel Neto 

Solidariedade

Com a crescente ocorrência de grandes movimentos de solidariedade internacional, a exemplo do recentemente realizado em favor das vítimas de catástrofes acontecidas no Japão, vem ganhando força, nos meios científicos, a tese de que o comportamento humano é bem mais complexo, em sua essência, do que pretende demonstrar a teoria da evolução de Charles Darwin. Em vez de haver sido originada do egoísmo e do instinto de sobrevivência, que supostamente privilegiariam os mais aptos, a seleção das espécies teria sido produzida exatamente por causas opostas, através de instintos altruístas e cooperativistas do ser humano.

Publicações científicas de renome como a "Nature" e a "Science", a partir de estudos realizados por antropólogos em vários países da África, Ásia e América Latina, com o apoio de pelo menos 35 prestigiadas universidades internacionais, têm constatado que a genética e a evolução cultural contribuem, em decisivo, para gerar indivíduos dispostos a se sacrificarem pela manutenção de normas de convivência e de criar um sentimento de cooperativismo e união em torno de causas e objetivos comuns.

Embora os primeiros seres humanos tenham vivido em condições bastante adversas, com variações climáticas intensas e empecilhos de toda sorte à própria sobrevivência, teria sido a cooperação entre os indivíduos, e não apenas o espírito de competição característico da "lei do mais forte", o principal fator responsável por levar a humanidade a se reproduzir em bem maior escala, pelo entendimento de que a ajuda mútua, a troca de conhecimentos e a união em momentos precisos seriam o melhor para todos.

Os diferentes graus de cooperação e altruísmo, segundo o americano Samuel Bowles, diretor do Programa de Ciências Comportamentais do Instituto Santa Fé, nos Estados Unidos, demonstram como os grupos cooperativos foram capazes de reproduzir-se em maior escala ao longo dos tempos. No passado, predominava a crença de que o comportamento solidário ficava limitado aos integrantes de uma mesma tribo ou grupo, ou se restringiria a grupos linguísticos.

No entender de renomados biólogos e antropólogos, se fosse o egoísmo a principal fonte responsável pela evolução das espécies, somente uma pequena parcela de humanos teria sobrevivido, pela noção óbvia de que eles se confrontariam dentro de suas próprias tribos e terminariam acarretando a própria extinção. Outro exemplo citado em favor da predominância da conjugação de esforços para o bem comum, no caso a vigência de regimes democráticos e respeitosos em relação aos direitos humanos, estaria expresso nos movimentos de massa por último eclodidos contra ditaduras que se perpetuavam no Oriente Médio.

No mundo de tendências cada vez mais belicosas, no qual nações se digladiam por motivos aparentemente banais, a tese da evolução através do processo de ajuda recíproca, mesmo se contrapondo a alguns dos princípios darwinianos, merece o devido respeito e o necessário aprofundamento de estudos, para que sua lição venha a servir de exemplo, com embasamento científico, para um futuro de mais integração e concórdia na Humanidade.
do DN

Magistério

A crise na escola pública se amplia com a deserção de professores, como vem ocorrendo com os últimos mestres concursados pelo Estado, dos quais 20% já desistiram da profissão. As causas para tanto são as mais variadas, indo da baixa remuneração, à violência interna e externa ao ambiente escolar, a falta de equipamentos e materiais didáticos atualizados, de motivação por parte do alunado e o desencanto com o sistema de ensino e aprendizagem.

O recente homicídio perpetrado contra um jovem de 19 anos nas dependências do Colégio Polivalente Modelo de Fortaleza, no Conjunto Prefeito José Walter, mostra como avança o nível de violência na rede pública. A vítima não era aluno do estabelecimento da periferia da cidade. Sentiu-se perseguido por dois supostos traficantes de drogas e procurou refúgio dentro do colégio estadual, sendo abatido sem piedade, contra o qual foram disparados sete tiros de pistola.

Pela manifestação dos policiais deslocados para apurar a ocorrência, o crime tem características de acerto de contas por dívidas de droga, à semelhança de centenas de outras mortes com idêntica motivação. A forma de cobrança praticada no submundo das drogas é sumária, portanto, sem direito de defesa, e se expande num crescendo preocupante, exigindo seu enfrentamento pelo poder público.

Nestes tempos conturbados, a escola se transformou no ambiente por excelência para a projeção dos conflitos familiares, das patologias sociais e das resistências ao processo de aprendizagem. O primeiro embaraço diz respeito ao cumprimento das normas de convivência em grupo, sendo a noção de ordem muito pouco assimilada. Sem ordem não há disciplina. Sem disciplina a educação formal se revela nula.

Por isso, a apuração do rendimento escolar vem-se transformando em foco de divergência entre mestres e alunos, gerando descontentamentos, ameaças de agressões e represálias dos estudantes contra os professores. Especialmente no ensino médio, o conteúdo programático não corresponde nem às necessidades dos educandos, nem às exigências do mercado de trabalho para o qual eles convergem.

Além desses desencontros, há, igualmente, falha na gestão pública, registrando-se inúmeros episódios de escolas beneficiadas com computadores nunca instalados por falta de rede energética adequada, de instrutores habilitados e de inclusão dessa prática educativa na programação curricular. Os equipamentos estão sendo ultrapassados pela velocidade registrada no mercado da informática sem qualquer uso.

A ação direta de inconstitucionalidade promovida contra o piso salarial do magistério desencadeou, entre os professores, a desesperança pela valorização profissional preconizada pelo Fundeb. Até a nova sistemática de remuneração da categoria, intentada pelo Estado, produziu efeito contrário, aumentando o clima de desestímulo.

A desistência da carreira é apenas um indicativo desse universo de questões pontuais. O mais difícil tem sido fazer a mocidade optar pelos livros, elegendo o conhecimento como ferramenta para a ascensão social. O desafio é gigantesco.

Editorial do jornal VALOR

Superávit cresce e as contas públicas voltam à ‘normalidade’

O ano começou com notícias promissoras no front fiscal, um dos pilares da política de combate à inflação. Em fevereiro, o setor público consolidado (União, Estados e municípios e estatais) gerou superávit primário (conceito que exclui os juros da dívida) recorde para aquele mês – R$ 7,913 bilhões, o maior da série histórica, iniciada em 2001.
É verdade que o esforço fiscal de fevereiro foi puxado pelos governos estaduais, que economizaram R$ 4,323 bilhões, 54,6% do superávit total. Em janeiro tomaram posse os novos governadores, que, agora, estão arrumando a casa depois do ano eleitoral, período em que, tradicionalmente, os gastos sobem de forma vertiginosa. Embora possa se questionar a qualidade do superávit, para o controle da inflação o que importa é o efeito do corte de gastos públicos sobre a demanda agregada da economia.
Chama a atenção o comentário do chefe interino do Departamento Econômico do Banco Central (BC), Túlio Moreira, durante a divulgação dos dados. Segundo ele, “está ocorrendo um retorno à normalidade”. De fato, o esforço feito neste momento pelo setor público contrasta com os resultados dos dois últimos anos. Em 2009, para combater os efeitos da crise financeira mundial, o governo federal, seguido por Estados e municípios, reduziu de forma drástica o superávit primário. E estendeu a frouxidão fiscal por todo o ano de 2010 – quando a economia já crescia a taxas exuberantes – com o foco na campanha eleitoral.
Com o resultado de fevereiro, o superávit acumulado no primeiro bimestre foi de R$ 25,6 bilhões, equivalente a 21,8% da meta fixada para 2011. No mesmo período do ano passado, o saldo positivo correspondeu a apenas 15,2% da meta anual; e, em 2009, a 13,5%. “Antes da crise de 2008, a média era de 20% a 22% da meta, no acumulado dos dois primeiros anos do ano”, comparou Maciel.
Preocupado com a aceleração inflacionária, o governo prometeu rigor fiscal, iniciando sua gestão com o compromisso de manter as despesas públicas com crescimento abaixo da variação nominal do Produto Interno Bruto (PIB). Assim estará contribuindo com o esforço do Banco Central de conter o consumo e, consequentemente, a elevação dos preços.
Os gastos da União, que em janeiro aumentaram 24%, tiveram no mês de fevereiro uma sensível desaceleração, com crescimento nominal de 7,4%. No bimestre, porém, segundo os dados oficiais, o crescimento da despesa ainda foi 4% superior à variação nominal do PIB, de 11,3%.
Segundo o BC, nos 12 meses até fevereiro, alguns gastos, como os de pessoal e encargos e outros benefícios, já cresceram, em termos nominais, abaixo do PIB. “Temos claramente uma melhoria das contas públicas, que reflete, de um lado, o desempenho econômico, que repercute na arrecadação de tributos mais sensíveis ao crescimento, como também há alguns agrupamentos dos gastos públicos crescendo abaixo do PIB nominal”, atestou o chefe de Departamento do BC.
O superávit, que estava muito abaixo da meta cheia em 2009 e 2010, somou, em 12 meses até fevereiro, R$ 108,1 bilhões, próximo da meta (R$ 117,9 bilhões) fixada na Lei de Diretrizes Orçamentárias para este ano. A única ressalva é que nesse número estão contabilizados os R$ 32 bilhões resultantes da capitalização da Petrobras, uma arrecadação extraordinária que, portanto, não vai se repetir em 2011.
O que não está claro é se a desaceleração no ritmo de crescimento do gasto com custeio indicado pela performance do primeiro bimestre é suficiente para ajudar o Banco Central a esfriar a demanda. Na avaliação do economista Maurício Oreng, do Itaú Unibanco, para cumprir essa tarefa seria preciso um crescimento mais lento da despesa real. O gasto em custeio deveria aumentar apenas uns 2,5% em termos reais, face aos 8,5% registrados em 2010.
Um sinal de que o governo pode chegar lá é o atraso, que já vem se verificando, na execução de investimentos públicos. “Para fins de [resultado] primário, isto equivale a um ‘corte temporário’ no gasto de capital”, explica Oreng.
Um dado divulgado pelo BC mostra que a despesa anual com juros subiu para R$ 205,4 bilhões nos 12 meses até fevereiro. Uma das razões do aumento foi a elevação da taxa básica de juros (Selic), mas o principal dano decorreu da aceleração da inflação. Hoje a taxa Selic impacta pouco mais de 1/4 da dívida pública, enquanto os índices de preços indexam mais da metade da dívida.