Mostrando postagens com marcador Luís Carlos Valois. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Luís Carlos Valois. Mostrar todas as postagens

Carta de um Juiz para Lula


Carta ao Presidente Luis Inácio Lula da Silva
de Luís Carlos Valois, Juiz federal de execuções penais do Estado do Amazonas
Lula, meu caro, faz tempo que estou querendo te escrever. Esse pessoal do meio carcerário tem uma espécie de tara por proibir as coisas, então não sabia se minha carta ia chegar a ti, já que muita gente importante sequer conseguiu entrar para trocar umas palavras contigo, razão pela qual resolvi escrever por intermédio da internet mesmo, um dia tu vais ler.
Cara, eu sei que tu não és santo, nem eu sou, nem ninguém é, então todos nós temos um monte de culpa por aí, mas o crime que tu cometeste realmente ninguém sabe até agora qual foi. Bem, você sabe disso, você já disse que aceitaria a pena tranquilamente se te mostrassem provas de um crime, só estou repetindo porque a carta será publicada e porque quero ressaltar uma coisa.
Hoje em dia com tanta culpa por aí, já nem precisa de crime para se condenar uma pessoa, basta querer condenar alguém que todo mundo já acha esse alguém culpado. É como um juiz me falou certa vez, que ele não sabia porque estava condenando o cidadão, mas o cidadão sabia porque estava sendo condenado. É mais ou menos assim que estamos vivendo, e é cada um por si.
No teu caso, um recibo de pedágio, a tua visita a um apartamento, mais dois ou três presos dedos-duros loucos para ganhar a liberdade, e pronto, está formada a prova necessária para a tua condenação, mesmo que ninguém diga onde está o teu dinheiro, onde está o benefício que tu tiveste nisso tudo, ninguém diz. E ninguém quer saber.
Xará (acabei de me tocar para o fato que temos o mesmo nome…rs…), a coisa tá difícil. Não quero entrar aqui na questão política, se fizeram tudo para te tirar da eleição, se têm ódio de ti porque és nordestino, um nordestino que teria chegado onde incomoda muita gente, e feito outros tantos nordestinos incomodarem mais gente por chegarem onde chegaram, não quero falar dessas questões políticas, quero conversar contigo sobre a tua situação atual.
Tenho trabalhado com presos a vida inteira e sei o quanto é difícil, principalmente em situação de isolamento, o encarceramento. Eu queria inclusive, com esta carta, te mandar uns livros, mas também não sei se chegariam até ti, são meios subversivos, acho que tu tens que ler algumas coisas subversivas, sabe? Tu tens que conhecer o sistema a fundo para entender a tua própria situação de encarcerado.
Um dia Nilo Batista disse que todo preso é um preso político. Pena que a maioria dos presos não sabe disso. O sistema, nele incluído o sistema penal, tem uma função primordial em fazer todos acreditarem, inclusive os próprios presos, que tudo funciona na mais perfeita ordem e, se tu estás preso, é porque devias estar preso.

Juizite e procuradozite, síndromes morofologicamente semelhantes

***
 Juizite, síndrome causadora de uma certa sensação de elevação no paciente, que passa a pensar não estar pisando no chão, sendo este apenas um dos sintomas entre muitos outros relacionados à perda do contato com a realidade. A percepção dos primeiros sinais da síndrome é importantíssima, vez que, no estágio probatório, o paciente ainda sente um certo medo, que se manifesta de maneira geral, especialmente com traços de submissão. Se não tratada no início, a síndrome tende a se agravar, principalmente em ambientes privados, fechados para o público, ocasião em que a doença passa por uma fase de incubação e proliferação das células responsáveis. Nos casos mais graves, a internação nunca é recomendada, podendo levar à perda total das capacidades visual e auditiva, como o paciente ficando impossibilitado de ver ou ouvir outras pessoas. A anamnese torna-se impossível, portanto, em casos de maior gravidade. Embora o histórico demonstre que a patologia não é hereditária, a possibilidade de contágio não é pequena. Muito pelo contrário, pesquisas em macacos demonstram que a juizite se transmite na percepção dos gestos e atitudes entre os pacientes. A cura ainda não foi descoberta também, mas experiências recentes têm sido bem-sucedidas, com pacientes submetidos a leituras intensas sobre história, ciência política, sociologia, entre outros textos, acompanhados de uma viagem de ônibus ou uma visita à penitenciária. Terminantemente proibido textos de direito. Cientistas tentam criar um composto de humildade e empatia, mas a falta de matéria prima tem dificultado os testes.Terapias de grupo são recomendadas, ao ar livre, desde que não se coloque nunca mais de um paciente em cada grupo. Doenças como promotorzite, defensorite, pocuradozite, delegazite etc são da mesma espécie, morofologicamente semelhantes, mas com possibilidade de danos diversos.