Quem disse que o gaúcho não dança funk?

Pois é, gaúcho da fronteira, de bota e bombacha, também dança funk. Aliás, a dança do quadrado, com a  letra do Canto Alegretense, ficou surrealista. Mas bá, especial de primeira, tchê.

O MST sem aliados

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) desempenha um papel importante no Brasil. Se não por outro motivo, ao fazer recordar todo dia que o direito à propriedade é universal. Direito de propriedade só para alguns é contradição em termos.

Eis um aspecto bonito da reforma agrária. Ela talvez materialize melhor que outras bandeiras o desejo de o direito de propriedade ser praticado da maneira mais ampla e absoluta.

Como então os portadores dessa aspiração amplíssima chegaram ao isolamento político, facilmente verificável? Ontem Dilma Rousseff não citou o MST, mas mandou o recado de que não admite ilegalidades.

A ocupação de fazendas é ilegal, quando a Justiça assim decide. A mensagem não poderia ter sido mais clara.

Antes, José Serra tinha ido na mesma linha, só que mais explicitamente. Pois não está obrigado a tratar o tema com luvas macias.

O isolamento político do MST obedece também a razões estruturais.

O Brasil é um país secularmente reacionário quando o assunto é a terra. Aqui, a Independência não aboliu a escravidão e a República não trouxe a reforma agrária. Esta só avançou — pasmem! — a partir do regime militar, quando o presidente Castelo Branco deu ao país o Estatuto da Terra.

A redução do direito de propriedade a prerrogativa de alguns é construção ideológica arraigada entre nós. Mas o isolamento político do MST não bebe só dessa fonte. Suas raízes conjunturais estão na total assimetria entre a estratégia do movimento e o projeto de construção nacional.

Qual o sentido de o MST acampar à beira de estradas do Sul-Sudeste, ao lado de propriedades que já fizeram a transição para a agricultura plenamente capitalista, em vez de pressionar o governo para que a expansão da fronteira agrícola aconteça com base na democratização territorial?

Infelizmente, o MST deixou-se enredar já faz algum tempo numa aliança com as forças que procuram nos impor o congelamento da fronteira agrícola, o abandono da engenharia genética e a renúncia à população das fronteiras. Dessa aliança não sai — nem vai sair — nada útil para o país.

É como cruzar espécies distintas. Dá até prolezinha, mas estéril. Uma esterilidade política bem desenhada em teses como “a luta contra o agronegócio”.

Em resumo, o MST hoje busca a reforma agrária onde ela não é mais possível — pelo menos no capitalismo — e renuncia a buscá-la onde é necessária. Daí o isolamento.

Fraqueza que chega ao ponto de não conseguir arrancar do governo Luiz Inácio Lula da Silva nem a atualização dos índices mínimos de produtividade da terra para ela atender ao interesse social. 

PF acaba com a farsa das restituições

Em mais uma operação de combate a corrupção, desta feita em Brasília, a PF desbaratou uma quadrilha que fraudava declarações do IR - imposto de renda -.

Empresas de contabilidade são acusadas de forjar declarações que garantia até 50 mil reais de restituição indevida.

Outras unidades da federação também receberão a "visita" da PF.

Os caminhos de Dilma


Murillo de Aragão

Dilma Rousseff (PT) teve uma ascensão extremamente positiva nas pesquisas de intenção de voto para presidente ao longo de 2009. Após a desincompatibilização, apresentou uma discreta ascensão. Entretanto, desde o início do ano percebe-se que a candidata de Lula está estabilizada em torno de 30%. Este é exatamente o eleitorado “fiel” ao PT.


Ou seja, pode-se inferir que ainda não houve o fenômeno da transferência do prestígio de Lula para a sua candidata. Para que isso aconteça com intensidade, o PT precisa investir na associação da imagem da ex-ministra com o sucesso do governo e, em especial, com a do presidente.


Desde que deixaram seus cargos e anunciaram que são candidatos à presidência da República no início de abril, a média de intenção de voto de José Serra e Dilma Rousseff pouco mudou. É o que mostra análise da Arko Advice a partir das pesquisas Ibope, Datafolha, Vox Populi e Sensus realizadas entre dezembro de 2009 e abril de 2010.


Antes da desincompatibilização, a média de intenção de voto de Serra era 34,9%. Hoje está em 35,56%. A de Dilma teve variação pouco maior, passando de 26,35% para 29,8%. Esse quadro nas simulações onde Ciro Gomes aparece como candidato. Quando Ciro não está na disputa, a média de ambos antes e depois da desincompatibilização é praticamente a mesma. Serra tinha 39,11% e hoje tem 39,6%. Dilma tinha 30,25% e agora está em 30,66.


No entanto, o PT tem uma chance de ouro para alavancar o crescimento de Dilma: a veiculação do programa partidário em 13 de maio.  O caminho para para tal parece claro na última pesquisa do Ibope, realizada entre os dias 13 a 16 de abril. A pesquisa confirmou a liderança de Serra e, até mesmo, o aumento de sua vantagem em relação à candidata do PT, Dilma Rousseff. No entanto, vale destacar que Serra é o candidato mais conhecido pelo eleitor. 29% dos pesquisados disseram que o conhecem bem, contra 14% que conhecem Dilma. 40% afirmaram conhecer mais ou menos o candidato do PSDB.


Entre fevereiro e abril, o percentual de eleitores que disseram conhecer bem ou mais ou menos a ex-ministra Dilma Rousseff ficou praticamente estável (46% a 47%). Mesmo assim, sua intenção de voto aumentou quatro pontos no período (tanto no cenário com Ciro como na hipótese em que ele não aparece como candidato). Em relação a Serra, entre fevereiro e abril, passou de 75% para 69% o percentual dos que afirmaram o conhecer bem ou mais ou menos. Mesmo assim, sua intenção de voto permaneceu praticamente a mesma.


A satisfação do eleitor com o governo Lula revela o interesse pela continuidade: 65% querem que o próximo presidente dê continuidade total ou faça poucas mudanças no governo do país. Em fevereiro, era 63%. Esse desejo está associado à alta popularidade do presidente Lula. 83% (mesmo percentual de março) aprovam a forma como ele governa e 75% disseram confiar nele (77% em março). A avaliação ótimo/bom passou de 75% para 76%, a regular caiu de 19% para 18% e a ruim/péssimo se manteve em 5%.


E é justamente isso que o PT deverá fazer no programa de 13 de maio, quando a legenda terá direito a 25 minutos de propaganda em rádio e televisão, sendo um programa com duração de 10 minutos no dia 13 de maio e inserções nos dias 6, 8 e 11 de maio com cinco minutos cada. Dilma será a principal estrela e a continuidade dos programas da era Lula o grande destaque programático. Tudo para turbinar uma possível transferência de votos que ainda não ocorreu.

Cicatriz colonial

Houve alguma confusão ontem sobre a escolha de Lula como um dos indivíduos mais influentes, na relação organizada pela revista americana Time.

No fritar dos ovos, importa menos se o presidente é o primeiro da lista, ou o 17º. Ou o nono. É melhor estar nessas listas do que não estar. Mesmo que se discutam seus critérios.

Um detalhe porém chama a atenção em ocasiões assim. A necessidade quase patológica que temos do “reconhecimento internacional”. Precisamos sempre de um atestado, europeu ou americano, de estarmos fazendo as “coisas certas”.

É o velho complexo de inferioridade. Lula faz um bom governo, e isso se expressa nos resultados objetivos e na popularidade dele. Esse juízo não depende de o presidente comparecer ou não às capas das revistas americanas e europeias.

Mas o Planalto sabe que país governa. Um país complexado. Daí que tenha nos anos recentes colocado para rodar uma bem azeitada máquina de lobby junto às principais publicações do “Primeiro Mundo”.

Nesta terra de colonizados, falarem bem de você “lá fora” costuma valer ouro. E falarem mal é visto como tragédia.

Tirar uma nação da situação colonial é difícil, mas nada que se compare ao grau de dificuldade de tirar a cicatriz colonial da alma dela.

Um jogo de azar

O comunicado conjunto divulgado pelo G20 ao final de encontro para estudo e implantação de regras para o sistema financeiro internacional revelou que está por vir uma queda-de-braço entre a sociedade, via seus Governos, e a banca.

Considerado o mais incisivo desde o início da crise mundial iniciada em 2008, o comunicado reforça o que todos já sabemos: é fundamental regular o setor.

Por ora, nenhuma medida concreta foi tomada, e o G20 volta a discutir o assunto em junho. Os governos demoram a cobrar contrapartidas do mercado financeiro pelo socorro - com dinheiro público! - recebido durante a crise. Assim, o comunicado ainda está mais no campo da satisfação à opinião pública do que no de uma real transformação do sistema.

Enquanto isso, os bancos dos países emergentes - os do Brasil, também, obviamente- começam a pressionar para evitar a nova regulação que está sendo desenhada.

Os banqueiros usam o discurso de que as novas regras mais rígidas diminuirão a atual expansão do crédito, que tem sido a base do desenvolvimento desses países. Além disso, aludem a um suposto impacto nas taxas de crescimento do PIB que a reforma acarretaria.

Era de se esperar uma reação de um setor que passou os últimos 15 anos atuando como bem queria, na esteira do receituário neoliberal - no Brasil, implementado pela gestão tucana de Fernando Henrique Cardoso,mas principalmente no centro do capitalismo financeiro os EUA, onde a política de desregulamentação, da era Reagan e Thatcher, se consolidou e predominou com Bush.

A proposta que fazem, indiretamente, é algo assim: atuamos sem regulamentação para impor os rumos que desejamos à condução da economia e, em caso de crise, os governos vêm nos socorrer.

Ora, fica evidente que só uma decisão política pode superar a resistência da oligarquia financeira internacional, dos grandes bancos e dos rentistas - no mundo e no Brasil também. Não podemos nos esquecer que é justamente a ausência de regras que possibilita à banca restringir o crédito quando quer.

Foi o que aconteceu no Brasil durante a turbulência global: restrição de financiamentos, apesar de o governo Lula ter sinalizado, e atuado, no sentido contrário. Para impor uma barreira à crise, nossa economia praticamente só pôde contar com o dinheiro público (Banco do Brasil, BNDES, Caixa Econômica Federal e Banco do Nordeste do Brasil), situação que ainda prevalece.

Em geral, a imprensa brasileira incentiva o rentismo, como se verifica nas seguidas páginas que sentenciam uma inevitável alta da Selic, uma cobertura com contornos de torcida pelos juros altos. Não se vê na mesma proporção ataques ao injustificável spread praticado pelos bancos.

Por essas razões, ou bem os governos agem com vontade política e promovem uma reforma profunda no sistema financeiro global, que vá além do atual debate sobre diminuir a alavancagem, taxar o capital especulativo e desencorajar a tomada excessiva de riscos; ou as cartas na economia seguirão como hoje, nas mãos da banca.

Neste jogo de azar, quem perde somos nós, a sociedade.

São Pio V

Nascido no norte da Itália, ingressou aos 14 anos na Ordem dominicana e fez uma brilhante carreira eclesiástica, como bispo, cardeal, inquisidor-mor e por fim Papa. Teve um pontificado breve, mas extremamente fecundo. Aplicou as decisões do Concílio de Trento, estabeleceu o texto oficial da Santa Missa e do Ofício Divino, foi responsável pela publicação do Catecismo Romano e ordenou o ensino da Teologia tomista nas universidades. Sua principal obra foi a convocação de uma Cruzada contra o perigo muçulmano. Conseguiu a duros esforços coordenar os interesses de potências católicas e levá-las à vitória de Lepanto, em 1571.