Procuro passar ao largo daqueles que consideram a grande mídia brasileira a fonte de todo o mal e mesmo nas entrelinhas, preconizam o seu desaparecimento e o surgimento de outra menos parcial e com mais pudor, digamos, jornalístico.
Devo reconhecer, entretanto, que essa verdadeira ( e muitas vezes justa) ojeriza, noves-fora qualquer tentativa de calá-la, é cevada muitas vezes por ela mesmo. A partidarização escancarada e o peso desproporcional da crítica dada ao governo central e ao PT certamente que a torna suspeita mesmo quando exerce seu papel legítimo.
São Paulo é São Paulo: o estado mais rico da federação, mais populoso, e hoje um dos centros nervosos da política. Se independente fosse ficaria, em termos de PIB, entre os vinte maiores do mundo.
Pois bem. Tem merecido esse colosso o devido olhar crítico da chamada grande imprensa? Em termos políticos, os sucessivos governos tucanos foram "investigados" com a mesma fúria com que foram os oito anos do PT no governo central? E olha que lá se vão mais de dezesseis anos de total hegemonia. São Paulo melhorou, piorou? Afinal, o que essa experiência tucana tem a oferecer para o resto do país? São perguntas que a grande mídia, no seu afã de focar apenas o governo federal, "esquece" de se fazer.
O "prato do dia" hoje é o Delúbio Soares. Nada se compara em termos de diligente acompanhamento o caso desse rapaz. Baixasse uma espaçonave por essas plagas egressa de outro planeta, decerto que os alienígenas procurariam o ex-tesoureiro do PT como o representante da raça, tal é a sua presença nos nossos diários noticiosos. O seu possível retorno à prática política(refiliação) é tratada como problema de Estado pela mídia.
Para a Folha, na terra dos bandeirantes jorra leite e mel, e portanto o interessante é explorar esse caso Delúbio ad nauseum e continuar focada no passado da atual presidenta. Sobre esta última saiu uma matéria hoje que é um primor, a começar pelo título "SNI viu elo entre Dilma e grupo armado após anistia". Se alguém provar qualquer relevância nessa reportagem, além do viés politiqueiro, mando uma foto autografada do Delúbio. Na mesma toada, a indefectível Folha, na linha do "jornalismo-lamento", ou seja, aquele que vive se lamentando das "injustiças" feitas com FHC, o seu não reconhecimento como o maior estadista das Américas, choraminga porque o MEC aprovou alguns livros didáticos em que o mensalão não é citado como "o maior escandalo de corrupção da história", o Delúbio (sempre ele!) não come criancinhas, o PT é um partido salafrário, o Lula apenas copiou FHC, e este fez o melhor governo das galáxias. Faltou sugerir que fossem editados novos exemplares contando a "verdadeira" história recente do país tomando como base as reportagens da grande imprensa.