Soa como piada, embora das mais graves, o discurso sobre a inflação que vem sendo reforçado na imprensa nos últimos dias. Reportagens, editoriais e artigos pedem nada mais nada menos do que a volta da ortodoxia. A alienação é enorme.
A justificativa é o suposto descontrole dos preços. Mas essa tese não para em pé. Para começar, a inflação em 2012 ficou dentro da meta do governo e até abaixo do índice de 2011. Veja aqui nota sobre esse ponto.
Parte da grande imprensa vem pregando até mesmo o aumento dos juros (os mesmos juros que causavam indignação quando estavam altos!), junto com a redução do crédito e dos programas sociais. Basta ver a Folha de S.Paulo de ontem e o Estado de S. Paulo de ontem e de hoje.
Ora, essa receita de cortes fracassou em todo o mundo. Cada vez mais o Estado garante a retomada do crescimento e o saneamento das economias. Basta acompanhar o que está acontecendo no Japão e nos Estados Unidos – tudo para retomar o crescimento, particularmente o emprego.
No Japão, o primeiro-ministro Shinzo Abe diz que o banco central do país deve definir uma meta de inflação de 2%, o dobro da atual, e torná-la um objetivo de médio prazo, e não de longo prazo. Isso depois de o Japão ter aprovado um pacote de gastos públicos no valor de US$ 117 bilhões.
Nos Estados Unidos, a questão é como evitar um corte de gastos que leve à recessão mesmo com a dívida batendo o teto de US$ 16,4 trilhões. Os EUA também recentemente atrelaram os juros ao desempenho no mercado de trabalho.
Portanto, parece realmente piada que, no Brasil, toda a grande mídia entoe esse discurso que, no fundo, caminha para caracterizar o governo Dilma como autoritário.
O editorial de ontem do Estadão chega ao absurdo de dizer que o governo maquia o índice de preços por meio, por exemplo, da redução na conta de luz. O editorial caminha na direção de comparar nosso governo com o da Argentina no que se refere à manipulação dos índices de inflação. A linguagem é a mesma, e as acusações idem. É uma mentira daquelas.
No fundo, querem radicalizar a vida política do país e caminham para a provocação pura e simples para ver como o governo reage.
Zé Dirceu