Scott Walker lançou, no mês passado, o disco "Bish Bosch", terceiro de uma série que define sua fase mais madura: arranjos sombrios e vocal de ópera
Em sua carreira solo, trabalho do músico assume postura mais densa: vanguarda disfarçada de pop music
Basta um giro pela trajetória de Scott Walker para compreender a reverência que sua música inspira em jovens compositores. Em quase meio século de carreira, o cantor estadunidense foi de ídolo teen a trovador autoral.
Seus hits com os Walker Brothers, mais conhecidamente "The Sun Ain´t Gonna Shine Anymore" (originalmente gravada por Frankie Valli e que ganhou versões por Cher e Keane), e seus primeiros trabalhos solos são marcos do pop dos anos 60 relembrados até hoje em estações de rádio saudosistas; os discos vanguardistas de sua fase madura vão do grotesco ao agonizante, trilhando uma tênue linha de poesia explorada em letras e arranjos viscerais que ecoam o lirismo das óperas de Alban Berg.
É como se desde o fim dos Walker Brothers, em 1978, o barítono de Scott se transformasse em um quase tenor, rompendo a estratosfera pop, e indo parar em um mundo sideral no qual a física de hits não se aplica, mas as raízes de seu canto permanecem intactas. Escutá-lo flutuar por esse infinito de matéria negra é apreciar um raro artista popular que não perdeu uma fagulha sequer de sua chama criativa ao longo dos anos.