A reação da Lava Jato à medida provisória sobre acordos com empreiteiras acusadas tem uma peculiaridade: volta-se contra a Lava Jato. E traz dela um reforço, de procedência portanto privilegiada, às críticas ao recurso e à prodigalidade de delações premiadas na Lava Jato, em detrimento de investigações e provas.na Folha de São Paulo
Um ponto foi objeto de maior indignação na Lava Jato. Ao menos em parte, por ter sido retirado da MP antes de sua liberação por Dilma Rousseff. Foi o que exigia "reparação integral" do dano, financeiro ou outro, causado pela empresa. Porta-voz da Lava Jato, o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima mostra-se a respeito, como de hábito, pessoa de certezas absolutas: "Não tenho dúvida de que o objetivo dessas alterações foi facilitar a vida dessas empreiteiras".
A palavra "integral", na lei, se oferecia como uma criadora de caso. Comprovar certas integralidades, para concluir a chamada leniência (a delação premiada em versão para empresas), estaria sempre sujeito à exigência de alguma insignificância insuspeitada, e no entanto capaz de paralisar a retomada do trabalho. Mas, sobretudo, para exigir a reparação de todo o dano basta cobrar, no acordo de leniência, tudo o que seja possível, sem necessidade da palavra "integral" na lei.
Bem, já se sabia que a Lava Jato é mais voltada para palavras do que para atos e fatos. Até em relação aos seus. Pois também se sabe que a Lava Jato não exige dos corrompidos da Petrobras, nas respectivas delações premiadas, a devolução integral do que extorquiram de dinheiro saído da Petrobras. Paulo Roberto Costa, por exemplo, está em sua recém-concluída casa na Costa Verde. O que pôs em nome das filhas lhe foi deixado. E ainda há a possibilidade de dinheiro não revelado.
O conceito do Brasil, compreende-se, é muito baixo na Lava Jato: "É um país de faz de conta", define o procurador Santos Lima. "Fingimos que vamos punir, que vamos fazer a coisa certa, mas realmente não é esse o objetivo". O plural foi um tanto traiçoeiro. "Fingimos que vamos punir", dito por um procurador que articula punições, e com tanta gente mandada para a liberdade pelas delações premiadas, pode parecer aos maldosos uma delação premiada da própria Lava Jato. E, quanto a punir, dizer que "realmente não é esse o objetivo" é um endosso à ideia de que destruir Lula é o objetivo real da Lava Jato.
Mas o procurador dava a visão que os integrantes da Lava Jato têm do Brasil, não da própria força-tarefa. Se bem que não haja como os dissociar. E o que vale para um, ainda que em doses diferentes, vale para a outra. Como se pode constatar dos que recebem penas pelo dano causado à Petrobras, enriquecimento ilícito e lavagem de dinheiro são condenados pelo juiz Sergio Moro a anos e anos de cadeia –e em seguida vão para casa. Em um bairro rico "no país do faz de conta", "que finge que pune", como diz o procurador.
O PODER
Foi a primeira derrota de fato de Eduardo Cunha. Decepcionante. Ou o recesso não lhe fez bem, o que é improvável, ou Eduardo Cunha, o grande faz-tudo das artes brasileiras, está assolado pela decadência. O que fez do dinheiro das evangélicas? E dos prefeitos e cargos públicos que controla pelo país afora? Dos seus seguidores nos fundos, dos seus aliados em tantas empresas com interesses no Estado? Trinta e sete a trinta. Decepcionante.
Mas difícil é crer que o destino da Presidência da República deste país de 200 milhões esteve potencialmente pendurado, como um possível enforcado à espera da decisão do carrasco, da escolha entre um líder e outro de um partido sem compostura, que mal passa de 12% em 513 deputados. Qual é o caráter de um partido a que pertencem os dois extremos que se enfrentaram em oposição de vida e morte? Não por acaso, o seu presidente, Michel Temer, está tão derrotado quanto Eduardo Cunha. Mas não decepciona.
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A reação de Moro e seus comparsas da vaza jato contra acordo de leniência, por Janio de Freitas
Faz de conta
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