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Trânsito

Espaços urbanos são para atender - prioritariamente - o interesse coletivo, não o particular


O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, toma a segunda medida importante para garantir a melhoria do trânsito – e da vida – na cidade. A primeira foi ampliar e fiscalizar o uso de corredores exclusivos de ônibus, medida iniciada por Marta Suplicy e descontinuada por Serra e Kassab. A segunda, eliminar cerca de quarenta mil estacionamentos de automóveis nas vias, para garantir espaço para ciclovias.
 
Sem precisar entrar em detalhes em relação ao problema, que é do conhecimento de todos, temos convicção em afirmar que a política a ser adotada, para melhorar o trânsito e a vida das pessoas em São Paulo, é a de restringir a circulação de automóveis particulares e - no curto, médio e longo prazo - investir em infraestrutura e legislação que priorize o transporte público. Essa restrição não é temporária, mas um caminho sem volta, em cidades como São Paulo. Fugir disso é querer aumentar o problema.
 
Os milhões de carros particulares que circulam diariamente em São Paulo se apropriam de grande parte dos espaços viários e urbanos, muitas vezes com apenas uma pessoa no seu interior. Enquanto isso, milhões de pessoas, nos transportes coletivos, são espremidas nos reduzidos espaços deixados por aqueles.
 
As tentativas de soluções, implantadas nos últimos quarenta anos, como viadutos, mergulhões, elevados e estacionamentos subterrâneos só fazem sentido se dentro de uma política de restrição ao automóvel e favorecimento dos ônibus, táxis, caminhões, motos, bicicletas e pedestres. Fora dessa política, é dinheiro jogado fora, já que a principal causa do problema não é atacada de frente. Quanto mais automóvel em circulação, mais congestionamento, mais obras para permitir a maior circulação de automóveis, mais automóveis em circulação. Esse é o ciclo vicioso que precisa ser quebrado, já que é finita e bastante limitada a capacidade de alocação de recursos pelo poder público.
 
Quais as principais ações, em nossa opinião e de muitos especialistas, a serem desenvolvidas pela Prefeitura e pelo Governo do Estado de São Paulo, tendo como referência o que foi realizado em grandes cidades, como Londres e Paris?
 
- Implantação do pedágio urbano, com a aplicação dessa receita na conclusão dos corredores de ônibus, ciclovias e melhoria das condições para o pedestre
 
- Completar a implantação de corredores exclusivos de ônibus
 
- Elevar as tarifas de estacionamento nas áreas centrais e redução das áreas disponíveis
 
- Ampliar a capacidade da malha física e as operações ferroviárias (trens e metrô)
 
- Implantar malhas de ciclovias e projetos semelhantes ao que existe no Rio e no DF, com a disponibilização de milhares de bicicletas para circulação nas áreas centrais
 
- Ampliar as restrições via rodízio, até a completa implantação do pedágio urbano
 
- Aumentar o rigor na fiscalização e retirar veículos irregulares de circulação
 
- Racionalizar a circulação e os horários de carga e descarga dos caminhões, lembrando sempre que eles são vitais para o funcionamento da cidade
 
- Concluir todo o anel rodoviário de São Paulo, já que uma grande quantidade de veículos tem origem e destino fora da cidade e que não há motivo para circular pelas suas ruas e avenidas
 
As medidas restritivas causarão algum incômodo inicial, especialmente naqueles que acabaram de ascender ao privilegiado círculo dos proprietários de automóveis. No entanto, como elas serão eficazes, não só melhorará muito o transporte público como essas pessoas poderão utilizar seu carro em inúmeras situações, regiões, dias e horários não atingidos pelas restrições e ter a sua mobilidade e conforto em grande parte atendida.
 
O principal: a vida melhorará para todos e a indústria automobilística poderá continuar seu atual nível de produção, sem levar a parcela de culpa que tentam, erroneamente, lhe imputar.
 
Há um entendimento – equivocado - de que primeiro os governos têm que providenciar transporte de massa para, só então, restringir a circulação de veículos particulares. É uma proposta bonita, mas inviável no médio prazo, por ser muito caro e demorado para viabilizar.
 
 
Em cidades como Londres, que têm extensa malha metroferroviária, muito pouca gente deixava o automóvel em casa para usar o transporte coletivo. Somente a restrição aos carros particulares poderia garantir mais espaço para o coletivo. O pedágio urbano e a restrição de estacionamento, em áreas de muito trânsito, foi o que resolveu.
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José Augusto Valente é especialista em Transportes e Logística.
 
Para ler mais de José, clique aqui.

by Augusto Valente - Carta Maior

Pedalando pelas estradas da vida


Era uma dessas bicicletas com dois assentos e minha companheira ia no banco de trás me ajudando a pedalar. Não me lembro bem de quando foi que ela sugeriu que mudássemos de lugar mas, desde então, minha vida não foi mais a mesma.

Enquanto eu estava no controle, eu sabia o caminho. Era bastante chato, mas era sempre a previsível menor distância entre dois pontos. Mas quando ela tomou a iniciativa, ela passou por incríveis descidas, por vales, por cima de altas montanhas e por lugares rochosos em perigosa velocidade.

Embora parecesse loucura, ela disse, - Pedale!

Eu estava preocupado e ansioso e perguntei, - Para onde você está me levando? Ela riu e não respondeu, e eu comecei a aprender a confiar. Me esqueci de minha vidinha chata e embarquei na aventura. E quando eu dizia, - Estou com medo.

Ela apenas tocava em minha mão. Eu conquistei amor, paz, aceitação e alegria; presentes recebidos em nossa jornada. E lá íamos nós. Ela disse, - Doe estes presentes. São bagagem extra, peso demais.

Então eu fiz isto, dei os presentes para as pessoas que encontramos, e acho que ao dar eu recebi. Mas nossa carga estava mais leve. Eu não confiei à ela, logo de cara, o controle de minha vida. Eu achava que me arruinaria; mas ela conhece bem os segredos da bicicleta, sabe como fazer cada curva, sabe como evitar as pedras altas, sabe como saltar para encurtar as passagens assustadoras.

Estou aprendendo a pedalar por lugares que me eram estranhos e estou começando a apreciar a vista e a brisa fresca em meu rosto, sempre com minha companheira Lú.

E quando eu estou certo de que não posso fazer mais, ela apenas sorri e diz: Pedale.


Transporte: Bicicleta é prioridade só para ambientalista ver

A cada aumento de estoque de automóveis, a CUT, o Governo Federal e a Indústria Automobilística se juntam para pedir a redução dos impostos e vender mais. Nos encontros internacionais, reclamam que os engarrafamentos são insuportáveis nas grandes cidades em função da qualidade de automóveis circulando, que cresce a cada mês.
       
Mas não se lembram de estimular, com as mesmas reduções de impostos, as Bicicletas. Uma loja quando vende uma Bicicleta, no preço estão embutidos 23% de substituição tributária do ICMS e 15% de IPI, ou 40% na origem.

E quando surgem problemas de acidentes de trânsito, as bicicletas passam a ser culpadas. No Diário Oficial do Estado de SP (12), saiu a seguinte matéria de capa: 



“Mais Ciclistas, Mais Acidentes”, o jornal afirma que a cada dia, nove ciclistas são internados em hospitais públicos do estado, vítimas do trânsito, e pelo menos um deles morre. A matéria vai contra as várias ações do governo para estimular o uso das bicicletas como meio de transporte na capital.
Cesar Maia