Afasta de mim esse cálice

Impulsividade de Lula e assessores
tresloucados transformam uma questão
prosaica criada por reportagem do
New York Times em uma grande crise

Leandra Peres

AP

Lula e a bebida
O lance final de uma semana agitada
O "Índice Ieltsin" de álcool e poder
Leia reportagens diárias sobre o governo Lula

Na semana passada, o governo conseguiu provar que é capaz de transformar até seus melhores momentos em crises de grandes proporções. Isso requer um certo esforço. Depois que o jornal The New York Times, o diário mais influente dos Estados Unidos, publicou reportagem de meia página, em sua edição de domingo 9, dizendo que o consumo de bebida alcoólica pelo presidente Lula virara "preocupação nacional", o governo viveu um raro momento de unanimidade. Até os adversários se levantaram em defesa do presidente. "Conheço o Lula há trinta anos e não vejo nenhuma razão para o jornal fazer tal suposição", afirmou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que classificou a reportagem de "leviana". "O presidente tem nossa total solidariedade. A reportagem é injusta e maldosa", disse o governador de São Paulo, o tucano Geraldo Alckmin. Na terça-feira, quando o interesse pelo assunto já estava minguando e quase ninguém mais parecia interessado no mexerico, o Palácio do Planalto anunciou a decisão de expulsar do país o autor da reportagem, o jornalista Larry Rohter, 54 anos, que trabalha no Brasil desde os anos 70.
Com a reação autoritária e exagerada, o governo virou o jogo contra si de forma espetacular. Até os aliados reagiram mal. "Não foi a melhor resposta", disse o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante, que, junto com outros senadores, formou uma comitiva para apelar ao presidente para que retrocedesse. Em vão. Numa cena que só a esquizofrenia petista parece capaz de exibir, até o assessor de imprensa de Lula, o jornalista Ricardo Kotscho, deu entrevista dizendo que, por disciplina, acatava a decisão do governo, mas confessou abertamente que não concordava com ela. Os principais jornais do mundo ignoraram a peça de Rohter e não comentaram os hábitos etílicos do presidente. Por obra e graça da reação descabida do governo, o assunto acabou ganhando dimensão planetária. Na terça-feira, segundo um levantamento preparado pelo próprio Planalto, o assunto saíra sem muito destaque em apenas sete jornais, a maioria da América do Sul. Na quarta, após a decisão de expulsar o jornalista, a notícia estava em 26 jornais. Até noKhaleej Times, dos Emirados Árabes Unidos. No dia seguinte, aparecia em 38 títulos, inclusive na Xinhua, a agência de notícias da China, para onde Lula embarcará nos próximos dias. Em todas as reportagens estrangeiras ouvia-se o eco de uma indagação constrangedora – e ela não tinha nada a ver com a questão de quanto e com que freqüência Lula bebe. A indagação era bem pior: será que o Brasil retrocedera ao estágio de uma republiqueta latino-americana dirigida por um ditadorzinho caprichoso e impulsivo?

Joedson Alves/AE
O PORTA-DISPARATE
Singer, o porta-voz que defendeu o arreganho autoritário do governo: ele enxerga miragens

Sintomaticamente, nenhum ministro veio a público defender o governo. José Dirceu, que fala até do que não deve, silenciou. Antonio Palocci ficou calado com receio de trair em público sua convicção de que a medida foi absurda. O ministro Luiz Gushiken foi o mais empolgado defensor da expulsão por ver, delirantemente, na reportagem de Rohter a peça de uma vasta conspiração da Casa Branca contra o Brasil e Lula. A análise de Gushiken não é apenas lisérgica. Ela embute uma visão de mundo em que não parece existir lugar para a imprensa livre e independente. O New York Times seria o último jornal americano a fazer algum tipo de dobradinha com o governo de George Bush. O jornal faz oposição sistemática e declarada ao ocupante da Casa Branca. Nos últimos meses, em reportagens e artigos de seus colunistas, entre outros adjetivos pejorativos, descreveu George W. Bush como "iletrado", "desorientado", "maria-vai-com-as-outras", "bélico" e "o maior responsável pela onda de antiamericanismo que se espalha pelo mundo". Gushiken insistia na quarta-feira: "No Japão, se um jornalista ofendesse o imperador também seria expulso". Outro defensor da expulsão do jornalista foi o porta-voz da Presidência André Singer. Na quinta-feira, em artigo publicado pelo jornal Folha de S.Paulo, Singer teceu uma antologia de disparates e, como quem acredita em miragem, disse que o governo tinha de restaurar um "ambiente de responsabilidade" no país.
O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, em viagem à Suíça, deu entrevista dizendo que só falaria do caso quando voltasse ao Brasil e tomasse pé dos detalhes. Era puro disfarce. Na verdade, desde o primeiro momento, o ministro empenhou-se nos bastidores em negociar uma saída honrosa para ambos os lados. Ao saber que o escritório de advocacia Pinheiro Neto fora contratado pelo New York Times para tratar do assunto, Thomaz Bastos entrou em ação. De Berna, na Suíça, ligou para seus velhos colegas do Pinheiro Neto e começou uma negociação que duraria três dias. De início, combinou-se que os advogados escreveriam uma petição ao Ministério da Justiça solicitando a reconsideração do cancelamento do visto do jornalista americano. A petição foi escrita em São Paulo, submetida aos advogados do jornal em Nova York e ao ministro em Berna. Nada menos que seis versões percorreram o circuito São Paulo–Nova York–Berna. Na última versão, o ponto que interessava ao governo era o item 7.

Celso Junior/AE
O JAPÃO NÃO É AQUI
Gushiken, o ministro que já deu lições à imprensa e defendeu a expulsão do jornalista: ele acha que estamos todos no Japão

Nesse trecho, o jornalista Larry Rohter diz que "jamais teve a intenção de ofender a honra" do presidente e reafirma seu "profundo respeito pelas instituições democráticas brasileiras, incluindo a Presidência da República". Em seguida, a carta afirma que Rohter limitou-se a "veicular comentários" e não fez "nenhum juízo de valor" sobre os hábitos de Lula. Lamenta que a repercussão da reportagem tenha causado constrangimento ao presidente e, como costuma acontecer nesses entreveros internacionais, joga a culpa nos tradutores ao dizer que, na sua opinião, a versão do texto para o português não foi fidedigna – "o que pode ter causado a ampliação do mal-entendido". Na noite de sexta-feira, Lula decidiu aceitar a carta do jornalista, concordou em rever sua decisão e deu o assunto como encerrado. O desfecho do episódio mostra que, felizmente, Lula não tem apenas assessores tresloucados a aconselhá-lo. Márcio Thomaz Bastos esforçou-se com sucesso para não manchar sua biografia de jurista e democrata com a nódoa do banimento de um jornalista. O último caso parecido ocorreu em 1970, no auge da ditadura, quando o general Emílio Garrastazu Médici expulsou um correspondente da agência de notícias France Presse que publicara no exterior a lista dos presos políticos que um grupo guerrilheiro queria libertar em troca da soltura do embaixador suíço seqüestrado. Até a semana passada, nunca um governo democrático no Brasil expulsara um jornalista.
A decisão de Lula de considerar o assunto página virada esvaziou o lado agudo da crise. Outras facetas do episódio, porém, permanecem inalteradas. A principal é a de que claramente os mecanismos de decisão do governo Lula têm vários parafusos soltos. O governo conseguiu armar uma tempestade em copo d'água a partir de uma questão que poderia ter sido resolvida com elegância e até um pouco de humor. Que tal terem convidado Rohter para tomar uns drinques na Granja do Torto? Se fosse o caso de ser ferino, os assessores do presidente poderiam ter dito ao correspondente americano que um de seus ex-colegas, o notório Jayson Blair, também seria bem-vindo. Como se sabe, Blair é o jornalista que durante anos publicou matérias fantasiosas e inteiramente inventadas no New York Times, o que o levou a ser demitido e o jornal à maior crise de credibilidade da sua história. O Planalto, porém, agiu como se a reportagem tivesse pinçado um nervo exposto ao sugerir que a bebida interfere no discernimento do presidente Lula e que isso é uma preocupação nacional. Que não é preocupação nacional é fato. Os brasileiros de maneira geral davam a esse tema o mesmo grau de preocupação que destinam à diminuição do tamanho dos biquínis nas praias. Na elite, entre políticos e empresários, o assunto sempre foi comentado em tom de mexerico, sem que aparecessem histórias factuais que sustentassem essa versão. Também não existe nenhuma evidência de que a bebida consumida por Lula interfira na sua atuação como presidente.
Lula chegou ao topo da carreira política sendo em todas as fases uma pessoa que os brasileiros definem como "bom de copo". Para uma imensa parcela da população brasileira, isso equivale a um elogio tão formidável quanto "bom de cama". Como presidente, Lula tem bebido menos do que sua média histórica, que, como todos os seus companheiros e amigos sabem, ultrapassa sensivelmente o que se convencionou chamar de "beber socialmente". Além de beber bem menos agora, o presidente se preocupa com sua imagem. "Não sou nenhum alcoólatra, todos sabem que bebo prazerosamente. Bebo e fumo", comentou Lula na quinta-feira, ao receber a comissão de senadores que lhe pediu para voltar atrás na vendeta contra o jornalista americano. Em seguida, Lula tocou no ponto central: "Ninguém pode dizer que tomei uma decisão de governo porque bebi ou não bebi".

AP
SOBRIEDADE? ONDE?
Bush filho, tal como o pai, fez guerra no Iraque: ele venceu o alcoolismo, mas até parece que bebe umas

O álcool se transforma em vício quando a pessoa não consegue parar de beber no momento em que deseja. Quando quer, Lula passa meses sem beber. Em outras ocasiões, bebe com mais freqüência e intensidade. Há três meses, durante um jantar na casa do presidente da Câmara, o deputado João Paulo, onde foram comemorados o 24º aniversário do PT e a posse da nova liderança do partido, Lula bebeu com gosto diversas doses de uísque com gelo. "O presidente não estava ali para falar de política, e sim para tomar cachaça e brincar", dizia o deputado Anselmo Abreu a quem perguntava se o presidente se excedeu na bebida. Na saída da festa, Lula foi fotografado dentro do Omega presidencial, já entregue ao sono, antes mesmo que o carro partisse rumo à residência oficial.
Um dos sintomas de que Lula "está dando um tempo" na bebida, como ele próprio diz, é seu apego aos exercícios físicos, especialmente à esteira. Quando deixa de se exercitar, é sinal de que passou a beber um pouco mais que o habitual. Na longa viagem que fez a diversos países da Europa no ano passado, Lula passou quase todo o tempo sem beber. Nem vinho ele aceitava nas recepções oficiais. Em todas as escalas mandou colocar uma esteira no quarto. Levantava cedo para fazer suas corridas. A dois dias do término da viagem, na última escala, na Espanha, o presidente abandonou a esteira. Bebeu vinho e uísque e chegou a reclamar de ressaca. Um senador do Nordeste conta que, durante a campanha presidencial, viu Lula beber alegremente antes dos comícios. Em um deles, excedeu-se na bebida e no entusiasmo. Sempre que se aproximava demais da beirada do palanque, um dos seguranças o detinha pela parte de trás do cinto, de modo que ele não corresse o risco de cair. Diversas vezes, na campanha de 2002, depois de recepções noturnas na casa de correligionários, Lula voltava ao hotel alterado pela bebida. Em uma dessas ocasiões, ele tirou os sapatos e se deitou em um sofá no hall do hotel. "Hoje, o Lula bebe muito menos do que bebeu em toda a sua vida adulta. Mas não precisa de ninguém para vigiá-lo ou para lhe dizer que não se exceda nas doses. Ele tem autocontrole", garante um dos mais antigos auxiliares do presidente.
A bebida nunca foi estranha à vida de Lula. Sua avó materna, dona Otília, tomava porres homéricos. Ficava quatro ou cinco meses sem colocar uma gota de álcool na boca, mas, de repente, punha-se a beber até cair. "Quantas vezes meus irmãos tiveram de pegar ela dormindo no meio do mato, na estrada, na beira do asfalto... Coitadinha. Não sei por que razão ela bebia. Mas bebia muito, muito", contou Lula em depoimento à jornalista Denise Paraná, autora do livro Lula – O Filho do Brasil, um retrato magistral da trajetória política, pessoal e familiar do presidente. O pai de Lula, Aristides, era abstêmio enquanto vivia no sertão nordestino, mas depois que migrou para São Paulo passou a beber de forma descontrolada. Batia nos filhos quando estava alcoolizado. Em Lula – O Filho do Brasil, um irmão do presidente, Genival Inácio da Silva, o Vavá, diz o seguinte: "Meu pai bebia sempre. Tomava pinga. Depois passou para o conhaque, que era melhor. Depois passou para a cerveja, que era melhor. Se ele pudesse beber cinqüenta pingas, ele bebia. Ele não tinha controle. Chegava em casa de fogo". Jaime, outro irmão de Lula, também teve problemas com alcoolismo.
Em sua militância em São Bernardo do Campo, como o próprio Lula já contou, a bebida também aparecia com freqüência. No sindicato dos metalúrgicos, costumava receber os amigos com "um cafezinho" ou "uma cachacinha". De tanto se falar em cachaça ou pinga, produziu-se o equívoco de que Lula gosta de aguardente. Não é verdade. Assim como o presidente Jacques Chirac, um francês que não gosta de vinho, Lula é um brasileiro que não é muito dado à cachaça. Prefere uísque. Da marca Logan. Por coincidência, a predileta do ex-presidente Fernando Collor. Quase todos os dias, quando chega ao Palácio da Alvorada depois do trabalho, Lula descarrega as tensões com uma ou duas doses de uísque. Nas ocasiões em que bebe um pouco mais que o habitual, o presidente fica mais emotivo do que em seu estado natural. Raramente, porém, se deixa vencer pela bebida. "Não fui eleito para santo", disse, ao tomar café-da-manhã na quarta-feira com líderes da base aliada na Câmara. À noite, em jantar com políticos do PL, partido do vice-presidente José Alencar, bebericou uísque, mas não passou da primeira dose.
Não é de esperar que Lula tenha com a bebida a mesma conturbada relação que teve com a garrafa seu colega americano. George W. Bush foi alcoólatra. Recuperado, não belisca um copo há vinte anos. "Se tivesse continuado a beber, a essa hora estaria não aqui com vocês, no Salão Oval da Casa Branca, mas em algum bar do Texas sem saber o que fazer depois", disse Bush a um grupo de deputados que o visitou no fim do ano passado. Lula teve mais sorte que Bush. Nunca foi alcoólatra e chegou ao Palácio do Planalto sem ter de se tornar abstêmio. O mais certo é que termine o mandato sem se ver forçado a abandonar suas doses de uísque e suas cigarrilhas holandesas que tanto conforto lhe dão. Que continue fazendo bom proveito.

"Minhas fontes foram FolhaEstado e Globo"
O governo me chamou de "fonte sem confiabilidade". Foi o maior elogio que já recebi. Vou emoldurar e pendurar na parede. Imagine se eu fosse considerado um "homem de confiança" do governo. Eu mudaria de profissão. O único problema é que não sou uma fonte do New York Times. O correspondente do jornal não falou comigo. Apenas citou um artigo que publiquei em VEJA cerca de dois meses atrás.
Nesse artigo, eu mencionava algumas ocasiões públicas em que Lula apareceu com um copo de bebida na mão. Colhi as informações nas páginas de 
Folha, Estado e Globo. Esses jornais foram minhas fontes. Conseqüentemente, foram também as fontes do New York Times.
Além de pouco confiável, fui retratado como agitador a soldo dos americanos. O Jornal Nacional mostrou vinhetas de Chico Caruso em que apareço na redação carioca doNew York Times fabricando notícias contra Lula para acobertar as torturas de Bush dos prisioneiros no Iraque. Quando meus protetores americanos conquistarem o país, minha primeira providência será expulsar Chico Caruso.
Diogo Mainardi


Eles também expulsaram jornalistas
"A imprensa é a vista da nação. Por ela é que a nação acompanha o que lhe passa ao perto e ao longe, enxerga o que lhe malfazem, devassa o que lhe ocultam e tramam, colhe o que sonegam ou roubam, percebe onde lhe alvejam ou nodoam, mede o que lhe cerceiam ou destroem, vela pelo que lhe interessa, e se acautela do que a ameaça." A frase de Rui Barbosa explica por que faz parte do manual básico dos ditadores cercear a liberdade de expressão e de imprensa – é dessa forma que eles tentam tapar os olhos dos cidadãos. E, quando não basta calar os jornalistas de seu próprio país, os tiranos expulsam correspondentes estrangeiros que reportam lá fora o que não lhes interessa que o mundo saiba. Em 1970, por exemplo, no governo do general Emílio Garrastazu Médici, o jornalista francês François Pelou, que chefiava a sucursal da agência France Presse no Rio de Janeiro, viu-se obrigado a sair do Brasil por ter noticiado as condições impostas pelos seqüestradores esquerdistas do embaixador suíço Giovanni Bucher. Médici figura ao lado do chileno Augusto Pinochet e do aiatolá iraniano Khomeini, entre as mais de duas dezenas de personalidades sinistras que expulsaram jornalistas estrangeiros do território de seu país nos últimos 35 anos.
Ditadores também podem lançar mão de outros métodos para livrar-se de correspondentes. É o caso do cubano Fidel Castro, que costuma infernizar a vida dos repórteres forasteiros que ousam incomodá-lo além da conta. Em todas as ditaduras, não importam a latitude ou a coloração política, o argumento para expelir jornalistas estrangeiros é sempre o mesmo: o profissional foi "irresponsável" ao dar esta ou aquela notícia ou promoveu "um ataque à soberania do país" ao descrever de maneira pouco agradável o ditador em questão. Infelizmente, as semelhanças com as palavras dos comissários de Lula, para justificar a cassação do visto do correspondente americano Larry Rohter, são mais do que uma coincidência. Revelam um viés autoritário de um governo eleito de forma democrática – viés que causou uma nódoa incancelável, independentemente do desfecho do episódio.

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Livre decisão

Boa dia  amigos!!

Ao decorrer de nossa vida passamos por diversas situações de escolha. Temos o livre arbítrio para escolher fazer ou não.
No dia de hoje trago uma mensagem para refletirmos sobre a livre decisão que temos sobre as situações.

Reflitam!!

Todos somos construtores dos nossos destinos.

A cada minuto da vida, fazemos opções importantes e decisivas para a nossa economia moral.

Sempre temos diante de nós duas ou mais opções que deveremos eleger, de conformidade com a nossa livre vontade.

Se estamos no trânsito, por exemplo, e alguém nos corta a frente, temos que decidir rapidamente entre duas opções: xingar ou ficar quieto.

Se nos aproximamos de um cruzamento, cujo sinal está fechado para nós, podemos optar entre parar o veículo ou avançar com o sinal vermelho.

Na convivência diária, quando alguém nos fala mal de outro alguém, podemos optar entre sermos o ponto final da maledicência, ou levar a fofoca adiante.

Se uma pessoa nos pede uma informação qualquer, podemos dar ou não a informação. Ou ainda, dar a informação correta ou incorreta, conforme nossa livre vontade.

Se abraçamos alguém, podemos optar entre um abraço frio, desprovido de sentimento ou um abraço pleno de afeto verdadeiro.

Se ofertamos uma flor, poderemos escolher entre uma flor sem perfume e outra perfumada.

Nas conversações diárias, temos sempre a possibilidade de falar com otimismo ou usar as palavras para espalhar o pessimismo e a insegurança.

Diante da dificuldade que se apresenta, podemos assinar, de pronto, um atestado de derrota ou acreditar que seremos capazes de vencer o obstáculo.

Como podemos perceber, em todas as situações nós é que decidimos, de livre vontade, entre as opções possíveis, cabendo-nos depois, o resultado da própria decisão.

Se no trânsito optamos pelo xingamento, teremos consequências diversas das que teríamos se nos calássemos.

O motorista que fechou o nosso veículo pode não nos ter visto, ou ter errado no cálculo, e, nesse caso, assumirá o equívoco e não revidará.

Mas se estiver procurando encrenca, como se costuma dizer, responderá com violência e o desfecho poderá ser totalmente desagradável.

Se escolhemos avançar com o sinal vermelho poderemos nos chocar com outro veículo e colher as consequências correspondentes.

Se diante da possibilidade de disseminar a fofoca e a intriga, optamos por nos calar, certamente evitaremos muitos dissabores. E isso depende exclusivamente da nossa livre decisão.

Vale a pena que meditemos em torno dessas questões que nos dizem respeito. A situação poderá se agravar ou se resolver, sempre de conformidade com as nossas tomadas de decisão.

* * *

Os minutos se apresentam para todos nós como bendita oportunidade de crescimento para Deus.

Dessa forma, cabe-nos optar entre ser um sorriso que ampara ou um soluço que desanima;

um raio de luz ou uma nuvem de preocupações;

um ramo de flores ou um galho de espinhos;

um amigo que compreende e perdoa ou um inquisidor que condena e destrói;

um auxiliar devotado ou um espectador inoperante;

um bálsamo que restaura ou um cáustico que envenena;

uma chave de solução nos obstáculos ou um elemento que os agrava;

um esteio da paz ou um veículo da discórdia;

uma bênção ou um problema.

Enfim, estaremos constantemente tomando decisões importantes, sempre de acordo com a nossa livre vontade.

Pensemos nisso!

                                                                                 Velho sábio

Debate na Rede TV

Minha avaliação do debate
Equilíbrio entre os candidatos. Pelo formato, engessado, era difícil mesmo ter um nocaute. Marina tem tudo para ser a maior beneficiária da troca de acusações entre José Serra e Dilma Rousseff. Serra foi muito mal no começo e foi melhor no fim, especialmente na despedida. Mas ficou claro que acusou o golpe de ter sido chamado de “caluniador”, já que na entrevista subsequente ao debate tentou remoer (ao lado da mulher, Monica, que deve ter dado uma dura nele a esse respeito) a questão da Receita Federal. O problema de Serra é que ele é muito cerebral e tenta encaixar ideias complexas em 30 segundos. A resposta mais patética dele foi aquela sobre o Lula, em que não disse nada. O tucano foi interrompido muitas vezes pela campainha. Dilma Rousseff teve um debate muito superior ao da Band. Mostrou que não vai apanhar quieta e que sabe se defender. Acertou dois “zingers” marcantes: Serra, caluniador (apesar da dificuldade em dizer caluniador); Serra, dono da verdade (em que Dilma se colocou como o Vietnã diante dos Estados Unidos). Mas, no fim, quando falava do neto, era de se esperar Dilma sorridente e relaxada. Foi sua maior falha. A média de audiência deve ficar entre 3 e 4 pontos.
PS: Esqueci de dizer que Dilma, finalmente, pronunciou “Fernando Henrique“. Essas duas palavrinhas, combinadas, causam comoção no povão.

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Estratégia questionada


Em casa onde não tem pão, todos brigam e ninguém tem razão, diz o ditado popular. Coisa parecida acontece no ninho dos tucanos. José Serra custou a botar sua candidatura na rua, esperou demasiadamente uma resposta de Aécio Neves para ser seu vice, engoliu um índio desconhecido como imposição do DEM e começou a campanha voltado para o futuro, sem ficar batendo no governo Lula como pretendiam alguns de seus assessores. Como foi caindo nas pesquisas, aceitou conselhos para aumentar o diapasão de críticas e denúncias contra o presidente e a candidata adversária. Só essa mudança parece não estar dando certo. Na maioria do eleitorado caem no vazio as diatribes e as acusações contra a atual administração. Como estamos a três semanas das eleições, há quem insista para Serra mudar novamente de estratégia. Pode não dar certo essa política de biruta de aeroporto.

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Em grupo de ‘indecisos’, Dilma conquista mais votos

Os organizadores do debate presidencial da noite passada reuniram um grupo de 25 eleitores "indecisos" para analisar o desempenho dos candidatos.

Dá-se a esse tipo de procedimento o nome de “pesquisa qualitativa”. A opinião dos participantes foi medida por meio de um “índice de gostabilidade”.

Varia numa escala que vai até cem. Quanto mais alta a nota, maior a aprovação ao trecho do debate sob avaliação.

Ao final, recolheram-se as opiniões sobre o desempenho de cada candidato e a tendência de voto dos pesquisados.

Dos 25 eleitores, dez acharam que Marina Silva foi quem se saiu melhor no debate. Para nove, Dilma venceu. Apenas dois acharam que Serra prevaleceu.

Quanto a Plínio de Arruda Sampaio, embora tenha registrado os maiores picos no “índice de gostabilidade”, 13 pessoas o avaliaram como o pior contendor.

No pedaço da pesquisa que mais importa, Dilma extraiu do grupo mais dividendos que seus rivais.

No início da refrega, apenas quatro pessoas pendiam para o voto na pupila de Lula. Ao final, dez disseram que votarão nela.

Marina largara com três eleitores potenciais. Desligadas as câmeras, somava sete. Os eleitores simpáticos a Serra, caíram de quatro para três.

No geral, o grupo gostou mais dos pedaços em que foram debatidos temas propositivos do que dos trechos marcados pela pancadaria.

No segundo bloco, dominado pelo “Fiscogate”, o grupo apreciou mais as reações de Dilma (oito menções positivas) do que as acusações de Serra (apenas três).

No terceiro bloco, o “índice de gostabilidade” desceu a uma média abaixo de 60 nos instantes em que Serra e Dilma alvejaram-se mutuamente.

Não por acaso, Marina (sete menções) e Plínio (seis) foram considerados os melhores do bloco. Ela falou sobre desastres naturais.

Ele ironizou uma pergunta de Dilma sobre a nacionalização dos navios da Petrobrtas –“É pegadinha”- e queixou-se “bolsa banqueiro” instituído sob Lula.

O pior momento de Dilma foi registrado numa resposta dada a Serra sobre os baixos índices de investimento em saneamento. Disse que, eleita, continuaria o que foi feito nessa área sob Lula.

Um indicativo de que, sob a ótica do eleitor, o tucano talvez lucrasse mais se acomodasse as propostas à frente dos ataques.

O pior instante de Marina foi a pergunta que dirigiu a Dilma sobre a violação de sigilos na Receita. Os 25 membros do grupo torciam o nariz para o tema.

No bloco das considerações finais, o “índice de gostabilidade” foi a patamares inferires a 50 quando Dilma mencionou o neto Gabriel.

A pregação de Marina a favor da realização de um segundo turno atingiu média 75. O timbre propositivo de Serra no encerramento rendeu-lhe índices que roçaram 65.

As pesquisas qualitativas não tem o mesmo valor científico das quantitativas. Mas são valiosas ferramentas de aferição dos humores do eleitor.

Os comitês de campanha também realizam as suas. Utilizam os resultados para dosar o discurso dos candidatos.

por Josias de Souza

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O desespero do PIG

Não adianta teatralizar a campanha eleitoral, nem ficar na base do samba de uma nota só, como acontece com José Serra e seus correligionários na questão da violação dos segredos das declarações do Imposto de Renda. O tema está sendo investigado e valeria uma pergunta óbvia: a quem interessa o carnaval midiático? A quem está absolutamente na frente das pesquisas ou a quem toda semana vê reduzido os seus índices percentuais? Respostas devem ser enviadas às redações de O Globo e TV Globo, Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Veja, entre outras.
Outro fato que está saindo pela culatra para o conservadorismo é a citação a todo momento, negativa, claro, do ex-Ministro José Dirceu. Resultado concreto: Zeca Dirceu, filho do “vilão” está sendo apontado pelos institutos de pesquisa com um dos candidatos a deputado federal dos mais votados do país, algo praticamente inédito em termos de Estado do Paraná, onde ele concorre.
Garotinho, ex-governador do Estado do Rio, que todo mundo sabe que não é nenhum santo, também foi apontado entre os possíveis candidatos a deputado mais votado do país. Foi linchado por O Globo, com matérias no mínimo discutíveis já que praticamente não foi dado espaço proporcional às acusações.
Antes que algum leitor açodado diga que o autor deste comentário está apoiando este ou aquele candidato, não se pode deixar de constatar fatos concretos. A equipe de Serra no fundo alvancou Zeca Dirceu, enquanto as Organizações Globo mais uma vez demonstram que não está com a bola toda. Ao longo da história conspirou contra a ordem constitucional, como em 1964. Hoje não tem respaldo porque os tempos não são mais os da Guerra Fria. E essa constatação independe da confirmação se Garotinho poderá ou não ser candidato.  
Quanto as eleições majoritárias, jornais e revistas do Rio e São Paulo, visivelmente orquestrados com a oposição não dão folga a Dilma Rousseff, mas, como foi dito na semana passada, a cobertura tendenciosa não está surtindo efeito. 3 de outubro está batendo às portas, vamos aguardar o resultado das urnas, que está sendo acompanhado com o máximo interesse em toda a América Latina
Enquanto isso, a Procuradoria da República da Colômbia mandou prender o jornalista William Parra acusando-o de vínculos com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, Farc. Parra, de nacionalidade colombiana, está exilado na Venezuela. O jornalista foi chefe da assessoria de imprensa do ex-Presidente Ernesto Samper entre 1994 e 1998 e atualmente exercia a função de correspondente da Telesur, o canal de televisão de integração latino-americana.
A acusação do Procurador Geral da Colômbia Guillermo Mendoza diz que o nome de Parra foi encontrado no computador de Raul Reyes, dirigente das Farc assassinado no Equador pelo governo colombiano. O jornalista nega veementemente a acusação.
Esta informação praticamente não é divulgada pela mídia e não é a primeira vez que isso acontece. Outro jornalista da Telesur, Freddy Munhoz foi detido em Bogotá em 2006 com as mesmas acusações que estão sendo imputadas a Parra. E sabem o que aconteceu depois de passado o estardalhaço? Munhoz depois teve de ser liberado por total falta de provas.
É o caso de perguntar: onde estão as entidades que se dizem defensoras da liberdade de imprensa na América Latina como, por exemplo, a Sociedade Interamericana de Imprensa? Neste exato momento a SIP está com antenas voltadas para a Argentina, acusando a Presidenta Cristina Kirchner de restringir a liberdade de imprensa, quando o certo seria a SIP tirar a máscara e mencionar a liberdade de empresa.
Cristina Kirchner é mesmo a bola da vez do conservadorismo, que chegou a estampar que Nestor Kirchner deu um soco na cara da mulher. A “informação”, sempre entre aspas, se complementava dizendo que ela chegou a cair no chão. Isso aconteceu no ano passado, mas só agora foi divulgado em um livro. Justamente no momento em que os argentinos estão acompanhando a mexida na área midiática feita pelo governo, isso depois de uma ampla discussão pelos mais amplos setores da sociedade.
Em tempo: O jornal  Folha de S Paulo, cujo grupo cedia carros para a repressão no período ditatorial que viveu o Brasil, mandou um enviado especial para Porto Alegre. Objetivo: ouvir a opinião de um agente da ditadura sobre Dilma Roussef. Nem é necessário transcrever o que disse de negativo. Só este fato serve para ilustrar o desespero que tomou conta das hostes do conservadorismo quanto a provável derrota do discípulo de FHC, Jose Serra  em 3 de outubro próximo.  Como se trata de um jornal que considerou o regime anterior como ”ditabranda”, tudo é possível, inclusive a matéria na edição deste domingo.


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Cmo nos primórdios

Uma boa conversa ao longo da semana passada com dois próceres petistas, separadamente, revelou certo incômodo com a perspectiva de ter uma “oposição interna” peemedebista nos próximos quatro anos, na eventualidade de vitória de Dilma Rousseff. Acham que um também eventual enfraquecimento extremo da dupla PSDB-DEM fará a oposição social ao PT deslocar-se para o polo mais viável, o PMDB, mas argumentam que há aí duas atenuantes.

Uma é a expectativa de poder futuro simbolizada na possível volta de Lula. É um trunfo petista. Um cano frio a ser encostado na testa dos permeáveis a tentações de dissidência. Outro trunfo é o previsível inconformismo da oposição tradicional com o papel de coadjuvante. Por isso, acreditam, sempre poderão contar com o PSDB para enfraquecer o PMDB, caso necessário. Como se passava, aliás, nos primórdios petistas e tucanos.
POR ALON FEUERWERKER @ 

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