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Gilmar Mendes e Arnaldo Jabor x Luis Nassif e Marin Luther King

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- ou Nassif enfrenta Gilmar. Ou torcar Jabor por Luther King -, por Fernando Brito
A atitude do jornalista Luís Nassif de processar o Ministro Gilmar Mendes pelas afirmações de que as atividades do blogs são uma gazua para obter dinheiro do Governo  mereceu aplausos bem mais talentosos que os meus no artigo de Paulo Nogueira, no Diário do Centro do Mundo (Por que Nassif faz bem em processar um ministro do Supremo).
Por isso, prefiro chamar a atenção para duas coisas que vão além do sentimento de honra e de  dignidade do jornalista e se projetam para a esfera pública.
Se houver (e a esperança é a última que morre)- juiz com coragem cívica de aceitar aquilo que seria obvio – a sanção a alguém que, sem provas ou razões usa a toga para acusar alguém de ser “profissional da chantagem, da locupletação financiado por dinheiro público, meu, seu e nosso!”- o país terá avançado um passo imenso na direção de pôr fim à impunidade dos poderosos e dos autoritários.
Poderoso é adjetivo que a condição de julgador final de tudo, até da legitimidade do voto popular, dispensa justificativas no caso de Mendes.
Autoritário é característica que nada melhor que a frase do seu ex-par Joaquim Barbosa define: “Vossa excelência está na mídia, destruindo a credibilidade do Judiciário brasileiro…Vossa excelência quando se dirige a mim não está falando com os seus capangas do Mato Grosso”.
O que menos importa é que Gilmar acabasse por ser a inspiração de Barbosa. Vale o fato de que até alguém com poder semelhante tenha sido tratado  assim por ele, para avaliar o que faz Mendes com quem não tem tribuna igual para questioná-lo.
Gilmar Mendes é a negação da discrição e do decoro  indispensáveis a quem tem tão altas funções judiciais, como acabou por ser seu ex adverso nesta cena.
A segunda advertência é a de que não se pode transformar a vida nacional num “vale tudo” sem, ao mesmo tempo, transformar o país numa ditadura do Judiciário – cuja natureza sociológica é necessariamente conservadora e elitista, porque juiz não apenas tem sua mente formada na manutenção do status-quo como, pela condição de abastança num país de miseráveis, vive num mundo onde o vício da desigualdade é visto como virtude do mérito.
Que o diga o aferramento, cheio de justificativas insanas  como a do comprar ternos em Miami, que demonstra a acumular privilégios que a ninguém é dado, mesmo com o argumento de que “passou num concurso” ou “trabalha muito”. A função pública não é um título de nobreza, que nos obrigue a, diante dela avassalarmo-nos como na Idade Média, não importa se ao “sangue azul” tenha se substituído o concurso público.
Fica, do gesto de Nassif, o exemplo de que poderia ter se socorrido a Ministra Carmen Lúcia, em lugar de apregoar, como Arnaldo Jabor, que os homens de bem deveriam ter a ousadia dos canalhas, como se este fosse um conselho e não uma amarga constatação de Nélson Rodrigues.
Fica outra frase, muito mais edificante, para todos, a de Martin Luther King:
“O que me preocupa não é nem o grito dos corruptos, dos violentos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética… O que me preocupa é o silêncio dos bons”.
Nos tempos da ditadura militar, havia um chiste para responder-se a um “o que você acha?”. Era: “eu não acho nada, porque o último que achou ainda não acharam.
De silêncio em silêncio, chega-se ao dia em que nada mais se pode falar.
no Tijolaço




Paulo Nogueira: Parabéns Nassif

Porque Luis Nassif fem bem em processar um ministro do Supremo
Luís Nassif merece aplausos por processar Gilmar Mendes.

Sem citar seu nome, um gesto que revela maldade e covardia simultaneamente, GM caluniou Nassif em sua linguagem pomposa, solene e ridícula.

Não vale a pena reproduzir aqui os insultos de GM.

Basta dizer que Nassif fez o que deve fazer.

Você pode dizer: “Perda de tempo e de dinheiro. Ninguém é mais blindado que Gilmar na Justiça.”

Não faz mal.

O importante, no caso, é que Nassif lute pelo que é justo.

Citei algumas vezes, recentemente, o alemão Rudolf von Ihering, um jurista inovador do século 19.

Ihering demonstrou que a justiça não é algo estático e imobilizado. Ela é um organismo vivo, e só se modifica mediante a luta dos que buscam o seu direito.

Segundo a tese sábia de Ihering, você não tem apenas o direito de buscar justiça quando é injustiçado, como foi o caso de Nassif diante de GM.

Tem a obrigação, perante a sociedade.

Ainda que tudo termine bem para o ofensor, ele vai ser exposto e terá dor de cabeça.

É presumível que, se não agora, com o correr do tempo insultos como os proferidos por GM não mais serão tolerados pela justiça que hoje o protege.

Daí o dever.

Lula tem feito o que Ihering recomenda, e isso é inspirador. Em vez de simplesmente engolir calúnias, passou a acionar a justiça.

O caminho é pedregoso.

Recentemente, um juiz decretou que a calúnia proferida por Danilo Gentili sobre o atentado ao Instituto Lula era uma piada.

Wellington poderia dizer ao juiz: quem acredita nisso acredita em tudo.

Mesmo assim, mesmo protegido, dificilmente Gentili voltará a fazer piadas daquele gênero, nem com Lula e nem com ninguém.

É a sociedade que ganha.

Falta Dilma se movimentar. Ela tem uma excelente oportunidade agora com o depoimento de Youssef.

Na véspera da eleição, a Veja afirmou terminantemente, numa capa criminosa, que Youssef dissera que Dilma e Lula sabiam de tudo no chamado Petrolão.

Agora, essa farsa foi espetacularmente desmascarada na CPI da Petrobras, em que Youssef foi ouvido.

Youssef não afirmou nada. Disse que não pode afirmar se Dilma e Lula sabiam de alguma coisa. Declarou que jamais conversou com Lula sobre o assunto.

Foi tudo, vê-se, uma mentira monstruosa da Veja.

Se o golpe desse certo, Aécio ganharia e a Veja nunca seria cobrada. Ao contrário, com certeza receberia de Aécio dezenas de milhões em dinheiro público.

Dilma tem a obrigação, perante a sociedade, de processar a Veja. Basta comparar o conteúdo fictício da capa da eleição com a realidade crua das declarações de Youssef.

Os tribunais não vão mudar na inércia, mas sob pressão dos injustiçados.

No texto em que Nassif anunciou o processo, disse que ia testar a tese de que agora ninguém mais é favorecido.

Vejo as coisas sob outro ângulo.

O que ele vai fazer é ajudar a tornar realidade uma coisa – a igualdade perante a justiça – que hoje infelizmente não existe no Brasil.
no Diário do Centro do Mundo