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Petrobras a 60 anos Acumulando conquistas e desafios

Líder mundial em tecnologia para exploração de petróleo em águas profundas, a empresa tem agora o desafio de estabelecer parcerias para a retirada de óleo em águas ultraprofundas na camada pré-sal.
Matéria-prima básica para vários segmentos da indústria, o petróleo foi a ferramenta usada pelo ex-presidente da República Getúlio Vargas para industrializar o Brasil na década de 1950. A Petrobras teve um papel decisivo na história do país. Não se pode imaginar o Brasil sem uma empresa como essa. Por isso a importância de sempre buscar novas parcerias para o crescimento e valorização do nosso petróleo.
O programa de investimento em empresas de pequeno porte é viável do ponto de vista da engenharia e das demais variáveis envolvidas, como tecnologia, métricas internacionais, conteúdo local e financiabilidade. A empresa está plenamente preparada para transformar os projetos previstos no Plano de Negócios e Gestão 2013 – 2017 em sondas, plataformas, dutos, terminais, refinarias, fábricas de fertilizantes, plantas petroquímicas, usinas biocombustíveis e em centenas de outros empreendimentos de médio e pequeno porte.
Outra iniciativa em curso é a capacitação de pequenas empresas para atender as demandas do setor de óleo e gás. Para isso, a Petrobras fechou em 2004 um acordo com o Sebrae, que termina em 2014. O investimento previsto é de R$ 78 milhões, dos quais 50% da petrolífera e 50% do Sebrae. Até o momento, os técnicos do Sebrae já atenderam a 17 mil empresas. Segundo Luiz Barretto, Presidente do Sebrae, "são empresas dos mais diferentes perfis, algumas de conteúdo tecnológico, outras puramente comerciais, como papelarias e fornecedores de refeições. Há até o caso de uma pipoqueira, microempreendedora individual, que forneceu pipoca para realização de testes ambientais no entorno de plataformas", conta o executivo.

Carta Maior: o tiro que ecoa a 59 anos

Getúlio Vargas: "Saio da vida para entrar na História"...
Há 59 anos, naquele  24 de agosto de 1954,  Getúlio Vargas cometeu o suicídio político mais inteligente da história. 

Consternado com a notícia que ecoava pelas rádios, o povo carioca perseguiu e escorraçou porta-vozes da oposição virulenta ao Presidente.

A experiência da tragédia abalou o cimento da resignação cotidiana e a multidão elegeu seu alvo: cercou e depredou a sede da rádio Globo que saiu do ar. A escolha do desespero tinha alicerces na razão. O cacho de forças silenciadas na vitória esmagadora de  Vargas em 1950 preservara intacta a sua sonoridade junto à opinião pública. 

À medida  em que a incontinência dos decibéis superava o comedimento das formalidades e contaminava todo aparato conservador, o duelo tornava-se a cada dia mais desproporcional. Uma agenda latejante de suspeição,desafios e desrespeito ostensivo era apregoada diuturnamente. 

A pressão atingiria seu auge naqueles dias finais de agosto. 

Cinquenta e nove anos depois do tiro que sacudiu o país e impôs o recuo do golpismo, o volume asfixiante do coro conservador ainda pode ser ouvido e aquilatado. Entre um agosto e outro, algumas peças do paiol midiático permanecem. Outras se juntaram à tradição. 

Os personagens se renovam, mas o método se repete. 

O jogral da condenação sumária sentencia a mesma intolerância em  cada linha, título, nota, coluna, fotomontagens, capas, escaladas televisivas e radiofônicas. Troquem-se as letras que compõem o nome Vargas por ‘mensalão'. Ou Lula. Ou Dirceu. 

O preconceito beligerante que cerca um equipara-se ao que esmagou o outro. 

O rastro comum remete ao arsenal udenista da suspeição e da condenação sumárias, das togas avessas às provas; e das sentenças indiferentes aos autos. 

O conjunto  forma um fio de continuidade que atravessa a régua do tempo e conecta a luta progressista de 1954  a do Brasil de 2013. Hoje, mais uma vez, o país enfrenta uma transição de ciclo histórico. 

Ela opõe, de um lado, a esperança no passo seguinte de um desenvolvimento calcado na emancipação social de sua gente. E de outro, as forças e interesses que consideram intolerável sincronizar esse passo com o anseio por equidade e justiça, mas, sobretudo, por uma efetiva redistribuição do poder.

Luis Nassiff: Os paralelos entre Vargas e Lula II


Os tempos são diferentes, o nível de desenvolvimento brasileiro é outro.
Mas há pontos em comum entre a luta política do período Vargas-Jango e do período Lula-Dilma.
Em comum, o fato da oposição ter escassas possibilidades de tomar o poder pelo voto. Assim, o protagonismo é assumido por grupos que levam a luta política para outros campos, extra-eleitorais.
No caso de Vargas, essa aglutinação da oposição se deu no segundo governo, com a imprensa livre das amarras da censura do Estado Novo. No caso de Lula, na aliança mídia-PSDB que se forma no pós-mensalão.
***
Havia duas maneiras de enfrentar o clima pre-conspiratório. A primeira, compondo alianças, diluindo pressões, apostando na normalização econômica e política, até ser aceita pelo status quo; a segunda, partindo para o confronto.
***
Dilma Rousseff claramente está apostando todas suas fichas no primeiro caminho.
Do período pré-posse à queda, Jango balançou entre esses dois movimentos: o da conciliação, típico da sua personalidade, e da radicalização, conduzido pelo cunhado Leonel Brizola. Sua indefinição derrotou-o.

Luis Nassiff: os paralelos entre Vargas e Lula


Esses tempos de Comissão da Verdade – tentando levantar os véus do período militar -, mais a extrema turbulência que cercou o julgamento do chamado “mensalão” suscitaram comparações entre os períodos Vargas-Jango e Lula-Dilma.
Vale a pena uma identificação mais clara de semelhanças e diferenças.
Ambos os períodos foram de intensa inclusão social, no período Vargas a inclusão das novas classes trabalhadoras, em polos industriais localizados e, em parte, na zona rural nordestina, em torno de sindicatos e organizações de camponeses; no período Lula, de forma disseminada pelo país.
Esse era o jogo: Vargas e Lula consolidando projetos nacional-populares; a oposição ancorada em dois discursos: a anticorrupção e um inacreditável anticomunismo, mesmo após o fim do comunismo.
Havia uma lógica econômica e outra política por trás das ações de Vargas e Lula. A econômica, de modernização do capitalismo brasileiro, através do fortalecimento do mercado de consumo interno e da parceria com grandes grupos nacionais. Do lado político, a consolidação eleitoral massacrante, com as novas classes aderindo em massa ao líder que lhes abriu espaço.
Esse mesmo fenômeno ocorreu nos Estados Unidos no período que antecedeu a Guerra da Secessão. Para modernizar estruturas estratificadas, havia o interesse político do Partido Republicano (de conquistar os novos eleitores urbanos e rurais) e do grupo de indústrias que se instalou na costa do Atlântico.

De Vargas a Dilma: o parto de um novo ciclo

Assim como as vantagens comparativas na economia, a relação de forças na sociedade  não é um dado da natureza, mas uma construção histórica.  

Ao afrontar o gesso das vantagens comparativas  nos anos 30 e depois, em 50, Vargas alterou o equilíbrio político da sociedade. Mas não tão sincronizado assim, nem tão solidamente assim, como se veria em agosto de 54. 

A seta do tempo não se quebrou. 

Estamos outra vez  diante de uma esquina histórica.  

A exemplo daquela enfrentada por Getúlio nos anos 50,  a dobra seca está cercada de desafios e potencialidades interligados por uma relação de forças  igualmente  frágil. 

Mutatis mutandis, trata-se de inscrever no Brasil do  século XXI  uma revolução de infraestrutura e fomento industrial de  audácia e desassombro equivalente  a que Vargas esboçou há 58  anos. Não se faz isso a frio. Sobretudo, não se faz com o acanhamento e a palidez diante de palavras como 'engajamento', 'mobilização' e 'pluralismo midiático' 

58 anos da morte de Getúlio Vargas


Há exatos 58 anos, na madrugada de 24 de agosto de 1954, o presidente Getúlio Vargas se matava com um tiro no coração. O presidente deu com a vida o troco que desnorteou por completo a oposição golpista que tentara derrubá-lo. Sua morte desencadeou, então, um dos momentos mais cruciais da nossa vida institucional republicana, quando tivemos nada menos que cinco presidentes da República no curto interregno de pouco mais de um ano. Naquele 24 de agosto eu tinha 8 anos e fui dispensado das aulas em minha Passa-Quatro (MG) onde nasci e vivi até os 14 anos. O fato ficou gravado em minha memória para sempre. Não pela falta às aulas, mas pelo suicídio do presidente. Filho de um udenista que tinha como sócio um petebista, naquele quadro aprendi a viver a disputa política dura (entre a UDN, o PTB e o PSD) mas, também, a manter a convivência civilizada entre adversários políticos. Leia mais>>>

Lula desperta mais ódio que Vargas despertou


[...] É um ódio de classe, disse Sader.
E por que ?
A elite, por meio de seus funcionários no PiG (**) e no PSDB de São Paulo, não perdoa o fracasso de Fernando Henrique e o sucesso retumbante de Lula.
Era para ser o contrário.
O cheiroso tinha que ser maior que o metalúrgico nordestino, que não tem um dedo e não fala inglês.
E não foi.
Pior: o sucessor de FHC foi Cerra, um derrotado.
O de Lula, uma vitoriosa.
(Sader foi entusiasticamente aplaudido !)

por Carlos Chagas


OU SE VOLTA COM HONRA OU NÃO SE VOLTA MAIS

De vez em quando é bom olhar para trás e buscar no passado, senão lições sobre o que fazer, ao menos sobre o que evitar. Vale olhar no espelho retrovisor e verificar que a pouco mais de oitenta anos eclodia aquilo que mais de perto pode ser chamado de uma revolução, ainda que propriamente não fosse. Porque uma revolução, pelo vernáculo, deve corresponder a alterações profundas nas práticas políticas, econômicas e sociais de um país. O tripé ficou capenga, sustentado apenas por ampla reforma social. Na política e na economia, nenhuma mudança.

Deflagrado dia 3 de outubro de 1930 em Porto Alegre, Belo Horizonte e Paraíba, então  capital do estado com o mesmo nome, logo o movimento tomou conta do país, atingindo o Rio, Recife e outras capitais. No dia 29 tomou posse como presidente provisório da República o chefe civil, Getúlio Vargas, então presidente do Rio Grande do Sul. Começou aí a primeira contradição com o termo revolução, pois o caudilho era político por excelência. Havia sido ministro da Fazenda do presidente que derrubara, Washington Luís. Trouxe com ele políticos aos montes, a começar pelo ex-presidente Artur Bernardes, outro expoente da República Velha.

Não houve, assim, grandes alterações  na política, ainda que coubesse o exemplo do golpe  da vassoura: simplesmente, inverteram-se seus pólos. Os que estavam por baixo subiram, os que se encontravam por cima desceram.

Importa misturar doutrinas e pessoas, sendo que estas fazem mais História do que aquelas. Na capital gaúcha, ao embarcar no trem que acabaria chegando ao Rio, Getúlio apropriou-se de uma frase dita pouco antes por Flores da Cunha: 

“desta viajada, ou se volta com honra ou não se volta  mais”. 

Estava ali a confirmação hoje consagrada na psicologia, de que um suicida dá sinais do gesto futuro muito antes que aconteça. A disposição do comandante improvisado de uma revolução que Luis Carlos Prestes não quis liderar era de vencer ou morrer. Naquele dia, ignorava-se o grau de resistência do governo Washington Luís, esperando-se a grande batalha que acabou não havendo, na fronteira do Paraná com São Paulo. Afinal, o presidente em seguida deposto fazia política em São Paulo e acabava de eleger o sucessor, Julio Prestes, outro paulista. Precisamente contra Getúlio Vargas, porque naqueles tempos de eleições fraudadas,  nenhum candidato de oposição venceu. Até Rui Barbosa havia sido derrotado, anos antes.

O trem foi subindo sem lutas, aclamados os revolucionários com churrascos, flores e cerimônias cívicas. Aderir já fazia parte do sentimento nacional, diante de espingardas e canhões. Seria em Itararé o grande embate, com as tropas federais sediadas em São Paulo, mais a Força Pública paulista, entrincheiradas naquela cidadezinha paranaense. Ia correr muito sangue.

Foi quando, no Rio, ainda dentro do sentimento apaziguador do  povo brasileiro,  chefes militares resolvem evitar o confronto. Prendem o presidente Washington Luís, disposto a resistir até de revolver na mão e passam um telegrama para a frente de batalha, exortando os paulistas a não resistir e os gaúchos a retornar aos pampas. Haviam criado uma Junta Militar e esperavam pacificar o país permanecendo indefinidamente no governo. Os soldados que defendiam São Paulo ou voltaram à capital ou aderiram à revolução. Os gaúchos mandaram Osvaldo Aranha, num teco-teco, à capital da República, para dizer aos generais e um almirante que parassem de brincar com coisa séria. Deu-lhes prazo até que Getúlio chegasse para transmitir-lhe o poder. Os membros da Junta devem ter olhado pela janela, verificando que o povo estava eufórico nas ruas, não por eles, mas pela revolução. Também contaram quantos corpos de tropa lhes eram fiéis e cederam em cinco minutos. Os gaúchos que viessem para assumir o poder.

Se a viagem do trem já era uma festa, maior ficou quando a locomotiva entrou em  solo  paulista. Na capital do estado, um fenômeno singular: sem poder reagir, os quatrocentões ficaram em casa, partidários que eram de Washington Luís. Mas o povão, a começar pelos operários, lotou  praças e avenidas gritando “queremos Getúlio, queremos Getulio!”  Lembravam-se de que na recente campanha eleitoral o candidato derrotado anunciara as primeiras medidas sociais, se fosse eleito. Salário mínimo, jornada de oito horas diárias, férias remuneradas, estabilidade no emprego e outras que, justiça se faça, o novo presidente cumpriu ao longo dos anos em que ficou no governo.

No Rio, jornais que apoiavam a República Velha foram “empastelados”, expressão  em uso para significar a destruição das redações com incêndios e muita pancadaria. Até o “Jornal do Brasil” ficaria fechado por alguns meses, resistindo até setembro passado, quando um pastelão resolveu suprimi-lo.

Alguns gaúchos arrogantes haviam prometido amarrar seus cavalos no obelisco da avenida Rio Branco, forma de humilhar o governo deposto e a capital federal,  sem recordar que os cariocas apoiavam a revolução.  Fizeram isso à noite,  mas, pela manhã, os cavalos haviam sido roubados e, no lugar deles, estavam amarrados alguns soldados gaúchos. Vingaram-se,  os cariocas.

Getúlio tomou posse dia 29, trajando farda de soldado. No palácio do Catete, senhoras em vestidos de luxo, políticos de terno e gravata e o povo em euforia. Assumia o presidente provisório,  tornado presidente constitucional em 1934 e ditador em 1937. Foi deposto em outubro de 1945, para voltar eleito em 1951 e cumprir o vaticínio exposto na estação de trem,  ao sair de Porto Alegre. Para não perder a honra diante da tentativa de sua deposição, matou-se com um tiro no peito.

por Carlos Chagas


A HISTÓRIA NÃO TEM PRESSA

Vivemos de modismos. De idéias pré-concebidas. Por que, por exemplo, determinar 100 dias como primeiro prazo para o julgamento de um governo ou de uma governante? Por que não 102 ou 110, ou 200, 500 ou 800? Dirão muitos que a vida é assim. Os casamentos são contados por bodas de prata, de ouro e até de diamante. As guerras, por décadas ou séculos. As religiões, por milênios.

Senão  insurgir-se, Dilma Rousseff deveria dar de ombros para a cascata de análises, interpretações e diagnósticos apresentados pela mídia  no fim de semana, a respeito de seu desempenho na presidência da República. Afinal, a data que interessa mesmo é a de cada dia, com ênfase para o último  de seu mandato.

Para Getúlio Vargas, foi 24 de agosto de 1954, mesmo tendo ele permanecido por 15 anos variadíssimos, numa primeira etapa, e três anos e meio de incompreensões, no segundo.

Juscelino Kubitschek preferiu ressaltar os 50 anos em 5, no começo, para no final fixar-se na data futura que não chegou, de  3 de outubro de 1965, quando voltaria ao poder.  Jânio Quadros jamais imaginou que 25 de agosto de 1961 seria o fim, muito menos João Goulart, de que tudo terminaria no 1 de abril de 1964. Dos generais-presidentes, note-se apenas a seqüência de seus mandatos com dia certo para transmitirem o poder, exceção de Costa e Silva que adoeceu antes. Para Tancredo Neves o destino não deixou um dia sequer, para José Sarney um ano lhe foi surripiado. Fernando Collor imaginou vinte anos, defenestrado em dois e meio, ao contrário de Fernando Henrique, que era para ser julgado depois de  quatro anos e burlou seus julgadores, estendendo o prazo para  oito. O mesmo tempo concedido ao Lula, de olho em  mais oito, ainda que  sem prazo certo para iniciar o retorno.


Essas considerações se fazem por conta da evidência de que a análise da ação  dos presidentes da República não deve ser medida em dias, meses ou sequer anos. A História não tem pressa e não comporta açodamentos, ainda que se apresente pródiga em surpresas.  Dilma pode ter ido bem nos primeiros 100 dias, mas quem  garante que seguirá  assim nos seguintes?  Melhor aguardar.

Lula = Competência

Lembram-se os leitores de que o sociólogo que governou o País e o levou, duas vezes, à falência, dizia ser impossível pagar o equivalente a cem dólares de salário mínimo, sob pena de as pequenas empresas, as prefeituras do interior, metade do País ir à falência? Era a cantilena dos tucanos, em seus oito anos de poder. De tal sorte insistente, que, quando o candidato José Serra teve a cara de pau de prometer aumentar o salário mínimo para 600 reais, não conquistou um só voto a mais, pela sua notória falsidade.

As conquistas sociais do governo Lula são dignas de nota, pela elevação do padrão de vida das classes menos favorecidas dentro do possível e no desmentido de falácias do antecessor. São ainda insuficientes, naturalmente, e deverão ser ampliadas, com o crescimento do País. O que não podem é ser anuladas pela ganância dos que falam em redução dos gastos públicos, o que quer dizer, de fato, extinção do programa Bolsa Família, redução dos salários e dos proventos dos aposentados.

No momento, o salário mínimo é equivalente a três vezes tal quantia. Duzentos e 90 dólares. Por isso, as classes C e D subiram de nível e estão se alimentando, viajando de avião, adquirindo automóveis. O presidente da República cumpriu exemplarmente a promessa do primeiro dia de seu governo, segundo o qual todo brasileiro teria direito, doravante, a três refeições por dia. E o Brasil vive fase áurea de seu desenvolvimento, depois de ter superado, airosamente, a crise que devastou a Europa e que, segundo a torcida dos líderes do PSDB, ia arruinar o Brasil e destruir a popularidade de Lula e de seu partido.

Tudo isto foi feito, sem alarde, sem assustar os timoratos e sovinas. O que lembra a queda de João Goulart, do Ministério do Trabalho, pela pressão dos militares que, sob a liderança do coronel Golbery do Couto e Silva, publicaram o manifesto dos coronéis, iniciando a violenta repulsa castrense ao presidente Getúlio Vargas e seu ministro, que seria deposto em 1964. Tudo porque aumentaram o salário mínimo, para dar nível de vida condigna ao operário brasileiro.

O que Lula fez, com competência, dentro de suas possibilidades. Sem dar passadas maiores que as pernas, a fim de evitar recuos vergonhosos. Com absoluta competência política que, pelo menos neste setor, supera a do próprio Vargas e de Goulart.

O anúncio do ministério

Quando completar suas escolhas  e anunciar o ministério inteiro, se é que ainda não fez,  o que dirá a presidente Dilma Rousseff, com referência à nova equipe?

Certamente não anunciará “o melhor ministério da história da República”, até porque não é e nem ela parece imbuída dos exageros do Lula.

Falará do “melhor ministério possível”, numa lembrança das  pressões sofridas e das  ambições sentidas pelos partidos? Também não, porque seria igualar aos demais uns poucos ministros competentes que existem no conjunto, além de comprar briga com os urubus que esvoaçaram ao seu  redor.

Também não irá referir-se ao “ministério da experiência”, como um dia Getúlio Vargas definiu seus  primeiros ministros,  deixando claro que em poucos meses mudaria muita gente ou todo mundo. A presidente poderá até dispor dessa intenção, mas jamais a tornará pública.

Sendo assim, o provável é que Dilma apenas se dirija à imprensa salientando: “Esse é o ministério.” E ponto final, até sem particular que “esse é o MEU ministério”. Porque com toda certeza não é.
por Carlos Chagas
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Estadão afasta psicanalista que elogiou Lula

Convido a todos a lerem " Dois pesos... ", o último artigo sobre política que a psicanalista Maria Rita Kehl publicou em O Estado de S.Paulo, no sábado pp (02.10), véspera do 1º turno. Último porque publicado, ato contínuo, a jornalista recebeu a determinação do Conselho Editorial do jornal de não mais escrever sobre política.

Também, pudera! Maria Rita, que colaborava há anos com o jornalão da família Mesquita, neste texto ousou cometer o que para o Estadão são duas blasfêmias: elogiou o governo Lula e falou de luta, de consciência de classes, coisa que o jornalão sonha e gostaria de ter eliminado por "decreto" e na marra há muitos anos.

A medida contra a psicanalista é um dos mais precisos indícios de que a guerra suja que vai marcar a disputa eleitoral neste 2º turno está apenas começando, mas vai ser um vale tudo como nunca se viu antes no país. Nem a UDN -  saudosa para o Estadão - chegou a tanto nos tempos em que cercou o presidente Getúlio Vargas do "mar de lama" e o levou ao suicídio.

Curiosidade da história: os que não gostaram do que ela escreveu são os mesmos que dia sim e o outro também se arvoram em defensores da liberdade de imprensa e nos acusam, ao governo e ao PT, de tentar impor censura à mídia e atentar contra esta liberdade de imprensa.

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A decisão soberana de uma sociedade capitalizar o seu futuro

Capitalização da Petrobras, um dia histórico para o Brasil.
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Vargas vivo; FHC enterrado

Petrobrás é a segunda maior do mundo; e os tucanos queriam desmontar a empresa



O estadista de São Borja está vivo; o tucanismo, morto e enterrado
FHC queria enterrar a Era Vargas. Foi o que disse num discurso histórico no Senado em 1994, pouco antes de tomar posse para o primeiro mandato na presidência da República.
Depois, um dos ideólogos do tucanismo, o ministro Sergio Mota (aquele que dizia: “os tucanos tem um projeto de 20 anos de poder”) anunciou que era preciso “desmontar, osso por osso” a Petrobras – a empresa, segundo ele, era um “paquiderme”.
Hoje, o Brasil anuncia que a Petrobras é a segunda maior empresa do Mundo. A captação de 120 bilhões de reais, com lançamento de novas ações no mercado, foi a maior da história. Prestem atenção: maior captação de recursos da história no mercado mundial!
Além disso, com a engenhosa operação planejada pelo governo Lula, a União pode passar a deter mais de 50% das ações da Petrobrás.
Com o sucesso da Petrobrás, o Brasil mostra ao mundo a força de sua economia; e mostra que o Estado tem – sim – papel fundamental no desenvolvimento, sobretudo em economias que tentam sair da periferia para entrar no centro do jogo econômico mundial.
Ano passado, o Brasil já tinha enfrentado a crise mundial com a força do BNDES – outra criação de Vargas. Agora, a Petrobras vira uma gigante quase do tamanho da Exxon (EUA).
Como já escrevi aqui, tem um caráter simbólico o fato de a provável sucessora de Lula ser uma ex-militante do PDT, formada na tradição do brizolismo e do trabalhismo de esquerda.
A eleição de Dilma significa o reencontro do PT com Vargas. Mais que isso, significa o reencontro do Brasil com a melhor herança do varguismo: defesa do Estado, distribuição de renda, direitos trabalhistas e nacionalismo econômico.
O resto é UDN, é entreguismo, é tucanismo dos anos 90. 
Tenho a leve impressão que o estadista gaúcho ganhou essa parada. Enterrado há 56 anos em São Borja, Vargas segue mais vivo do que nunca. Foi o Brasil que enterrou a era FHC.

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Se diz a presidente ou a presidenta?

Luis Fernando Veríssimo

De hoje à data da eleição teremos dez dias de manchetes nos jornais e duas edições da Veja. Não sei até quando podem ser publicadas as pesquisas sobre intenção de voto, mas até a última publicação – aquela que, segundo os céticos, é a mais confiável, pois é a que garante a credibilidade e o futuro dos pesquisadores – veremos uma corrida emocionante: o noticiário perseguindo os índices da Dilma para tentar derrubá-los antes da chegada, no dia 3. O prêmio, se conseguirem, será um segundo turno. Se não conseguirem a única dúvida que restará será: se diz a presidente ou a presidenta?
Até agora as notícias de corrupção na Casa Civil não afetaram os índices da Dilma. Estou escrevendo na terça, talvez as últimas pesquisas mostrem um efeito retardado. Mas ainda faltam dez dias de manchetes e duas edições da Veja, quem sabe o que virá por aí? O governo Lula tem um bom retrospecto na sua competição com o noticiário. 
A popularidade do Lula não só resistiu a tudo, inclusive às mancadas e aos impropérios do próprio Lula, como cresceu com os oito anos de denúncias e noticiário negativo. Desde UDN x Getúlio nenhum presidente brasileiro foi tão atacado e denunciado quanto Lula. Desde sempre, nenhum presidente brasileiro acabou seu mandato tão bem cotado.
Acrescente-se ao paradoxo o fato de que o eleitorado brasileiro é tradicionalmente, às vezes simplisticamente, moralista. Elegeu Jânio para varrer a sujeira do governo Juscelino, elegeu Collor para acabar com os marajás, aplaudiu a queda do Collor por corrupção presumida e houve até quem pedisse o impedimento do Itamar por proximidade temerária com calcinha transparente. Mas o moralismo tornou-se politicamente irrelevante com Lula e, por tabela, para os índices da Dilma. É improvável que volte a ser decisivo em dez dias. Mas nunca se sabe. 
O que talvez precise ser revisado, depois dos oito anos do Lula e depois destas eleições, quando a poeira baixar, seja o conceito da imprensa como formadora de opiniões.
Mas a corrida dos dez dias começa hoje e seu resultado ninguém pode prever com certeza. Virá alguma bomba de fragmentação de última hora ou tudo que poderia explodir já explodiu? O que prevalecerá no final, os índices inalterados da Dilma ou o noticiário? Faça a sua aposta.

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Entre Getúlio e Lula


Deixando as comparações para outro dia, acontece com o Lula aquilo que  sessenta anos atrás aconteceu com Getúlio Vargas: quanto  mais as elites se organizam para bater, mais eles crescem junto às massas. Inclua-se nas elites, como sua Comissão de Frente, os principais veículos de comunicação.




Tome-se dois atos públicos, um realizado ontem, outro previsto para hoje, ambos em São Paulo. Nas Arcadas, estranhamente ao meio-dia, demonstrando falta de experiência em marketing, um grupo de intelectuais posicionou-se contra o autoritarismo e os espaços cada vez maiores ocupados pelo Executivo, quer dizer, contra o presidente Lula. Povo, mesmo, faltou à manifestação, ainda que respeitáveis nomes da inteligência nacional emprestassem sua biografia ao documento divulgado. Por ironia, não apenas conservadores, mas até expoentes como Helio Bicudo e D. Evaristo Arns. Aceitaram subscrever o texto, também,  Leôncio Martins Rodrigues, Arthur Gianotti, Celso Lafer, Carlos Velloso, Boris Fausto e outros.  Registrou-se sofisticada cobertura pela imprensa, mas faltou a voz rouca das ruas.
Para hoje à noite, na sede do Sindicato dos Jornalistas paulistas,  espera-se muita gente convocada pelo  PT,  a CUT, o MST, a UNE e outras entidades, precisamente em revide à   parte da imprensa acusada de  sabotagem e má vontade diante do presidente Lula e sua candidata,  Dilma Rousseff. O rótulo para a manifestação é “ato contra o golpismo da mídia”. Certamente um exagero.
Noves fora a emissão de juízos de valor a respeito da contenda, a verdade é que dividendos eleitorais, mesmo, só virão  favorecer o governo. É isso o que as elites de ontem e de hoje teimam em não entender: descer tacape e borduna no lombo de Getúlio Vargas e de Luiz Ignácio da Silva só transformou aquele em santo e, Deus nos livre, poderá transformar este. 
Não é por aí que  mudarão os ventos da corrida sucessória, de resto  já decidida por antecipação. Acusar o presidente Lula de autoritarismo e  de participação indevida na campanha não acrescentará um voto sequer para José Serra. Também será injustiça debitar  toda a culpa da derrota ao candidato tucano. Ele errou, é verdade, desde a demora em se lançar até a hesitação diante da escolha de seu vice, no final aceitando  um desconhecido  silvícola. Também perdeu tempo e espaço preciosos sem apresentar projetos concretos e ordenados  para energia, transporte, habitação, saúde, educação, combate à pobreza e demais propostas que poderiam ter levado o eleitorado a meditar. Limitou-se, como se limita até hoje, a sugestões pontuais e desencontradas, à maneira de conceder o décimo-terceiro salário aos beneficiados pelo bolsa-família.
O erro maior das elites, porém, está na essência do comportamento dos jornalões e sucedâneos, empenhados em denegrir e desconstruir o Lula e seu governo, como seus avós fizeram com Getúlio, em vez de apresentarem  alternativas para beneficiar o povão.  Em 1954 obtiveram sucesso através do golpismo de que agora são até injustamente acusados. É que naqueles idos  freqüentavam o palco  atores hoje retirados, os militares. Para má sorte de Getúlio e felicidade do Lula.

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Lula e a imprensa

Já identifiquei aqui antes uma rachadura na lógica do presidente da República quando trata da imprensa. Umas horas diz que ela não tem mais tanto poder quanto antes. Mas se isso é fato por que gastar tanta saliva com o assunto?



O que mudou na relação entre a imprensa e seus leitores, telespectadores, ouvintes? Hoje há bem mais fontes de informação, e essas fontes são fiscalizadas em tempo real pela internet. O sistema de freios e contrapesos funciona para valer, cada vez melhor.



O que não mudou? A razoável independência entre o que acham e dizem os jornalistas e o que pensa o eleitor.



Lula de vez em quando parece imaginar que está diante de uma baita novidade. Menos, presidente. A História do Brasil já teve outros episódios de dissonância entre o poder e a opinião pública, nos quais a maioria da população seguiu o primeiro e não a segunda. É só pesquisar. Um bom exemplo está no livro “Minha Razão de Viver”, na parte em que Samuel Wainer (com a redação de Augusto Nunes) conta da campanha que levou Getúlio Vargas de volta ao poder em 1950.



O papel dos “formadores de opinião” foi e é limitado. Em geral, quando alguém busca uma ideia é para poder defender melhor o que já desejava defender. O sujeito gosta de um governo ou não gosta. Mas sempre por razões objetivas. Depois vai buscar a explicação.

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“Folha” vira a FOX de Dilma

Nos EUA, Barack Obama pendurou o guiso no gato já há algum tempo. Lá, a assessoria do presidente colou na FOX o rótulo de “braço midiático do Partido Republicano”.
Nessa segunda-feira, o jornal da família Frias teve o seu dia de FOX. Dilma bateu pesado na “Folha”. É o troco, depois de dias e dias de uma campanha unilateral. Aliás, são meses de deturpações e cobertura enviesada. Começou lá atrás, com a ficha falsa na primeira página. Seguiu com a manchete tosca sobre o aumento da conta de luz “por culpa de Dilma” (tão tosca que fez a “Folha” ir parar nos trendtopics do twitter, como exemplo mundial de manipulação).
Nas últimas duas semanas, diante do aturdimento de Serra – incapaz de traçar uma linha para sua campanha – a velha mídia assumiu o comando da oposição. Cumpriu-se, assim, na prática, o que Judith Brito (presidenta da ANJ – Associação Nacional dos Jornais) já havia vaticinado: “a imprensa é o verdadeiro partido de oposição no Brasil.”
O clima de confrontação, criado pela direita, aproxima-se muito do que vemos na Venezuela. Como escrevi aqui, a venezuelização do Brasil vem pela direita: quem escolheu o confronto não foi Lula, mas Serra (com seu discurso no Clube Militar, falando em “República Sindicalista”) e a velha mídia.
Já escrevi nesse humilde blog que a imprensa tem , sim, o dever óbvio de investigar e denunciar. Não vejo nada de errado nisso. A situação absurda, no Brasil, é que as denúncias são sempre unilaterais. Só existem escândalos federais no Brasil, há quase 8 anos. O ímpeto investigativo dos jornais não se volta – jamais – contra os tucanos. Explica-se: os tucanos garantem polpudos recursos para a velha mídia, com a assinatura de jornais para as escolas paulistas.
A velha mídia tenta criar um “Mar de Lama” contra o lulismo. Como Lacerda fez contra Vargas em 54.
Naquela época, o único contraponto era o “Última Hora”, jornal de Samuel Wainer. Hoje, os “blogs sujos” cumprem – de forma ainda limitada, mas efetiva  - o papel de contraponto. Nem isso Serra gostaria de ter. Queria toda a mídia pra ele.

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A História e seus ardis

RESUMO
André Singer aplica às eleições de 2010 sua tese do “realinhamento” do eleitorado brasileiro, caracterizado pela adesão das classes baixas ao “lulismo” (por verem em Lula a possibilidade de ascensão social sem confronto) e pelo afastamento da classe média tradicionalmente petista, após o escândalo do mensalão.

CONTA-SE QUE CERTA VEZ 
o engenheiro Leonel Brizola teria levado o metalúrgico Lula ao túmulo de Getúlio Vargas em São Borja (RS). Lá chegando, o gaúcho pôs-se a conversar com o ex-presidente. Depois de algumas palavras introdutórias, apresentou o líder do PT ao homem que liderou a Revolução de 1930: “Doutor Getúlio, este é o Lula”, disse, ou algo parecido. Em seguida, pediu que Lula cumprimentasse o morto. Não se sabe a reação do petista.
Será que algum dos personagens do encontro pressentiu que, naquela hora, estavam sendo reatados fios interrompidos da história brasileira? Desconfio que não.
Os tempos eram de furiosa desmontagem neoliberal da herança populista dos anos 1940/50. Mesmo aliados, em 1998 PT e PDT -praticamente tudo o que restava de esquerda eleitoralmente relevante- perderiam para Fernando Henrique Cardoso no primeiro turno. O consulado tucano parecia destinado a durar pelo menos 20 anos e trazer em definitivo o neoliberalismo para o Brasil.

BRECHA 
Foi por uma brecha imprevista, aberta pelo aumento do desemprego no segundo mandato de FHC, que Lula encontrou o caminho para a Presidência da República. Para aproveitá-la, fez substanciais concessões ao capital, pois a ameaça de radicalização teria afastado o eleitorado de baixíssima renda, o qual deseja que as mudanças se deem sem ameaça à ordem.1
Apesar da pacificação conquistada com a “Carta ao Povo Brasileiro” ter sido suficiente para vencer, o subproletariado não aderiu em bloco. Havia mais apoio entre os que tinham renda familiar acima de cinco salários mínimos do que entre os que ganhavam menos do que isso, como, aliás, sempre acontecera desde 1989. Ainda que as diferenças pudessem ser pequenas, elas expressavam a persistente desconfiança do “povão” em relação ao radicalismo do PT.
Depois de 2002, tudo iria mudar. A vitória levaria ao poder talvez o mais varguista dos sucessores do dr. Getúlio. Não em aspectos superficiais, pois nestes são expressivas as diferenças entre o latifundiário do Sul e o retirante do Nordeste. Tampouco no sentido de arbitrar, desde o alto, o interesse de inúmeras frações de classe, fazendo um governo que atende do banqueiro ao morador de rua. Dadas as condições, todos os presidentes tentam o mesmo milagre.
O que há de especificamente varguista é a ligação com setores populares antes desarticulados. Ao constituir, desde o alto, o povo em ator político, o lulismo retoma a combinação de autoridade e proteção aos pobres que Getúlio encarnou.

BURGUESIA EM CALMA Mas em 1º de janeiro de 2003 ninguém poderia prever o enredo urdido pela história. Para manter em calma a burguesia, o mandato inicial de Lula, como se recorda, foi marcado pela condução conservadora nos três principais itens da macroeconomia: altos superavits primários, juros elevados e câmbio flutuante. Na aparência, o governo seguia o rumo de FHC e seria levado à impopularidade pelas mesmas boas razões.
De fato, 2003 foi um ano recessivo e causou desconforto nos setores progressistas. Ao final, parte da esquerda deixou o PT para formar o PSOL. Mesmo com a retomada econômica no horizonte de 2004, Brizola deve ter morrido em desacordo com Lula, por ter transigido com o adversário.
Ocorre que, de maneira discreta, outro tripé de medidas punha em marcha um aumento do consumo popular, na contramão da ortodoxia. No final de 2003, dois programas, aparentemente marginais, foram lançados sem estardalhaço: o Bolsa Família e o crédito consignado. Um era visto como mera junção das iniciativas de FHC. O segundo, como paliativo para os altíssimos juros praticados pelo Banco Central.
Em 2004, o salário mínimo começa a se recuperar, movimento acelerado em 2005. Comendo o mingau pela borda, os três aportes juntos começaram a surtir um efeito tão poderoso quanto subestimado: o mercado interno de massa se mexia, apesar do conservadorismo macroeconômico.
Nas pequenas localidades do interior nordestino, na vasta região amazônica, nos lugares onde a aposentadoria representava o único meio de vida, havia um verdadeiro espetáculo de crescimento, o qual passava despercebido para os “formadores de opinião”.

PASSO DECISIVO 
Quando sobrevém a tempestade do “mensalão” em 2005 -e, despertado do sono eterno pela reedição do cerco midiático de que fora vítima meio século antes no Catete, o espectro do dr. Getúlio começa a rondar o Planalto-, já estavam dadas as condições para o passo decisivo.
Em 3 de agosto -sempre agosto-, em Garanhuns (PE), perante milhares de camponeses pobres da região em que nascera, Lula desafiou os que lhe moviam a guerra de notícias: “Se eu for [candidato], com ódio ou sem ódio, eles vão ter que me engolir outra vez”.
Até então, a ligação entre Lula e os setores populares era virtual. Chegara ao topo cavalgando uma onda de insatisfação puxada pela classe média. Optou por não confrontar os donos do dinheiro. Perdeu parte da esquerda. Na margem, acionou mecanismos quase invisíveis de ajuda aos mais necessitados, cujo efeito ninguém conhecia bem.
Foi só então que, empurrados pelas circunstâncias, o líder e sua base se encontraram: um presidente que precisava do povo e um povo que identificou nele o propósito de redistribuir a renda sem confronto.

PLACAS TECTÔNICAS 
Os setores mais sensíveis da oposição perceberam que fora dada a ignição a uma fagulha de alta potência e decidiram recuar. A hipótese de impedimento foi arquivada, para decepção dos que não haviam entendido que placas tectônicas do Brasil profundo estavam em movimento.
Em 25 de agosto, um dia depois do aniversário do suicídio de Vargas, Lula podia declarar perante o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social que a página fora virada: “Nem farei o que fez o Getúlio Vargas, nem farei o que fez o Jânio Quadros, nem farei o que fez o João Goulart. O meu comportamento será o comportamento que teve o Juscelino Kubitschek: paciência, paciência e paciência”. Uma onda vinda de baixo sustentava a bonomia presidencial.
O Lula que emerge nos braços do povo, depois da crise, depende menos do beneplácito do capital. Daí a entrada de Dilma Rousseff e Guido Mantega em postos estratégicos, o que mudou aspectos relevantes da política macroeconômica. Os investimentos públicos, contidos por uma execução orçamentária contracionista, foram descongelados no final de 2005. O salário mínimo tem um aumento real de 14% em 2006.

POLARIZAÇÃO 
Para o público informado, a constatação do que ocorrera ainda demoraria a chegar. Foi preciso atingir o segundo turno de 2006 para que ficasse claro que o povo tinha tomado partido, ainda que em certos ambientes de classe média “ninguém” votasse em Lula.
A distribuição dos votos por renda mostra a intensa polarização social por ocasião do pleito de 2006. Pela primeira vez, o andar de baixo tinha fechado com o PT, antes forte na classe média, numa inversão que define o realinhamento iniciado quatro anos antes.
Embora, do ponto de vista quantitativo, a mudança relevante tenha se dado em 2002, o que define o período é o duplo movimento de afastamento da classe média e aproximação dos mais pobres. Por isso, o mais correto é pensar que o realinhamento começa em 2002, mas só adquire a feição definitiva em 2006. Como, por sinal, aconteceu com Roosevelt entre 1932 e 1936.

SEGUNDO MANDATO Assentado sobre uma correlação de forças com menor pendência para o capital, o segundo mandato permitirá a Lula maior desenvoltura. Com o lançamento do PAC, fruto de um orçamento menos engessado, aumentam as obras públicas, as quais vão absorver mão de obra, além de induzir ao investimento privado.
Em 2007, foi gerado 1,6 milhão de empregos, 30% a mais do que no ano anterior. A recuperação do salário mínimo é acelerada, com aumento real de 31% de 2007 a 2010, contra 19% no primeiro mandato, conforme estimativa de um dos diretores do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada)2. A geração de emprego e renda explica os 70% de aprovação do governo desde então.
Nem mesmo a derrubada da CPMF, com a qual a burguesia mostrou os dentes no final de 2007, reduziu o ritmo dos projetos governamentais. A transferência de renda continuou a crescer. Foi só ao encontrar a parede do tsunami financeiro, no último trimestre de 2008, que se interrompeu o ciclo ascendente de produção e consumo. Teria chegado, então, segundo alguns, a hora da verdade. Com as exportações em baixa, o lulismo iria definhar.

COMPRAR SEM MEDO Mas o lulismo já contava com um mercado interno de massa ativado, capaz de contrabalançar o impacto da crise no comércio exterior. A ideia, difundida pelo presidente, de que a população podia comprar sem medo de quebrar, ajudou a conter o que poderia ser um choque recessivo e a relançar a economia em tempo curto e velocidade alta.
Além da desoneração fiscal estratégica, como a do IPI sobre os automóveis e os eletrodomésticos da linha branca, o papel dos bancos públicos -em particular o do BNDES- na sustentação das empresas aumentou a capacidade do Estado para conduzir a economia. Numa manobra que lembra a de Vargas na Segunda Guerra, Lula utilizou a situação externa para impulsionar a produção local.
Surge uma camada de empresários -Eike Batista parece ser figura emblemática, como notava dias atrás um economista-, dispostos a seguir as orientações do governo. A principal delas é puxar o crescimento por meio de grandes obras, como as de Itaboraí -o novel polo petroquímico no Estado do Rio-, as de Suape (PE) e de Belo Monte, na Amazônia. Cada uma delas alavancará regiões inteiras.
Por fim, a aliança entre a burguesia e o povo, relíquia de tempos passados que ninguém mais achava que pudesse funcionar, se materializa diante dos olhos. Que o estádio do Corinthians em Itaquera não nos deixe mentir.

PROJETO PLURICLASSISTA 
A candidatura Dilma representa o arco que o lulismo construiu. A ex-ministra, por sua biografia, é talhada para levar adiante um projeto nacional pluriclassista. O fato de ter sido do PDT até pouco tempo atrás não é casual. A mãe do PAC tem uma visão dos setores estratégicos em que a burguesia terá que investir, com o BNDES.
O povo lulista, que deseja distribuição da renda sem radicalização política, já dá sinais de que o alinhamento fechado em 2006 está em vigor. Em duas semanas de propaganda eleitoral na TV, Dilma subiu 9 pontos percentuais e Serra caiu 5. À medida que os mais pobres adquirem a informação de que ela é a candidata de Lula, o perfil do seu eleitorado se aproxima do que foi o de Lula em 2006. Ou seja, o voto em Dilma cresce conforme cai a renda, a escolaridade e a prosperidade regional.
A classe média tradicional, em que pese aprovar o governo, continuará a votar na oposição, como demonstram a dianteira de Serra em Curitiba e o virtual empate em São Paulo, municípios em que o peso numérico das camadas intermediárias é significativo.
Parte delas, sobretudo entre os jovens universitários, deverá optar por Marina Silva. Isso explica por que os que têm renda familiar mensal acima de cinco salários mínimos dão 12 pontos percentuais de vantagem para a soma de Serra e Marina sobre Dilma na pesquisa Datafolha concluída em 3/9.
O problema da oposição é que esse segmento reúne apenas 14% do eleitorado, de acordo com a amostra utilizada pelo Datafolha, enquanto os mais pobres (até dois salários mínimos de renda familiar mensal) são 48% do eleitorado. Nesse segmento, Dilma possui uma diferença de 22 pontos percentuais sobre Serra e Marina somados! Se vier a ganhar no primeiro turno, será graças ao apoio, sobretudo, dos eleitores de baixíssima renda, como ocorreu com Lula na eleição passada.

REALINHAMENTO 
A feição popular da provável vitória de Dilma confirma, assim, a hipótese que sugerimos no ano passado a respeito da novidade que emergiu em 2006. Se estivermos certos, por um bom tempo o PSDB precisará aprender a falar a linguagem do lulismo para ter chances eleitorais. Não se trata de mexicanização, mas de realinhamento, o qual significa menos a vitória reiterada de um mesmo grupo e mais a definição de uma agenda que decorre do vínculo entre certas camadas e partidos ou candidatos.
Quando um governo põe em marcha mecanismos de ascensão social como os que se deram no New Deal, e como estamos a assistir hoje no Brasil, determina o andamento da política por um longo período. Num primeiro momento, trata-se da adesão dos setores beneficiados aos partidos envolvidos na mudança -o Partido Democrata nos EUA, o PT no Brasil.
Com o passar do tempo e as oscilações da conjuntura, os aderentes menos entusiastas podem votar em outro partido, mesmo sem romper o alinhamento inicial. Foi o que aconteceu com as vitórias do republicano Eisenhower (1952 e 1956) e dos democratas Kennedy (1960) e Johnson (1964).
Mas para isso a oposição não pode ser extremada, como bem o percebeu a hábil Marina Silva. Até certa altura da sua campanha, José Serra igualmente trilhou esse caminho. Foi a fase em que propôs cortar juros e duplicar a abrangência do Bolsa Família.
Depois, tragado pela lógica do escândalo, retornou ao caminho udenista da denúncia moral, que só garante os votos de classe média -o que, no Brasil, não ganha eleição. Convém lembrar que no ciclo dominado pelo alinhamento varguista, a UDN só conseguiu vencer com um candidato: Jânio Quadros, que falava a linguagem populista. Fora disso, resta o golpe, sombra da qual estamos livres.

DURAÇÃO 
Qual será a duração do ciclo aberto em 2002, completado em 2006, e, aparentemente, a ser confirmado em 2010? O realinhamento abrange, por definição, um período longo. O último que vivemos, dominado pelo oposicionismo do MDB/PMDB, durou 12 anos (1974-86) e foi sepultado, quem sabe antes do tempo, pelo fracasso em controlar a inflação. A resposta para o atual momento também deve contemplar a economia.
Por isso, as condições de manter, pelo menos, o ritmo de crescimento médio alcançado no segundo mandato de Lula, algo como 4,5% de elevação anual do PIB, estarão no centro das preocupações do novo presidente. Sem ele, as premissas do lulismo ficam ameaçadas. Recados criptografados sobre a necessidade de reduzir a rapidez do crescimento e de fazer um ajuste fiscal duro já apareceram na imprensa, dirigidos a Dilma, provável vencedora.
O capital financeiro -apelidado na mídia de “os mercados”- vai lhe cobrar o tradicional pedágio de quem ainda não “provou” ser confiável. Caso os reclamos de pisar no freio não sejam atendidos, sempre haverá o recurso de o BC -cuja direção deverá continuar com alguém como Henrique Meirelles, senão o próprio- aumentar os juros. O aumento real do salário mínimo no primeiro ano de governo, que dependerá da presidente, pois o PIB ficou estagnado em 2009, será outro teste relevante.

CABO DE GUERRA 
Convém notar que, no segundo mandato de Lula, ainda que de modo relutante, o BC foi obrigado a trabalhar com juros mais baixos. Mas o cabo de guerra será reiniciado no dia 3 de janeiro de 2011. Com os jogadores em posse de um estoque de fichas renovados pela eleição, uns apostarão em uma recuperação do espaço perdido, outros numa aceleração do caminho trilhado no segundo mandato.
O PMDB, elevado à posição de sócio importante da vitória, atribuiu-se, na campanha, o papel de interlocutor com o empresariado. O PT, possivelmente fortalecido por uma bancada maior, deverá, pela lógica, fazer-lhe o contraponto do ângulo popular. A escolha dos presidentes da Câmara e do Senado, em fevereiro, servirá de termômetro para o balanço das respectivas forças.
O futuro do lulismo dependerá de continuar incorporando, com salários melhores, os pobres ao mundo do trabalho formal. Em torno desse ponto é que se darão os principais conflitos e se definirá a extensão do ciclo. Alguns analistas da oposição alertam para a proximidade de um índice de emprego que começará a encarecer a mão de obra e gerar inflação. Como mostra Stiglitz,3 é a conversa habitual dos conservadores para brecar a expansão econômica.
Por fim, não se deve esquecer que uma palavra decisiva sobre esses embates virá de São Bernardo, onde residirá o ex-presidente, bem mais perto da capital do que foi, no passado, São Borja.
Aguardam-se os conselhos de Vargas e Brizola, dos quais poderemos tomar conhecimento naquelas mensagens psicografadas por Elio Gaspari.


Notas
1. Ver André Singer. “Raízes Sociais e Ideológicas do Lulismo”, “Novos Estudos”, 85, nov 2009. Link para o artigo em folha.com/ilustríssima
2. Ver João Sicsú. “Dois Projetos em Disputa”. “Teoria e Debate”, 88, mai/jun 2010.
3. Ver Joseph Stiglitz, “Os Exuberantes Anos 90″, Companhia das Letras, 2003.
Ao constituir, desde o alto, o povo em ator político, o lulismo retoma a combinação de autoridade e proteção aos pobres que Getúlio encarnou
Empurrados pelas circunstâncias, o líder e sua base se encontraram: um presidente que precisava do povo e um povo que identificou nele o propósito de redistribuir a renda sem confronto
Em 2006, pela primeira vez, o andar de baixo tinha fechado com o PT, antes forte na classe média, numa inversão que define o realinhamento iniciado quatro anos antes
A aliança entre a burguesia e o povo, que ninguém mais achava que pudesse funcionar, se materializa diante dos olhos. Que o estádio do Corinthians em Itaquera não nos deixe mentir

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